Designer campineira utiliza lixo para suas peças de decoração

A designer campineira Vera Vilar está convicta que praticamente tudo é passível de ser reaproveitado e, com alma de uma artista que sempre precisa colocar para fora as ideias na sua mente, ela cria a partir do que pode parecer descartável. "Muitas vezes as pessoas pensam que algo não serve mais para nada e querem trocar por outra coisa. Mas será que não dá para transformar aquilo em algo diferente?", questiona e, em seguida, responde: "dá sim". "De repente algo que não era nada, em uma composição diferente, com uma nova roupagem e ele muda o contexto". Um dos seus projetos recentes foi desenvolvido a partir de cápsulas de café descartadas. "Eu ficava muito tempo pensando em como daria para reciclá-las, porque elas têm uma beleza ímpar, são brilhantes e têm cores muito bonitas. Nesse devaneio eu decidi fazer algo na parede da minha copa".

No processo de criação, tudo é reciclável. Para a sua primeira peça, Vera utilizou um painel de alumínio que encontrou em um terreno baldio. As cápsulas foram lavadas pensando na sustentabilidade do projeto, pois na limpeza foi aproveitada a chuva e a água da máquina de lavar, que seria descartada. Até os resíduos de café viraram adubo. Foram cerca de 1.400 cápsulas de 58 cores diferentes - que ela adquiriu com a ajuda de doação de amigos - que somadas a uma imaginação fluida e bastante dedicação se transformaram em uma peça artística que virou sensação na casa da designer. "O desenho não tem uma forma definida. Uns veem pássaros, outros aquelas máscaras de Veneza, dinossauros! Vai do olhar de cada um", relata.

Muitas pessoas que se envolveram na busca por cápsulas para ajudar Vera ficaram impressionadas com o resultado final. "Todo mundo quer ver depois como ficou", diz. Engana-se quem acha que só o material em perfeito estado pode ser reaproveitado. A designer já está elaborando um novo painel só com cápsulas amassadas, mostrando que há beleza além da perfeição padronizada.

Caminho aberto para a imaginação

Depois da primeira tentativa bem-sucedida, Vera não parou mais. As cápsulas passaram a ser usadas em peças de presentes para os amigos, outros artigos decorativos para a casa e até a árvore de Natal foi desenhada na parede com elas. "Reaproveitar os materiais sempre foi uma cultura comum dentro da minha casa", explica a designer, que ao lado do marido já desenvolveu diversas peças novas a partir da restauração de objetos que iriam para o lixo. Renato Vilar se dedica à customização de carros e apoia a esposa na parte mais física da execução dos projetos. Em uma das peças elaboradas, o casal reaproveitou um motor fundido de carro, que não poderia mais ser utilizado para sua função inicial, como a base de uma mesa de centro. O vidro acima e os detalhes da mesa, claro, eram todos artigos que iriam para o lixo.

"Mas as cápsulas de café permitiram que eu começasse a fazer montagens mais artísticas", compartilhou Vera. As inspirações não vêm de outras obras recicláveis, pois a designer prefere não buscar muitas referências no meio que possam interferir na sua própria imaginação. A influência maior, revela, vem da própria natureza, flores e plantas. "São coisas que eu não dava muito valor antigamente, a essa parte do cuidar. Hoje o cultivar tem me tornado bem mais sensível", analisa. Outras artes também se fazem presente no dia a dia, como a leitura de obras sobre monumentos e movimentos artísticos campineiros. Ultimamente Vera dedica parte do tempo a leituras sobre Carlos Gomes, mas a música e a dança - por anos ela foi bailarina - sempre foram parte importante na sua história. "Tudo faz um nó na minha cabeça e me inspira a criar as coisas malucas que eu faço. A cabeça não para, as coisas fluem e as criações aparecem", conta, entre risadas.