Paixão e resistência

Dia Nacional do Teatro: companhias revelam sobrevivência no pós-pandemia graças aos editais

Também reafirmam compromissos com a formação de novos públicos; só o Castro Mendes registrou aumento de 25,9%

Cibele Vieira/ [email protected]
19/09/2023 às 10:04.
Atualizado em 19/09/2023 às 10:04
Apresentação de peça teatral da Sia Santa: formar novas plateias é uma das missões das companhias de teatro, que precisam de incentivos para perpetuar a arte da interpretação (Pedro França)

Apresentação de peça teatral da Sia Santa: formar novas plateias é uma das missões das companhias de teatro, que precisam de incentivos para perpetuar a arte da interpretação (Pedro França)

Em homenagem a uma das mais antigas manifestações artísticas da humanidade, o Brasil tem o seu Dia Nacional do Teatro instituído em 19 de setembro. Mas o País ainda se ressente de uma política cultural que torne essa arte mais próxima da população em geral, com preços mais acessíveis e mais locais de apresentação. "A carência de salas de teatro é imensa no Brasil", concorda Crispim Junior, da Sia Santa, uma das companhias mais antigas de Campinas, que celebra seus 50 anos em 2023. Ele acredita que a cidade tem cerca de 50 grupos teatrais, mas muitos não conseguiram sobreviver à pandemia. 

Ironizando que "o teatro está em crise desde a Grécia, mas sobrevive", o produtor Crispim Junior salienta que "a missão da Sia Santa é formar plateias". Por isso a companhia mantém o programa “A Escola Vai Ao Teatro’' - atendendo em sua sede escolas de Campinas e região - e excursiona pelo interior dos estados de São Paulo, Goiás, Paraná e Mato Grosso com o projeto "A Árvore da Vida", aprovado pela Lei Rouanet. "Os pequenos teatros poderiam ser equiparados aos templos, com imunidade tributária. Afinal são templos de cultura e as cidades que isentam o IPTU dos teatros fomentam o setor cultural", defende. Ele comenta ainda, com tristeza, que tem visto poucos espaços novos serem criados, mas observa muitos sendo desativados, "com honrosas exceções".

A necessidade de formar novos públicos também é uma preocupação da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, como conta o coordenador departamental de teatros e auditórios (Cotea), Ricardo Pereira da Silva. Ele trabalha nesse segmento há 25 anos e há 16 no cargo de coordenador, e relata que descentralizar os espetáculos para a periferia da cidade e trazer escolas públicas para as salas de teatro são ações que vêm sendo incentivadas como forma de tornar a cultura mais acessível e inclusiva. Ele confirma que após a pandemia se observa um movimento crescente de produção e também de público em busca dos espetáculos. 

No primeiro semestre de 2022 (de janeiro a agosto), por exemplo, foram realizados 89 espetáculos no Teatro Castro Mendes, com público total de 27.577 pessoas e uma média de 34,55% de ocupação. Já em 2023, no mesmo período e local, Ricardo relata que ocorreram 83 apresentações que foram assistidas por 34.723 pessoas, com uma taxa de ocupação de 55,04%. O público aumentou 25,9%. As salas de teatro municipais públicos de Campinas são o Teatro Castro Mendes (772 lugares), o Espaço Cultural Maria Monteiro (176 lugares) e o Carlito Maia, no Bosque dos Jequitibás (160 lugares) que retoma sua programação em outubro. Mas há casas de culturais como o Casarão, os CEUs Florence e Esperança, e a Sala dos Toninhos, na Estação Cultura, com entrada gratuita na maioria das apresentações.

Ricardo Pucetti, ator do Lume Teatro - um misto de centro de pesquisa e companhia teatral criado em 1985 ligado à Unicamp - veio para Campinas há 40 anos para cursar teatro no Conservatório Carlos Gomes. Ele conta que o lado cultural muito forte na cidade na década de 1980, com vários grupos profissionais e amadores que mantinham a área em efervescência do teatro, com muitos espetáculos e dois bons teatros (Castro Mendes e Centro de Convivência). Hoje, ele entende que a cidade "carece de uma política cultural que reforce e valorize projetos de grupos locais, como o Feverestival, além do incentivo a novos intercâmbios e a manutenção de espaços descentralizados. Falta um olhar mais completo".

Uma iniciativa no sentido de movimentar o segmento e tornar os espetáculos mais acessíveis é o Feverestival - Festival Internacional de Teatro de Campinas - um dos maiores eventos teatrais do interior do Estado de São Paulo, criado em 2003 sob a organização de artistas independentes e coletivos teatrais locais. O evento cresceu e já trouxe mais de 200 apresentações inéditas para a cidade, fomentando obras de todas as cinco macrorregiões do Brasil e de onze países. Realizado tradicionalmente em fevereiro, este ano ocorreu entre julho e agosto. E assim Campinas segue mostrando a grandeza desta arte.

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