CityZen, curta-metragem do campineiro Guilherme Guimarães, é um passeio de skate por São Paulo
O campineiro Guilherme Guimarães pratica skate desde os 10 anos. Sem deixar a prática de lado, fez jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e, como trabalho de final de curso, realizou o vídeo 'Chave para a Liberdade sobre skate' com internos de uma casa de menores infratores. Em 2008, passou um ano nos Estados Unidos fazendo curso de audiovisual e, há três, recebeu convite de uma empresa de material esportivo para fazer um filme sobre skate.
Diretor do curta 'Parapluie', feito em Campinas em 2011, ele esqueceu de vez o jornalismo, mudou-se para São Paulo e, aos 26 anos, está praticamente estreando como diretor no curta-metragem 'CityZen', porém, com um detalhe importante e inusitado: em circuito nacional.
O filme entra em cartaz nesta segunda-feira (10) na Rede Cinemark de 15 cidades do País, incluindo Campinas, e terá a presença de Guilherme, família e amigos. Tudo como convém a uma estreia. Na verdade, o lançamento oficial se deu em 23 de maio na Cinemateca de São Paulo, mas apenas para convidados. Agora, ele vai sentir a reação do público comum.
Ele diz que o filme é um olhar estrangeiro sobre São Paulo, cidade linda, diga-se, aos olhos do diretor. “A estética era importantíssima”, afirma. E, não por acaso, a fotografia dele próprio, investe pesado na linguagem. Brinca com as cores e com o preto e branco, abusa da câmera angular e chega ao requinte (para os dias de hoje) de granular a imagem com o uso do antiquíssimo — em tempos de digital — Super 8.
“Estou na contracorrente”, diz. E conta que, apesar do patrocínio, teve liberdade para fazer o que achasse melhor. “Não tive ninguém me dizendo o que e como fazer.” Tanto que gastou três anos para concluir o filme — o Super 8 tem de ser revelado nos Estados Unidos e muitas das locações tiveram de ser adiadas inúmeras vezes pelos motivos mais prosaicos, como jogo do Corinthians, por exemplo.
Ele admite que as produções do gênero são bem precárias. Daí a preocupação em realizar um trabalho com o máximo de rigor técnico. Fica evidente, por exemplo, a sofisticação dos travellings nos quais o diretor acompanha os skatistas, ele próprio em um skate, para não perder nenhuma manobra. Isso tudo acompanhando aquilo que é absolutamente caro a esse tipo de esportista: a superação de obstáculos encontrados na paisagem urbana.
Metáfora
Obstáculos como gastar três dias para filmar uma manobra de três segundos. Ou entrar no túnel da Avenida Rebouças em meio aos carros e sem nenhum suporte público para orientar o trânsito. Guilherme conta que filmou em um domingo pela manhã, quando tem menos tráfego, e entrou na adrenalina de correr com a câmera atrás do skatista.
A montagem, também a cargo dele, investiu no ritmo das manobras, cheias de cortes rápidos e secos, e nos movimentos (assim como as câmeras) que apostam na inevitável metáfora do voo. Não por acaso, ele capta aviões sobre a cidade, o que vale um paralelo com o filme O Espetacular Homem-Aranha (Marc Webb, 2012), em que Peter Parker aprende a voar treinando no skate.
A comparação não lhe parece exorbitante. “Os skatistas são verdadeiros heróis”, diz, repercutindo as reações de apreço que recebem no Facebook. Alguns comentários de garotos mencionam justamente a expressão “heróis” — portanto, eles influenciam positivamente as pessoas.
Porém, Guilherme ressalva: eles não competem como nesses torneios mostrados na TV. Ninguém é o melhor entre eles. “Se alguém faz uma manobra radical, recebe aplausos e os outros procurarão fazer o mesmo, mas sem o sentido competitivo.”
Os skatistas que aparecem no filme são o argentino de Buenos Aires, Esteban Florio (também co-roteirista); o paranaense de Cascavel, Wagner Ramos; o paulistano Murilo Romão; o paranaense de Maringá, Rafael Gomes; e o paulistano Leo Fernandes. Todos, com exceção de Leo, são profissionais.
Por fim, o diretor destaca a trilha sonora de Yoka, que deu outro colorido ao curta. E lembra que a cidade é um personagem, assim como as pessoas, notadamente os mendigos. “Fiz questão de mostrá-los, e com imagem granulada, porque eles são gente para quem não gostamos de olhar.” E sobre a experiência, Guilherme é taxativo: “Foi a melhor escola de cinema que eu tive”. E, desde já, quer continuar a fazer cinema. E não apenas sobre skate.
AGENDE-SE
O quê: Estreia do curta-metragemCityZen, de Guilherme Guimarães
Onde:No Cinemark
(Shopping Iguatemi, Avenida Iguatemi, 500, Vila Brandina, Campinas)
Quando: Nesta segunda, às 14h;
terça, às 21h; quarta, às 14h; quinta, às 14h e 21h
Quanto:R$ 8,00 e
R$ 4,00 (meia)
Tempo:25 minutos
Classificação:12 anos