O amor pelo Brasil do "Picasso da China"

Documentário “Da Cor e da Tinta” abre programação da Itinerância da 47ª Mostra de Cinema SP

Obra narra história do pintor chinês Chang Dai-chien, que morou 20 anos em Mogi das Cruzes

Aline Guevara/ [email protected]
22/11/2023 às 10:06.
Atualizado em 22/11/2023 às 10:40
"Da Cor e da Tinta" será exibido nesta quarta-feira, às 19h, no Sesc Campinas (Divulgação)

"Da Cor e da Tinta" será exibido nesta quarta-feira, às 19h, no Sesc Campinas (Divulgação)

O artista chinês mais importante do século XX, chamado de "Picasso da China", viveu quase 20 anos no interior de São Paulo e pouco se sabe sobre ele por aqui. A vida de Chang Dai-chien fora de seu país natal, inclusive seu período vivendo na cidade de Mogi das Cruzes, é narrada no documentário "Da Cor e da Tinta", que será exibido nesta quarta-feira, 22, às 19h, na abertura da Itinerância da 47ª Mostra Internacional de Cinema de SP. A programação percorre várias unidades do Sesc e segue até 20 de dezembro, reunindo seis filmes do festival que aconteceu entre outubro e novembro na cidade de São Paulo - em uma seleção definida pela curadoria do evento. Todos os filmes têm sessão com início às 19h, no Sesc Campinas, com ingressos com valor máximo de R$ 10,00.

A diretora Weimin Zhang começa o documentário narrando sua experiência nas descobertas de registros do artista na Califórnia, nos EUA, um dos muitos destinos por onde ele passou nas décadas que esteve afastado do território chinês desde que o deixou em 1949. Desta visão bastante pessoal e gentil da cineasta para a figura de Chang Dai-chien, o filme de 1h40 de duração tenta desvendar o que foi a vida do pintor que escolheu o Ocidente, mas estava profundamente vinculado a uma China antiga e tradicional, ainda muito presente na sua infância crescendo no interior do país.

VIDA EM MOGI DAS CRUZES

Chang escolheu Mogi das Cruzes como casa em 1954, um dos motivos foi a semelhança da região com a sua terra natal. Um ano depois comprou um imenso terreno na cidade e ali ficou até 1973. Foi lá que encontrou tranquilidade e construiu o grandioso Jardim das Oito Virtudes, espaço inspirado nos jardins orientais e nas pinturas de paisagens que eram tão comuns na obra de Chang. Infelizmente não é possível visitar o espaço, pois hoje ele está debaixo d'água. "No final dos anos 1960, começo dos 1970, o governo do Estado de São Paulo resolveu fazer uma represa de água para abastecimento da capital e da Grande São Paulo que iria inundar a sua propriedade. Aquele jardim era o trabalho da vida dele, onde investiu muito tempo e dinheiro. Ele ficou desgostoso com a situação e resolveu deixar o Brasil", explica o jornalista Guilherme Gorgulho, um dos maiores pesquisadores do pintor e que atualmente trabalha em uma tese de doutorado na Unicamp sobre o intercâmbio cultural entre Brasil e China que existiu por causa do artista.

O documentário compreende a importância que o Brasil teve na vida e na obra de Chang. Alguns moradores antigos de Mogi das Cruzes foram entrevistados e lembram como era o Jardim das Oito Virtudes: "Aquele lugar era muito bonito, um paraíso na Terra. Todo mundo tinha que conhecer", descreve um deles. Guilherme também é produtor e consultor do documentário. Ele se dedica ao tema desde 1999 e ao cruzar o caminho da diretora Weimin Zhang, foi convidado para fazer parte do projeto. "A sensação, às vezes, é que estamos falando da história dele para o vazio, porque falta interesse do poder público, das pessoas, de saberem sobre esse personagem tão único [...]Mas o filme mostra que a gente tem encontrado uma certa ressonância, ampliando esse trabalho para levá-lo para mais pessoas", compartilha Guilherme. Foi ele quem subiu ao palco para receber a estatueta do Prêmio do Público de Documentário Internacional que o filme venceu na premiação da Mostra SP.

Chang tem sido muito valorizado no mercado de leilões de arte dos últimos anos, chegando a superar Picasso (que ele chegou a conhecer), Van Gogh e Andy Warhol. Guilherme localizou uma das obras de Chang no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco registrada como de autoria desconhecida. O quadro "Paisagens Suíças" foi pintado em seu sítio em 1966 e está avaliado em US$ 800 mil, o equivalente a cerca de R$ 4 milhões. "Estava lá na reserva técnica do museu pegando poeira. Hoje é o quadro mais valioso da coleção do museu. Este tipo de episódio mostra muito esse esquecimento e como é importante a gente resgatar a sua história", destaca o jornalista. Guilherme estará presente nesta quarta-feira na exibição do filme no Sesc Campinas para um bate-papo com o público ao fim da sessão.

MAIS DESTAQUES NA MOSTRA SESC

Não só "Da Cor e da Tinta" se destaca na programação da Itinerância da 47ª Mostra Internacional de Cinema de SP. "La Chimera", filme da diretora italiana Alice Rohrwacher com a brasileira Carol Duarte no elenco, também integra a seleção. Ele teve sua estreia mundial no Festival de Cannes 2023 e venceu a mostra paulistana com o Prêmio do Público de Melhor Longa de Ficção Estrangeiro. Já "Samsara - A Jornada da Alma", do cineasta espanhol Lois Patiño, levou o Prêmio Especial do Júri da seção Encontros do Festival de Berlim.

PROGRAMAÇÃO

ITINERÂNCIA SESC 47ª MOSTRA SP

- 22/11, às 19h - "Da Cor e Da Tinta"

- 28/11, às 19h - "Não sou Nada"

- 05/12, às 19h - "Como Você Se Atreve a Desejar Algo Tão Terrível"

- 12/12, às 19h - "La Chimera"

- 19/12, às 19h - "Samsara - A Jornada da Alma"

- 20/12, às 19h - "Puan" 

PROGRAME-SE

Itinerância da 47ª Mostra Internacional de Cinema de SP

Quando: terças e quartas, 22/11, 28/11, 5/12, 12/12, 19/12 e 20/12, sempre às 19h

Onde: Sesc Campinas - R. Dom José I, 270/333, Bonfim

Ingressos: R$ 5,00 (meia e credencial plena) e R$ 10,00 (inteira)

Informações: 3737-1500 e Instagram @sescspcampinas

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