Filme de Affleck é o que melhor expressa o espírito do herói norte-americano
Ben Affleck durante o discurso de agradecimento ao Oscar 2013 de Melhor Filme por "Argo" (France Press)
Entre nove concorrentes ao melhor filme, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood se fixou em dois candidatos: 'Lincoln' (Steven Spielberg), com 12 indicações (levou somente dois), e 'Argo' (Ben Affleck), com sete. Optou pelo segundo, apesar de seu diretor não ter sido indicado, mas o compensou com as estatuetas de filme, montagem e roteiro adaptado, em um total de três (raridade na premiação), e o consagrou como o grande vencedor da 85ª edição do Oscar na cerimônia de anteontem, realizada em Los Angeles.
'Argo' narra como falsa equipe de cinema resgata seis americanos na embaixada do Canadá, no Irã, em 1979, em plena revolução islâmica. Dos quatro filmes de conteúdo político dos nove em disputa é o que melhor expressa o espírito do herói norte-americano. Heroísmo exacerbado e sem autocrítica. Não por acaso, o prêmio foi anunciado direto da Casa Branca por ninguém menos que Michelle Obama.
Ben Affleck estava tão nervoso que não falou nada interessante. “Estive aqui há 15 anos, mas não sabia o que estava fazendo (ganhou roteiro original por 'O Gênio Indomável') e não imaginava que voltaria”, disse, depois de chamar Steven Spielberg de gênio.
Mas houve surpresas. Ninguém dava um centavo pela direção de Ang Lee em 'Aventuras de Pi'. Ele não só superou o favorito Steven Spielberg, como conquistou quatro estatuetas — uma a mais que o grande vencedor da noite —, outra raridade na festa. Lee elogiou seu ator, o ótimo indiano Suraj Sharma. “Você é um milagre.” Surpreendente também o empate de edição de som para '007 - Operação Skyfall' e 'A Hora Mais Escura' — e ambos os editores são suecos.
No mais, foi um festival de favas contadas. Todo mundo sabia que Daniel Day-Lewis ('Lincoln') ganharia o prêmio de ator pelo extraordinário trabalho. Elegante e contido, fez discurso simpático e bem-humorado. A categoria atriz tampouco foi inesperada. Jennifer Lawrence ('O Lado Bom da Vida') estava no primeiro lugar das apostas e ficou tão emocionada que quase caiu.
O austríaco Christoph Waltz merecidamente foi o primeiro premiado da noite pela ótima performance em 'Django Livre'. Gentil, elogiou o diretor Quentin Tarantino e citou fala de seu personagem para mencionar o parceiro de cena Jamie Foxx.
Outra premiação esperada foi de 'Amor', do austríaco Michael Haneke, na categoria estrangeira, que agradeceu seus excepcionais atores Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva (que estava linda e elegante na plateia no dia em que completou 86 anos; só faltou ter levado o prêmio de atriz).
Anne Hathaway ('Os Miseráveis') levou a estatueta de coadjuvante. Seu discurso: “Enfim, tornou-se realidade”. Havia uma torcida muito particular pelo roteiro original de 'Django Livre'. E Tarantino levou. Nos agradecimentos, ele disse que seus filmes serão conhecidos daqui a 30 anos pelos atores que ele escalou. “E desta vez eu acertei em cheio”, citando a ausência de Leonardo DiCaprio.
A festa
A cerimônia comandada pelo cineasta e humorista Seth MacFarlane foi, como quase sempre, difícil de engolir e, no geral, arrastada e excessiva. Simpático e seguro, MacFarlane gastou inacreditáveis e aborrecidos 17 minutos para contar piadinhas, cantar e dançar na abertura.
Depois, quase todo mundo que entrava queria mostrar seus 15 segundos de graça — incluindo o bando de 'Os Vingadores' (nada engraçados). A única boa piada do mestre de cerimônia foi dizer que a história de 'Argo' era tão secreta que a Academia nem conhecia seu diretor — Ben Affleck —, esnobado na indicação da categoria.
Alguns outros momentos bons e maus: Shirley Bassie levantou a plateia cantando 'Goldfinger' (1964) na homenagem aos 50 anos da série 007, mas a equipe de efeitos visuais de 'Aventuras de Pi' desapareceu da tela bem no momento em que falava dos problemas financeiros da produtora — que, ironicamente, faliu depois do filme.
Teve ainda o momento “musicais” (que os americanos adoram e aplaudiram em pé) de alguns premiados como 'Chicago', 'Dreamgirls' e 'Os Miseráveis'. Nada que não se tenha visto em alguma outra cerimônia.