ATIVISMO

Defesa das diferenças pelo viés do bom humor

Glamour Garcia exalta o poder de representatividade de Britney de 'A Dona do Pedaço'

Da TV Press
04/08/2019 às 11:37.
Atualizado em 30/03/2022 às 19:54

Glamour Garcia sempre acreditou em seu potencial como atriz. No entanto, nem nos seus melhores sonhos a intérprete da divertida Britney de A Dona do Pedaço achou que chegaria ao horário nobre da Globo. Militante da causa LGBTQIA+ – sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer, Intersexuais e Assexuais –, a atriz sabe bem que, mesmo em um meio mais progressista como o das Artes Cênicas, ainda existe muito preconceito, sobretudo com a população trans. Por isso, tinha lá suas dúvidas quanto a uma visibilidade maior e sem tanto estereótipo em produções audiovisuais mais comerciais. Até que uma ligação do autor Walcyr Carrasco a convidando para um teste a fez rever as próprias previsões. “Já fiquei feliz só de ser lembrada para o papel. A televisão nunca foi uma meta para mim, mas confesso que fiquei curiosa e esperançosa com a possibilidade. Quando descobri que tinha passado no teste, não sabia se ria ou chorava, até hoje me emociono em cena”, destaca. Na trama, Britney ainda se chamava Rarisson quando saiu de São Paulo para estudar Ciências Contábeis no Rio de Janeiro. Depois da formatura, ela volta para casa e surpreende os pais, irmãos e a empresária Maria da Paz, de Juliana Paes, que custeou seus estudos, com o novo nome e visual. Para Glamour, apesar de alguns conflitos, o reencontro foi cercado de amor e compreensão. “Walcyr escreveu tudo de forma muito sensível. Até a abordagem sobre a Britney ter ou não passado pela cirurgia de redesignação sexual foi feita de forma clara e bacana”, ressalta. Para a atriz, o fato de a personagem pertencer ao núcleo cômico é eficiente na hora de conquistar o público, que fala com muito carinho sobre a personagem nas ruas. Além disso, mesmo com cenas divertidas e amenas, Britney tem força política e social ao dar visibilidade a questões práticas da vida de uma mulher trans, como os tratamentos hormonais, as relações de afeto e a falta de oportunidades de estudar e ter uma profissão. “A sociedade incentiva as pessoas trans a desistirem de viver. É uma frase forte, mas necessária. Grande parte da população trans não termina os estudos porque é sistematicamente perseguida. Em casa e no trabalho, são vítimas de uma cultura excludente e violenta”, aponta. Por sorte, a trajetória de Glamour para se firmar de acordo com sua identidade de gênero foi mais tranquila. Filha de um empresário de rodeios e uma psiquiatra, Glamour é a mais velha de três irmãos e até o momento que começou a fazer sua transição, a questão transexual não havia sido discutida em família. “Minha mãe sempre me ajudou muito e me defendeu. Aos poucos, meu pai foi entendendo o que estava acontecendo. Aquilo era novo para ele também. Tive muito apoio da família e isso faz uma diferença enorme na vida de qualquer um.” Desde a infância que Glamour se sentia diferente dos outros meninos. Na adolescência, começou a desenvolver sua feminilidade e, aos 18 anos, passou a fazer o tratamento hormonal, tudo na companhia da mãe. A atriz fala abertamente sobre o fato de não sentir necessidade em passar por uma cirurgia de redesignação sexual. Casada com o produtor de festas Gustavo Dagnese, o peso de um pós-operatório complexo e o fato de ter que parar de trabalhar por meses acabou por tirar a cirurgia de seus planos. “Isso já foi uma fixação para mim a ponto de me paralisar como pessoa. Hoje, consigo viver e me amar sem problemas. Me sinto a mulher mais incrível do mundo, que luta e tem a capacidade de ser exatamente o que quer ser”, assume a atriz de 32 anos. Natural de Marília, Glamour é formada em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Londrina e também em Artes do Corpo pela PUC de São Paulo. Na capital, ela fixou residência e teve suas primeiras experiências de maior destaque, como o monólogo Salomé (2016), o curta Nome Provisório (2018), e o longa-metragem Horácio, lançado em abril deste ano, em que atuou ao lado de Zé Celso Martinez Corrêa. “Aprendi a improvisar com o Zé Celso. Entrei no filme cheia de medo e saí muito segura do que eu queria para minha carreira.” Na TV, a estreia foi na ousada série Rua Augusta, do TNT.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por