DIA D DE DANÇA

Dançarinas campineiras celebram data refletindo sobre cenário local

Campinas tem um histórico impactante no cenário brasileiro das artes corporais, mas que ainda está bem distante de ser a referência que poderia

Aline Guevara
29/04/2022 às 09:54.
Atualizado em 29/04/2022 às 17:31
Cena do espetáculo Imalẹ̀ Inú Ìyágbà, criado pela bailarina Adnã Ionara e que tem direção de Mariana Andraus (Leo Lin)

Cena do espetáculo Imalẹ̀ Inú Ìyágbà, criado pela bailarina Adnã Ionara e que tem direção de Mariana Andraus (Leo Lin)

A data de 29 de abril é celebrada como o Dia Internacional da Dança graças ao bailarino e coreógrafo francês Jean-Georges Noverre, que nasceu nesse mesmo dia, quase 300 anos atrás, em 1727. Ele é considerado o pai do balé moderno por sistematizar a arte, tirando-a desse lugar sempre atrelado a outras manifestações artísticas, como o canto lírico, dando espaço para que crescesse solo e diversa. 

Ainda que seja constantemente associada às modalidades artísticas clássicas, como o balé e o jazz, a dança é muito mais plural do que isso. "Nós temos um referencial forte eurocêntrico, como falamos dentro da universidade, mas, como brasileiros, nós temos, além da influência europeia, a cultura dos povos originários indígenas e a população negra africana sequestrada e trazida para o País. É muita diversidade", explica a campineira Mariana Andraus, diretora associada do Instituto de Artes da Unicamp e pesquisadora da área. Ela conta que uma dança muito importante é aquela surgida dentro dos contextos sociais, muitas vezes desvinculada de um ensino direcionado. "Temos vários alunos que pesquisam e se interessam pela dança vinda do contexto do hip-hop. E cada vez recebemos mais dançarinos que não aprenderam o estilo vindos de uma academia, de um curso, mas que surgiu do contexto deles. Uma das maiores tendências contemporâneas hoje certamente é o hip hop", esclarece. 

A cidade de Campinas tem um histórico impactante no cenário brasileiro das artes corporais, mas que ainda está bem distante de ser a referência que poderia.

História e potencial x realidade

A cidade é reduto de várias escolas conceituadas, como a Academia de Ballet Lina Penteado, que comemora 57 anos em 2022 e atua como Centro Oficial da Royal Academy of Dance of London. Além disso, o curso de Dança da Unicamp, idealizado e fundado em 1985 pela artista Marilia Andrade, filha de Oswald de Andrade, é o segundo implantado no país - atrás apenas da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) - e é nacionalmente reconhecido como um dos melhores do Brasil. "Justamente por isso, eu vejo Campinas como um local potencialmente forte para explorar a dança, mas bem aquém do que poderia ser", critica Mariana. Formada em Dança e doutora em Artes da Cena, ambas pela universidade campineira, ela foi aluna de Marília de Andrade. "Eu tive a sorte de tê-la como minha orientadora, então escutei muitas histórias", diz a pesquisadora.

Ela vê a falta de incentivo do poder público como um dos maiores obstáculos para a dança campineira ganhar os holofotes devidos. "Nós nos formamos na Dança em Campinas para nos apresentarmos em outras cidades, como Americana, Araraquara, São José dos Campos e Morungaba. São locais que não têm o porte de Campinas, mas têm projetos de incentivo à dança. A cidade tem uma Orquestra Municipal, mas não uma companhia estável de dança, uma escola municipal. O bailarino de Campinas faz sua carreira dançando fora da cidade", reflete Mariana, que critica também a falta de estruturas culturais que possibilitassem o fomento da dança, como teatros grandes e equipados. "A gente dança na rua? Sim. Tivemos que começar a pensar espetáculos para espaços diferentes, mas também precisamos ter a dança cênica com iluminação, piso apropriado e recursos de áudio", completa.

Movimento de união artística

A falta de espaços para a dança campineira também é um dos pontos citados por Fabiana Lois sobre o que precisa ser melhorado na cidade. Dançarina há mais de 40 anos, cuja formação artística foi toda em Campinas, e presidente da Associação Movimento Dança Campinas (AMDC), ela fundou a organização em 2001 junto de outros artistas para "ampliar a visibilidade da dança, multiplicar a sua inserção nos mais diversos contextos e estimular o crescimento qualitativo e quantitativo dos dançarinos em diferentes momentos das suas carreiras, quer fossem profissionais, amadores ou estudantes". 

A partir da mediação da AMDC, escolas de dança associadas trocam informações, discutem o atual panorama e organizam até eventos em conjunto. Um deles é "Tudo é Dança", que acontecia anualmente em junho, até 2019. Com a pandemia, no entanto, ele foi pausado. "No começo, era só uma mostra de dança entre as escolas que participavam da AMDC, bem pequeno. Mas ele cresceu e chegamos a receber quase cinco mil dançarinos", conta Fabiana. O evento, que não é competitivo, tem um objetivo inclusivo: promover apresentações desde amadores até dançarinos profissionais que se preparam para os festivais. "Também é uma forma deles se prepararem e testarem coreografias, figurinos, iluminação para o que vão mostrar nos festivais", reforça a presidente, que já está trabahando na próxima edição da mostra de dança. Apesar de acreditar que deva ser menor, em função da retomada gradual dos encontros presenciais, ela já vê um retorno forte. "Vejo as pessoas voltando a buscar os eventos culturais porque eles nos tiram de situações ruins. E a dança tem esse poder de preencher a alma", finaliza.

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