CADERNO C

Curta de cineastas de Campinas disputa festival em Lisboa

Filme ‘A Lenda dos Cavaleiros da Água’ participa hoje de sua primeira competição internacional, após conquistar 18 prêmios nacionais

Mariana Camba/[email protected]
04/06/2025 às 16:34.
Atualizado em 04/06/2025 às 16:34
No filme, a situação muda com a chegada dos Cavaleiros da Água, que laçam nuvens para fazer chover (Divulgação)

No filme, a situação muda com a chegada dos Cavaleiros da Água, que laçam nuvens para fazer chover (Divulgação)

A união da prosa poética com a cultura nordestina, em meio a elementos de drama e fantasia, resultou na produção do curta-metragem “A Lenda dos Cavaleiros da Água”. A obra, que conta com 24 minutos de duração, foi filmada no Cariri paraibano e acumula 18 prêmios em festivais, como o de melhor filme, roteiro, fotografia, arte e edição. O projeto cinematográfico é trabalho do casal de cineastas e moradores de Campinas, Helen Quintans (diretora) e Flávio Carnielli (editor e produtor), que celebram as conquistas do trabalho. Hoje (dia 4 de junho), o curta participará de sua primeira seleção internacional – o 16º Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (FESTIN), em Lisboa.

O filme permanece em uma trajetória de ascensão e sucesso desde o seu lançamento em maio deste ano, e conta com o apoio do Programa de Ação Cultural de São Paulo (ProAc). 

A trama se passa no sertão nordestino e acompanha Margarida e sua mãe, Violeta, que enfrentam a devastação da falta de água em um sítio isolado, até a chegada dos Cavaleiros da Água, que são os responsáveis por levar esperança ao povo castigado pela seca. Em meio à narrativa, os personagens laçam as nuvens como cabeças de gado, para assim fazer chover. A história traz elementos de fé, esperança e amor, em meio aos versos e rimas da cultura de cordel.

A diretora Helen Quintans contou que o roteiro foi baseado no cordel homônimo de Samuel de Monteiro, seu irmão – integrante de uma família repleta de repentistas e cordelistas. Depois de três anos com a ideia de transformar a história em uma produção cinematográfica, o roteiro ficou pronto no final de 2022 e foi contemplado pelo edital no ano seguinte. As gravações ocorreram a partir de setembro, na Paraíba, com o deslocamento de toda a equipe de produção e elenco para as gravações no sertão nordestino. 

Apesar do apoio concedido pelo programa estadual, Helen teve de arcar com os custos excedentes do projeto, para que as cenas pudessem ser filmadas em outro Estado, incluindo as despesas de deslocamento de toda a equipe. No total, foram duas semanas de gravação e cerca de seis meses para edição e finalização do curta. Entre os contratempos, a equipe e os cinco atores tentaram iniciar as gravações pelas cenas de seca quando foram pegos de surpresa pela chuva. Por isso, foi necessário começar as filmagens pelo final da trama, o que fez com que a gravação não seguisse a ordem cronológica da narrativa. 

EMOÇÃO 

Para viabilizar a produção, a diretora Helen Quintans contou com a ajuda de seu pai – o poeta e repentista Asa Branca do Ceará –, que conseguiu organizar uma verdadeira rede de apoio na cidade de Monteiro, na Paraíba, propiciando que as gravações ocorressem em tempo hábil e nos locais ideais para as filmagens. “O filme tem um significado afetivo intenso para mim, pela maneira como a ideia surgiu, o envolvimento nas filmagens e pela participação de meu pai, que na época enfrentava uma doença em estágio terminal.” 

O poeta morreu dias depois de a equipe finalizar as gravações e deixar o sertão nordestino, mas pôde contribuir com sua arte e trazer ainda mais emoção ao curta. A trama é encerrada ao som de um repente escrito por ele, como uma última homenagem e um gesto de amor do pai e artista. Para a diretora e filha, o curta contempla a última missão de seu pai em vida, eternizada pela arte e cultura de sua terra.

PREPARAÇÃO 

O elenco tem cinco atores, dentre eles nomes experientes como Buda Lira, Clovys Torres e Violeta Nagai, além dos talentos locais Pétala Luana e Reynaldo Soares. Para a diretora, a união de todos em cena foi uma surpresa positiva, como um “encaixe”. Afinal, o primeiro encontro presencial da equipe foi também no primeiro dia de gravação, pois antes disso a preparação foi feita de maneira remota, sob a orientação de Luciane Aranha. Assim, as primeiras leituras de roteiro, direcionamento das cenas e posicionamentos diante das câmeras foram discutidos e organizados à distância. Em meio aos trancos e barrancos, Helen definiu o filme como um “projeto feito para acontecer”.

Até o momento, o curta foi inscrito apenas nesse festival internacional – FESTIN – por esse acolher filmes em português. A diretora explicou que a tradução para o inglês é difícil, pelo respeito à métrica dos versos e rimas presentes na narrativa. “Ser selecionado para um festival fora do Brasil é uma conquista enorme. Não vamos poder ir até Lisboa, mas vamos acompanhar e torcer à distância”, exaltou a diretora. Para ela, o fato de o evento ser voltado para produções independentes e autênticas ajuda trazer ainda mais visibilidade e projeção ao curta nacional. 

PLANO FUTUROS 

O próximo passo, acrescentou, é transformar o curta em longa, partindo da produção inicial e premiada. Helen afirma que o roteiro do longa está finalizado, inclusive com atores escalados. Para que a ideia saia do papel, ela vem tentando angariar recursos que possam viabilizar o projeto. Há também a possibilidade de transformar e adaptar “A Lenda dos Cavaleiros da Água” para o teatro ou série.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por