AMAZÔNIA

Cruzeiro fluvial singra o Rio Negro

Grand Amazon avança sobre as águas amazônicas, proporcionando aventura, mas sem perder de vista o conforto e o bem-estar

Milene Moreto
24/07/2016 às 00:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 23:15
O Grand Amazon (Divulgação                    )

O Grand Amazon (Divulgação )

A impressão de que algo extraordináRio está por vir começa ainda dentro do avião, quando a aeronave sobrevoa o Amazonas em direção a Manaus. Nesse momento, percebemos a dimensão dos rios e o contraste com um verde infinito. A sensação é de ser um grão de areia no universo. Conhecer é descobrir a força das águas, o barulho ensurdecedor da floresta, os sabores do Brasil, a doçura e a beleza de seus animais, a cura e os aromas de cada folha, cada fruto. Sobretudo, é sentir orgulho, mas, ao mesmo tempo, a responsabilidade em contribuir para a preservação. Prepare-se! A experiência é transformadora. A viagem será pelo Rio Negro, pelas regiões do Jaraqui, Rio Cuieiras, Três Bocas e Rio Ariaú. Quem nos leva para esse roteiro revelador é um navio nada modesto: o Iberostar Grand Amazon. Durante quatro dias, você vai dormir numa cama muito confortável, desfrutar de um sistema all inclusive, ter disponíveis uma piscina no deck e um restaurante com todos os sabores da floresta. Ah!, mas agora você deve pensar em como fará para ter uma experiência tão profunda com todas essas facilidades. Fique tranquilo, o roteiro de passeios elaborado pela equipe do navio dá conta do recado. Tem quem brade que esse tipo de viagem é para “inglês ver”. Basta estar de olhos abertos, ouvidos atentos e sensível ao ambiente para sair de lá com lições valiosas. Foto: Divulgação Macaco de cheiro O navio parte do Porto de Manaus para quatro dias cheios de atividades. De lá, a embarcação segue para a região do Igarapé Jaraqui, onde começa a aventura. Para participar dos passeios, é preciso que o hóspede escolha, na noite anterior, qual deseja fazer, para que a equipe distribua todos nas lanchas com segurança. O pacote inclui visitas a comunidades indígenas, passeio pela floresta alagada, observação de jacaré, pesca de piranha, caminhada na floresta, visita à “casa do caboclo”, mergulho com o boto e vista para o encontro das águas. A floresta O primeiro contato que se tem, e talvez um dos mais intensos com a Amazônia, é a caminhada pela floresta. A lancha deixa o navio rumo aos igarapés e aporta em uma região de mata fechada. Com uma trilha definida, quem conduz o grupo é um índio da região do Javari, Edison Piro, profundo conhecedor da floresta que, aos poucos, transmite ao visitante o respeito à natureza, seus segredos e como se comunicar, sobreviver na mata e tirar dali o alimento, a água e a cura. No chão estão alguns frutos que, aos poucos, descobrimos os sabores: o uxi, por exemplo, que até então só conhecia na forma de sorvete, diga-se de passagem, bem saboroso. De outra árvore, Piro pega uma casquinha e pede para que todos cheirem, é o perfume do breu-branco. Logo à frente, outra lasca, da carapanaúba. Para que serve? Cura a febre amarela. De uma palmeira vem o tucumã, um tipo um coquinho amarelo usado na culinária. Logo ali, o pau-rosa, que emprestou suas propriedades ao Chanel nº5. Foto: Divulgação Araras, pássaro comum na Amazônia Do cipó, vem a construção de uma rede para os que pretendem passar mais tempo na selva. Deu sede? Piro corta um galho e, aos poucos, a água brota. Dos perigos? A surpresa vem da informação de que um dos maiores temores naquela floresta é uma gosma produzida por sapos quando estão na fase de acasalamento. Um veneno poderoso. O passeio dura em média duas horas, mas dá para se ter ideia da dimensão da floresta. Uma dica é ir de tênis, meias grossas, calça e blusas de manga comprida. Os mosquitos atacam mesmo, sem dó. O Rio Negro, por ser composto por matéria orgânica em decomposição, não atrai os insetos. No barco você estará seguro. Outro destino é a região de Três Bocas, que fica entre as ilhas do arquipélago de Anavilhanas, o segundo maior de água doce do mundo. A exploração é feita de lancha. É possível avistar araras, bichos-preguiça e tucanos. O turista também faz outros dois passeios: um à noite para avistar jacarés e outro pela floresta alagada. Foto: Milene Moreto/AAN Rio negro tomado pelas folhas Ainda na região do Rio Ariaú, o passeio pela floresta inundada é um dos mais bonitos. O que se vê é uma vegetação que cobre o rio e forma um tapete verde de folhas minúsculas, árvores que se colocam como túneis entre os afluentes, uma beleza tão impressionante que merece uma longa contemplação. Nesse passeio, o visitante verá os famosos macacos-de-cheiro, atrevidos e desinibidos que pulam na lancha, pegam comida e voltam para a floresta. Entre botos, piranhas e índios Passar pela Amazônia sem ver o boto e nadar com ele é como ir a Roma e não ver o papa. Uma plataforma localizada na região de Acajatuba não parece muito promissora. O turista entra na água e, quando um monitor se aproxima com um balde de peixe, lá estão eles, brincalhões e dispostos a nadar sem timidez. Antes de interagir, todos recebem instruções sobre onde tocá-los e como aproveitar ao máximo esse momento. Piranhas Um dos passeios que, no roteiro, despertou menos interesse, mas acabou na lista dos favoritos, foi a pesca de piranhas. Se você acha que pescar é algo um pouco chato e sem fortes emoções, a menos que você tenha um talento nato para a coisa, experimente fazer isso numa lancha praticamente só com mulheres e que falam todas ao mesmo tempo. Teve anzol que quase parou no olho da colega, teve pesca de “galhos” e, por incrível que pareça, teve pesca de piranha. A dica é não pular esse passeio.  