ENTREVISTA

Danilo Gentili traz o humor no corpo e na alma

Artista conversou com o Caderno C durante o lançamento do filme 'Mato sem Cachorro'

Fábio Trindade
fabio.silveira@rac.com.br
03/10/2013 às 15:51.
Atualizado em 25/04/2022 às 01:14

Danilo Gentili integra a equipe de repórteres do programa 'CQC' e apresenta talk-show 'Agora É Tarde', ambos na Band ( Divulgação)

Danilo Gentili vem se mostrando um artista cada vez mais versátil. Começou a carreira fazendo stand-up comedy na noite paulistana, o que lhe rendeu uma vaga de repórter no CQC, da Band. Sempre polêmico, mas também muito elogiado principalmente por suas performances no meio político, ele ganhou seu próprio programa de entrevistas na emissora, o 'Agora é Tarde', que começou na grade uma vez por semana e, em poucos meses, se tornou diário e um dos principais líderes de audiência da casa. Agora, mergulha em uma nova empreitada: a de ator. Está no elenco da comédia 'Mato sem Cachorro', que estreia amanhã nos cinemas. Além disso, é o organizador do livro 'Comedians Stand-up de Bolso', que será lançado em Campinas na próxima semana, dia 9 de outubro, na Saraiva Megastore do Shopping Iguatemi. A obra traz 165 piadas em formado de cards, de 53 comediantes que fizeram ou ainda fazem shows no Comedians, bar que pertence a ele e ao amigo Rafinha Bastos. Como foi organizar o Comedians Stand-up de Bolso?Eu quis fazer uma seleção das melhores piadas dos melhores comediantes que estão fazendo stand-up atualmente no Brasil. Eu conheço todos que fazem, sou amigo deles, porque eu gosto do gênero. Quando chega um cara novo eu quero saber quem é, se é bom. Então foi fácil fazer, porque dá para saber as piadas que funcionam, tanto piadas de artistas que as pessoas já conhecem como de desconhecidos também. Eu quis misturar os dois. Até porque nem daria para fazer só com quem está na mídia, porque esses caras são só a ponta do iceberg. A ideia sempre foi pegar comediantes bons. Alguns são famosos, outros você só vai saber quem são se for no bar ou no teatro. Até porque, no final, é tudo uma caixinha de piadas de stand-up. O Comedians foi um dos primeiros bares no estilo comedy club americano por aqui. Você acredita que foi ele que deslanchou essa onda de stand-up que o Brasil vive há algum tempo?Antes do nosso, tinha o Beverly Hills, em Moema, que trabalhava com comédia. Mas o primeiro de stand-up mesmo, que saiu do nada, que foi construído do zero, foi o Comedians. O bar, porém, foi só uma consequência desse cenário que se levantava no Brasil, e não a razão. Eu me lembro que em 2006, 2007, a gente tinha que chegar nos botecos e implorar para contar as nossas piadas. E do público que ia ver, de duas mil pessoas, um cara levantava e queria fazer também. E nisso foi se formando um circuito, e acabou que toda noite tinha alguém fazendo stand-up comedy em algum bar. O tempo foi passando até que o Rafinha (Bastos) e eu decidimos nos juntar para fazer um bar nosso. Ou seja, é uma evolução do gênero. E o que você acha desse momento do stand-up? O gênero está banalizado, com todo mundo querendo fazer esse tipo de humor?O stand-up está se tornando carne de vaca? Está. Tudo que dá certo e faz sucesso vira carne de vaca. E, daqui a pouco, vai acontecer a seleção natural: quem é bom permanece, quem é ruim cai fora. A melhor questão do stand-up comedy é isso, você pode ser a pessoa mais querida do Brasil, a mais famosa do universo, você pode ser a Ivete Sangalo, o Jack Nicholson, se você subir no palco e não tiver graça, o público não vai querer te ver. Em compensação, pode subir um completo desconhecido, mas que vai fazer todo mundo rir, que a plateia vai querer ver esse cara de novo. O stand-up comedy é uma das plataformas que mais dá liberdade para o comediante sair do nada e fazer uma carreira. Ele não precisa de TV, de jornal, da mídia. Ele só precisa fazer as pessoas darem risada. Se fizer isso, todos vão querer vê-lo sempre. Eu comparo o stand-up com o punk rock. Até então, para se fazer música, você precisava de um conhecimento prévio e tal, mas chegou o punk rock e qualquer moleque na garagem podia fazer algo com personalidade e ter seus fãs. Não tem politicagem. Se você não for bom, ninguém vai querer te ver. Comigo foi assim. Eu saí da minha casa sem nada e hoje tenho a sorte de fazer cinema e ter um programa. Em 'Mato Sem Cachorro', a impressão é que você faz um espetáculo de stand-up, exatamente como em seus shows, com tiradas bem parecidas. Você encarou o filme dessa forma, já que você teve toda a liberdade de criar, de improvisar?Eu encarei o filme como um presente que os caras me deram e eu estava disposto a fazer qualquer coisa que me pedissem, principalmente o Pedro (Amorim, diretor do longa). Mas o próprio Pedro me deixava muito à vontade para improvisar justamente para ficar natural, para eu me sentir tranquilo. E eu acredito que ele me deixou livre o suficiente para passar uma verdade. Quando eu aceitei o papel, uma das minhas maiores preocupações