“Jolumá Britto: A Voz de Campinas”, documentário sobre o memorialista e jornalista campineiro, faz sua estreia com exibições no CCLA e CEUs
O curta-documentário (com 28 minutos de duração) desbrava muitos dos registros deixados por Jolumá (Divulgação)
Jolumá Britto viveu em uma Campinas em plena transformação e seus registros da história da cidade formaram um acervo importante da memória local ao longo do século XX. O documentário "Jolumá Britto: A Voz de Campinas" relata a trajetória do memorialista e jornalista, assim como analisa o seu papel neste registro popular. O filme será exibido pela primeira vez nesta quarta-feira, 29, às 19h30, no Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), com entrada gratuita. O curta-metragem faz ainda sessões no CEU Florence na quinta-feira, 30, e no CEU Vila Esperança na sexta-feira, 1, onde também ocorrerão oficinas de introdução à produção cinematográfica.
João Baptista de Mello Britto Sá, ou Jolumá Britto, como ficou conhecido, não tem Campinas como terra natal. Ele nasceu em Espírito Santo do Pinhal em 1905, mas veio ainda jovem para a Cidade das Andorinhas e aqui construiu a sua vida. "Ele amava Campinas e pode-se dizer que Campinas amava o Jolumá. Durante quase cinco décadas, ele teve uma presença marcante na vida da cidade. Autodidata e polivalente, foi radialista pioneiro nas transmissões esportivas, poeta, ator de radionovela, comediógrafo, colecionador, incentivador do futebol local, cronista, comentador e historiador da cidade. Tudo isso junto com seu emprego como tabelião de cartório no 2º Registro de Imóveis de Campinas", cita o diretor Flávio Carnielli, que além de cineasta é mestre em História pela Unicamp.
O curta-documentário (com 28 minutos de duração) desbrava muitos dos registros deixados por Jolumá. Ele escreveu 26 livros sobre Campinas a partir de seu olhar como testemunha ocular na cidade e foi um dos responsáveis por popularizar uma identidade campineira. "Só na Unicamp existem mais de 12,5 mil arquivos dele, entre registros que ele fazia, da história que ele apurava. O meu avô era caminhoneiro e tinha um livro do Jolumá, sobre a história de Campinas, em casa. Ele era muito popular e acessível. Mas hoje há um grande desconhecimento por parte das pessoas de quem foi o Jolumá", informa Flávio.
Ruth Bavoso de Sá, filha de Jolumá e uma das entrevistadas do documentário, contou alguns detalhes sobre o homenageado. "Meu pai fazia de tudo na rádio. Só não limpava o chão ... De resto, era tudo" e “A mamãe dizia que o papai era mais conhecido do que lata de sardinha" são algumas das frases dela.
ILUSTRE AGITADOR CULTURAL
Segundo João Miguel Teixeira de Godoy, professor de História da PUC-Campinas, a importância de Jolumá é entendida não apenas pelo que ele realizou, mas também pelo que representou. "Ele foi um tipo de agitador cultural da cidade durante grande parte do século XX e realizou uma obra de referência sobre a história de Campinas. É uma obra passível de críticas, como qualquer trabalho na área de História, mas que contribuiu para a preservação de fontes documentais e a fixação de uma certa imagem e representação do passado da cidade. O Jolumá representou, junto com outros, esse grupo de intelectuais municipais impactados pelo acelerado processo de transformação de Campinas, sobretudo a partir dos anos de 1940. A resposta a esse impacto gerou um tipo de 'sistema historiográfico' denominado memorialismo urbano", explica o acadêmico.
É por isso que Jolumá é mais conhecido pelo termo memorialista, ao invés de historiador, pois seus registros não possuem um rigor técnico. "No final de sua vida, Jolumá Brito foi pouco a pouco perdendo espaço nos veículos de comunicação da cidade, mas foi também deslegitimado com a criação dos cursos de História nas universidades locais e faleceu em relativo silêncio", conta o cineasta, que diz ter percebido essa desvalorização do trabalho de Jolumá por parte do meio acadêmico. "Com o passar dos anos o seu nome foi apagado da historiografia e da memória local". O documentário foi uma maneira de Flávio reunir e divulgar o que restou da memória do personagem.
"Jolumá Britto: A Voz de Campinas" tem o apoio do FICC (Fundo de Investimentos Culturais de Campinas). Além de Flávio, o filme conta com Helen Quintans na direção de fotografia e arte, Guga Lourenço na direção de som e mixagem, Gabriel Justo na animação e finalização e Reginaldo Menegazzo na produção executiva. Quase todos os entrevistados para o curta foram filmados nas dependências do CCLA. "Por isso fazer a estreia lá é especial. Agradeço muito ao CCLA, ao Museu de Imagem e Som e ao Centro de Memória, que me ajudaram a fazer o filme", finaliza o diretor.
OFICINAS DE CINEMA
As oficinas ministradas por Flávio Carnielli são abertas e gratuitas, e acontecem nesta quinta e sexta-feira, no CEU Florence e no CEU Vila Esperança, respectivamente. Nas aulas, que começam às 14h e terminam às 16h, o cineasta abordará de maneira introdutória o passo a passo da produção de curta-metragem, desde a pré-produção, captação, finalização e divulgação. O objetivo da oficina é mostrar que o cinema é acessível e uma possibilidade para quem se interessa por ele.
PROGRAME-SE
Estreia do curta "Jolumá Britto: A Voz de Campinas"
Quando: quarta-feira, 29/11, às 19h30
Onde: Centro de Ciências, Letras e Artes - R. Bernardino de Campos, 989, Centro
Sessão do filme + Oficina de Introdução Cinema
Quando: quinta, 30/11, e sexta-feira, 1/12, às 9h (a sessão) e das 14h às 16h (oficina)
Onde: CEU Mestre Alceu - R. Lasar Segal, 110, Jardim Florence; e CEU Thaís Fernanda Ribeiro - R. Demerval da S Pereira, s/nº - Lot. Vila Esperança
Entrada gratuita