A viagem termina no encontro das águas, quando o Rio Negro corre paralelamente ao Solimões. Os dois não se misturam, o que resulta um dos espetáculos mais belos da região. Foto: Milene Moreto/AAN Turistas nadam com o boto Amazônia e tradições É hora de saber um pouco sobre os moradores da Amazônia, mas na visão das comunidades ribeirinhas e das tribos do Rio Negro. O primeiro desembarque é na comunidade dos Kambeba, instalada às margens do Rio Cuieiras. São as crianças que recepcionam os turistas, dançam e pintam os rostos com urucum. O professor Tomé Cruz, de 32 anos, explica como eles se organizam. Para as atividades do dia a dia, se dividem em grupos e cada um cuida de um setor, como preparação da comida, ensino e caça. Os moradores têm acesso à saúde e educação. Tem até internet, mas eles preservam a língua e suas tradições. Quem organiza as atividades e resolve os conflitos é Tuxaoa, o cacique, geralmente o mais velho, ou alguém escolhido pela comunidade. Depois de ter migrado para vários pontos da Amazônia, a tribo, que vive hoje no Rio Negro, chegou a Manaus em busca de assistência e, posteriormente, foi morar próximo ao Rio Cuieiras. Foto: Milene Moreto/AAN Crianças da tribo Kambeba, que vivem às margens do Rio Cuieiras Hoje, recebe os turistas e lucra com as visitas. Por lá é possível comprar artesanato como colares feitos de semente, cestos de cipó, brincos com penas e peças de madeira. Mesmo que você vá por conta para a Amazônia é difícil ter acesso a uma tribo isolada. É necessário autorização e alguns cuidados. Qualquer aproximação não autorizada pode colocar a vida dos índios em risco. Borracha Outro local que vale visitar é o Museu do Seringueiro, na região do Tarumazinho. O lugar mostra como foi o período de riqueza com a extração do látex, mas também revela a forma impiedosa a que foram submetidos os trabalhadores, basicamente em um regime escravo. Foto: Milene Moreto/AAN Pescaria de piranha Além da tribo dos Kambeba e do Museu do Seringueiro, a lancha faz uma parada na “casa do caboclo”. Uma família recepciona os turistas, explica como transformam mandioca em tapioca e, de quebra, oferece a iguaria para degustação. Neide, a mestra das tapiocas, ainda serve um café. Gastronomia Todas as refeições são servidas no navio. A começar com o café da manhã, repleto de frutas frescas, pães e pratos típicos, como a tapioca, que pode receber recheios diversos, entre eles o tucumã. No deck, o Grand Amazon oferece refeições rápidas na hora do almoço, mas o Restaurante Kuarup também fica de portas abertas para quem quiser algo mais elaborado. Foto: Milene Moreto/AAN Um dos pratos servido no Grand Amazon É no jantar que os sabores se revelam. Você pode escolher o que comer no serviço à la carte ou no bufê. Entre as opções estão costela de tambaqui empanada na farinha de milho com arroz de brócolis, medalhão de pirarucu, tomate e cebola, e carré de cordeiro com molho de menta e purê de batatas com castanhas. As sobremesas com cupuaçu, tapioca e castanhas também merecem destaque. No jantar regional tem tucupi e tacacá. Navio Com tantos passeios incríveis, há quem pense que o navio é um coadjuvante na viagem. Longe disso. Nos momentos em que você não estiver na lancha, várias atividades são programadas a bordo. Tem palestras sobre a Amazônia, sobre peixes e sobre o boto, além de shows após o jantar. O Grand Amazon é o único navio do grupo Iberostar. Ele foi desenhado especialmente para navegar na Amazônia. A ideia surgiu após uma visita do dono da rede à região. O encantamento foi tamanho que ele buscou informações de como um navio poderia ser construído. A embarcação navega há 11 anos e faz dois tipos de passeio: um pelo Rio Negro e outro pelo Solimões. A principal diferença entre o Grand Amazon e os navios de cruzeiro são as 75 cabines, bem mais amplas. Ao todo, a capacidade é para 150 passageiros. O capitão Tadeu Alves Fernandes explica que a principal dificuldade em se navegar pelos rios da Amazônia são as chuvas. Quando elas chegam com ventos fortes, o navio pode girar até 360 graus, mas como as águas são calmas no Rio Negro, muitas vezes ninguém a bordo percebe o que ocorreu. A jornalista viajou a convite do Grand Amazon

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