era parecer fake, que eu estava interpretando, citando um texto, oras, pois e tal. A ideia de ficar natural era para fugir de tudo isso, tanto que criei algumas piadas, tentando sempre corresponder a tudo o que o roteiro pedia. O que acontece é que, para falar bem a verdade, quando eu li o roteiro, antes de eu mexer nele, eu já vi que a pontuação da piada, o “time” deixado pelo André Pereira (roteirista), estava ali, muito semelhante. Então eu não transformei em um stand-up, porque muita coisa já veio pronta. Você encararia um filme sem toda essa liberdade para criar, como normalmente o cinema funciona?Pode ser cinema, comédia de bolso, divulgação de um carro. Se for autêntico, se tiver a ver com a minha verdade, eu sei que posso entrar de corpo e alma no negócio porque alguma coisa pode sair. Tem que ser autêntico e eu tenho que me identificar. Quando eu li o roteiro de 'Mato...', achei demais. O personagem tem muito de mim.Falando nisso, o comentado enterro do Bentley de Chiquinho Scarpa não passava de uma grande pegadinha que mexeu com a mídia nacional e internacional. O plano, do qual você fez parte o tempo todo, era aproveitar a imprensa presente para falar sobre doação de órgãos, uma sacada brilhante. Como foi bolar isso, falar de algo tão sério fazendo piada?Essa história tomou uma proporção muito maior do que esperávamos. Fazia um mês que a gente trabalhava nisso, eu, o Scarpa e todo o pessoal da agência. Só a gente sabia e jamais pensei que ficaria tão grande tudo isso. Pensei que seria algo do tipo: “olha o que o maluco tá fazendo”, e só, vamos para o próximo assunto. Cara, ficaram a semana inteira falando disso e o desfecho foi sensacional. Achei a ideia genial, falar algo importante fazendo piada é algo que o mundo inteiro faz desde Aristóteles na Grécia Antiga. Mas qualquer coisa que é viral ninguém sabe para onde vai. Você pode planejar, a ideia pode parecer legal, mas são inúmeros os casos que falharam e pouquíssimos que deram certo. E ninguém vai saber responder porque um deu certo e o outro não, senão eles fariam outro “certo” amanhã mesmo. Ainda bem que esse caso virou porque a causa era muito nobre. Chegar na entrevista vestido de Robin Hood (fantasia usada por ele em 'Mato Sem Cachorro') só prova porque no filme você é o cara que faz as coisas mais esdrúxulas, no sentido de “topa qualquer parada” ...Na verdade, agora eu só me visto assim (risos)... Você protagoniza várias cenas de nudez, aparece sentado no vaso e em outras situações embaraçosas. Existe alguma dosagem no que dá ou não para fazer?Eu realmente topo tudo, desde que tenha algum sentido. A privada, a nudez, tudo tinha a ver com o filme. Fiz em função da história e faria tudo de novo. Fico feliz em topar fazer porque o filme flerta e brinca com uma coisa iconoclasta. A Elke Maravilha aparece irreconhecível no filme, a Sandy aparece vomitando. Se eu, que sou comediante, não fizer isso comigo, algo está errado. Eu tenho que ser o primeiro a fazer piada comigo mesmo. E quanto mais gente fizer, mais divertido fica para o público. O 'Agora é Tarde', e você consequentemente, conseguiram um prestígio muito rápido depois de entrarem no ar com os dois pés atrás da emissora, sem patrocínio e tudo mais. Mesmo assim, chegam a questionar que algumas entrevistas são ensaiadas, para ficarem engraçadas. O que você acha disso?Só posso dizer que não é ensaiado. A entrevista não é ensaiada. Se tem uma piada pontual, eu posso chegar e mostrar para o entrevistado a piada, perguntar o que acha e se topa fazer comigo. Mas a entrevista mesmo, nunca. As próprias piadas algumas vezes são ensaiadas ou “meio” ensaiadas, digamos. Por exemplo, esses dias eu recebi a Rosana Jatobá no programa e perguntei para ela se, durante a entrevista, eu poderia pegar um chroma azul para ela me ensinar a previsão do tempo. E ela topou. Se isso é ensaiado, então é ensaiado. Mas na hora que ela começou a fazer a previsão e falou que ia nevar, caiu um caminhão de isopor na cabeça dela, com vento e tudo mais. Isso ela não sabia. O que eu tento fazer no 'Agora é Tarde' é um show biz. Quero que a pessoa que está sendo entrevistada se divirta, que quem está vendo se divirta, porque eu quero fazer um show.Enquanto você entra no show business, o seu trabalho com a política, de desmascarar políticos, falar na cara, e que marcou muito a sua carreira, ficou de lado. Você sente falta?Eu realmente deixei de lado, mas só porque agora estou construindo outra coisa, que é um show de entretenimento toda noite. Mas tento me manter, nem que seja um pouco, nessa área, tanto que toda terça eu faço um quadro que se chama 'Diário Semanal', que é um resuminho político do que rolou na semana. Nas próximas eleições, eu quero fazer um 'Politicamente Incorreto 2', algo que fiz na eleição passada, que é um show de transmissão ao vivo pela internet só falando de política. Comecei a escrever essa ideia já e tenho certeza que ela vai sair.

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