Contam história

Dia Nacional do Selo será comemorado nesta segunda-feira

A filatelia se tornou uma atividade que vai além do entretenimento e proporciona conhecimento e cultura por meio dos registros e eventos temáticos

Cibele Vieira
31/07/2022 às 15:29.
Atualizado em 31/07/2022 às 17:01
Reinaldo Macedo, vice-presidente do Centro Temático de Campinas: viagens pelo Brasil e para o exterior para participar de atividades que fomentam a filatelia (Divulgação)

Reinaldo Macedo, vice-presidente do Centro Temático de Campinas: viagens pelo Brasil e para o exterior para participar de atividades que fomentam a filatelia (Divulgação)

Colecionar selos é uma atividade que muita gente pensa que está em extinção, assim como o hábito de enviar cartas pelos Correios. Mas a filatelia - o estudo e a coleção de selos postais - está cada vez mais ativa e se intensificou durante a pandemia, por ser uma distração cultural e social. Hoje, o Brasil reúne cerca de cinco mil filatelistas e em Campinas há uma entidade que regulamenta a atividade, o Centro Temático de Campinas (CTC). Seu vice-presidente Reinaldo Macedo embarca hoje para a Indonésia, onde será juiz em uma exposição que reúne cerca de 400 colecionadores de vários países. 

"O primeiro selo de Campinas foi criado em comemoração ao centenário do Guarani, em 2011 e eu fiz o desenho", conta Reinaldo. Mas a cidade coleciona outros selos próprios, como a série Carlos Gomes, o centenário do Instituto Agronômico (IAC), os 90 anos do Mercado Municipal, o Palácio dos Azulejos, o Observatório de Capricórnio, Campos Sales e outros que ele cita, além dos carimbos que anulam o selo, ou seja, comprovam que foi pago. O Brasil lança em média cerca de 30 selos por ano, cujos temas são definidos por uma comissão nacional e é realizada uma exposição a cada dois anos. A próxima será em 2023, provavelmente em São Paulo. 

A atividade da filatelia em Campinas já foi tão importante que o Correio Popular teve uma coluna sobre esse tema no antigo Caderno de Variedades, que circulava aos domingos. "Havia meia página sobre o assunto toda semana, inicialmente assinada por Paulo Semedo, que me convidou para ficar em seu lugar e assim fui o responsável pelos artigos durante dez anos (1979-1989)", conta. Hoje, Campinas continua com um movimento filatélico bem desenvolvido e ele destaca Americana e Jundiaí como cidades próximas que também organizam e fomentam a atividade. O CTC, que ajudou a fundar em 1988, é o clube mais antigo de Campinas e mantém suas reuniões sempre no segundo sábado do mês, com divulgação pelas redes sociais.

Macedo conta que começou a se interessar pela atividade aos 14 anos (hoje ele tem 72), após ganhar do irmão mais velho um caderno com selos colados com fita adesiva. Curioso, se entusiasmou e a irmã financiou os primeiros exemplares. Passou a frequentar os clubes, aprendeu a catalogar, iniciou a participação (e premiação) em exposições e estudou sobre o assunto. Hoje é vice-presidente também da Federação Internacional de Filatelia e participa de muitos eventos aqui e no exterior, ajudando a divulgar e regulamentar a atividade. Recentemente sua atuação foi reconhecida pela Royal Philatelic Society London, que lhe homenageou com a entrada no seleto "Roll of Distinguished Philatelists".

Uma atividade para qualquer idade 

Um novato....

Com apenas 22 anos, o estudante de Engenharia da Computação Felipe Cesar Borin Silvano já tem cerca de 500 peças filatélicas e muitas medalhas conquistadas em competições nacionais e internacionais. Sua coleção é temática sobre Dom Bosco (1815-1888), sacerdote italiano proclamado santo em 1934 e aclamado como "Pai e Mestre da Juventude". Ele começou sua própria coleção aos 11 anos de idade, depois de observar o prazer com que o pai se envolvia no assunto. Mas a escolha de Dom Bosco como tema se deu após conhecer sua história em uma escola salesiana. 

Felipe mora em Itatiba e o aprendizado por meio da filatelia é grande. Ele conta que "para participar de exposições é preciso estudar e pesquisar para explicar em detalhes a história do tema escolhido e isso é uma atividade recompensadora em termos de conhecimento adquirido". Seu selo preferido é o esboço do sonho de Dom Bosco sobre a criação de Brasília, cidade onde é padroeiro, que ele ganhou do próprio artista que criou. Cursando a faculdade, ele diminuiu o tempo dedicado aos selos, mas tem certeza de que é uma atividade para levar pela vida afora.

... e um veterano

José Marques Barboza, de 92 anos, mora em Campinas, mas quando moleque ajudava a mãe a separar cartas nos Correios de Andradina, SP. Quando achava algum selo bonito, pedia - e geralmente ganhava - do dono da correspondência. Assim, se tornou um “ajuntador” de selos aos 10 anos, depois começou a colecionar, catalogar, expor e ganhar prêmios. Hoje, quando começa a desapegar das coleções, exibe caixas de medalhas recebidas ao longo de sua trajetória. "Não faço ideia de quantos selos tenho, isso não importa, o que vale é o quanto se agrega de história sobre aquele tema", diz. Colecionador temático, ele acompanhou a evolução da filatelia nos últimos 80 anos, com várias coleções. 

Uma delas, "Anatomia do Sorriso", conta a história da Odontologia, sua profissão. Para ele, "essa é a paixão da filatelia, porque ao mesmo tempo que é distração, é também história e cultura. Podemos contar a história do Brasil apenas pelos selos". Uma curiosidade que Barboza relata é que "numa coleção temática, o que menos tem é selo. São peças filatélicas, ou seja, tudo que é relacionado ao selo. O carimbo, por exemplo, é uma delas, pois revela o local e data que a carta foi expedida". E são tantos detalhes que dariam páginas de curiosidades, por isso ele aconselha as pessoas a entrarem nesse universo, afinal, "nunca é tarde para começar".

A origem

Escrever cartas ou enviar materiais pelos Correios é um hábito que diminuiu muito com os novos recursos tecnológicos que aproximam pessoas em tempo real. Entretanto, é uma atividade ainda ativa. Mas quando esse serviço começou a ser implantado, quem pagava por ele era a pessoa que recebia a correspondência. Como esse modelo de negócio não deu certo, a Inglaterra liderou a reforma para que o remetente pagasse pelo custo do envio. O selo surgiu como um recibo de pagamento na origem. Desta forma, em maio de 1840 foi criado o primeiro selo do mundo o "black penny" (era da cor preta e tinha o valor de 1 penny). O Brasil entra na história postal em 1º de agosto de 1843, com os selos apelidados de "olho de boi" (devido ao formado arredondado) nos valores de 30, 60 ou 90 réis (unidade monetária do Brasil colonial). Ao longo do tempo, entidades postais descobriram que selo era mais que recibo de um serviço postal, mas revelava a cultura do país, suas tradições e uma variedade de temas que são tratados nas suas estampas. Por isso, acreditam os colecionadores, nunca vai acabar.

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