Exposição no MACC – que será inaugurada amanhã – reúne pinturas em tela e obras feitas com materiais de rejeito, radiografias e páginas amarelas de listas telefônicas
‘Minha Alma Canta’ é uma das obras que serão expostas no Museu de Arte Contemporânea de Campinas até 19 de julho (Divulgação)
A artista plástica, arquiteta e designer Anete Ring traz suas obras, pela primeira vez, para o Interior de São Paulo na exposição “De Ruínas e Sonhos”, composta por séries de trabalhos inéditos. A mostra reúne pinturas em tela e obras feitas com materiais de rejeito, radiografias e páginas amarelas de listas telefônicas, que foram distribuídas em duas salas do Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC). Com curadoria de Fábio Magalhães, a inauguração da exposição será realizada amanhã (dia 29), das 18h às 21h, e seguirá disponível para visitação até 19 de julho.
Composta por trabalhos produzidos a partir da pandemia, essa é a 14ª exposição individual da artista, cuja primeira mostra já celebra 18 anos. Apesar de a exposição ter sido inaugurada em 2023, na cidade de São Paulo, Anete Ring garante que aquele lançamento foi como um projeto piloto e com elementos importantes, mas agora atingiu sua completude no formato da exposição que chega ao MACC. As criações foram um desafio para a artista devido à produção tridimensional, escolhida como uma “amarração” do trabalho. Esse tipo de produção é uma novidade para a autora, que gosta de se aventurar nas telas e tintas.
Anete descreveu sua inspiração como algo que vem das ruas e do mundo – do usual ao novo –, mas que de alguma maneira a provoca e a afeta. “O título dado à mostra traduz a diversidade e a complexidade da vida, em meio às suas oscilações e surpresas, como um caminho que permeia lados obscuros e luminosos entre suas diversas nuances. As obras reverberam e o entendimento depende do que o público tem a oferecer. Afinal, encontramos o que procuramos ou que conhecemos.” A artista aproveitou o momento atual para definir sua fase profissional como de maturidade artística e de extrema realização.
OBRAS INÉDITAS
Dentre as obras inéditas, Anete Ring expõe a série “Fissuras Visuais Verbais” – em parceria com o escritor Evandro Affonso Ferreira. A proposta das composições é trazer um diálogo entre as duas formas de arte – texto e pintura – como complementos de ideias e expressões. O objetivo da união dos artistas é provocar o público a criar suas próprias interpretações. Segundo Anete, primeiro Ferreira criou e lhe enviou frases produzidas por ele, como “Levaram tudo dele, inclusive, alguns pressentimentos” e “Certos seres chuvosos não facilitam a própria estiagem”. A partir da leitura, ela se expressou em uma criação abstrata, que potencializa a expressão literária.
Outra novidade da mostra é a série “Desobjetos”, título inspirado em uma das obras de Manoel de Barros. A instalação une diversos objetos provenientes de caçambas de materiais da construção civil, como tijolos, pedras e barras de ferro. O trabalho propõe uma reflexão sobre a produção de dejetos, o descarte desenfreado e o resgate do que é jogado fora, como uma contemplação às emoções e à superficialidade das relações humanas.
"Eu busquei trazer um novo significado poético ao que, um dia, foi reduzido a zero.” Ela iniciou a produção desse trabalho em 2017 e o finalizou para a exposição no MACC. Segundo a artista, o hiato entre o começo e finalização da série se deu como um tempo necessário para o amadurecimento da ideia e produção da obra.
MAIS TRABALHOS
A primeira sala do museu contempla uma série de trabalhos que acompanha Anete há algum tempo, intitulada “Horizontes”. São paisagens imaginárias, criadas pela artista com tinta acrílica, sendo 21 obras em telas e 4 em papéis. Segundo a autora, as pinturas provocam o olhar para uma viagem em um ambiente fictício, onde é possível deparar com emoções tranquilas e serenas, e outras instigantes e contemplativas.
Na segunda sala, em meio às obras inéditas, há todo um trabalho produzido durante e imediatamente após a pandemia, com 40 pinturas sobre as páginas amarelas – aquelas de catálogo das antigas listas telefônicas – com o objetivo de refletir sobre a fragilidade do ser humano e o sofrimento em meio ao desafio de atravessar a covid-19.
Outra criação importante que compõe a exposição é a série “Raio-X”, com 40 pinturas criadas sobre chapas de radiografias tiradas do corpo da própria artista. São obras monocromáticas de rostos silenciosos e anônimos, posicionadas lado a lado – penduradas como em um varal –, e parte delas posicionada sobre aparelhos com um painel de luz, projetados para leituras mais precisas de exames de imagem. “A radiografia vem com essa metáfora do olhar interno, que traduz um pouco a esperança do ser humano e da solidariedade.”
A artista ressaltou a importância de as obras serem expostas em um museu como o MACC, no ano em que a instituição completa 60 ano. Para ela, o feito lhe confere honra e credibilidade em uma cidade de projeção artística, cultural e de relevância regional.
PROGRAME-SE
Exposição ‘De Ruínas e Sonhos’, por Anete Ring e curadoria de Fábio Magalhães
Quando: Abertura amanhã (dia 29), das 18h às 21h. Visitação prossegue até 19 de julho, de terça a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 11h às 15h
Onde: Museu de Arte Contemporânea de Campinas ‘José Pancetti’ – Rua Benjamin Constant, 1.633, Centro
Informações: Fone 19 2515-7095 E-mail: [email protected]. Instagram: @anetering
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