TEMA ATUAL E FUNDAMENTAL

Crise e cultura Yanomami inspiram livro da Unicamp

Publicação, que reúne estudos de professores e alunos da pós-graduação, será lançada nesta sexta-feira, na Casa do Lago, no Dia dos Povos Originários

Aline Guevara/ [email protected]
19/04/2024 às 09:11.
Atualizado em 19/04/2024 às 09:11
Capa do livro "Povos Originários do Brasil: Sentidos da crise humanitária dos Yanomami" (Divulgação)

Capa do livro "Povos Originários do Brasil: Sentidos da crise humanitária dos Yanomami" (Divulgação)

Em janeiro de 2023, a tragédia humanitária identificada na comunidade indígena Yanomami ganhou notoriedade no Brasil e no mundo: principalmente devido ao garimpo ilegal no Norte do País, essa população estava sofrendo com desnutrição, doenças, aumento de violência e rodeada pela degradação ambiental. Esse cenário estimulou a produção do livro "Povos Originários do Brasil: Sentidos da crise humanitária dos Yanomami", que reúne estudos de professores e alunos da disciplina Linguagem, Jornalismo, Ciência e Tecnologia, do Programa de Pós-Graduação em Divulgação Científica e Cultural do Labjor — Laboratório de Jornalismo da Unicamp. Com selo da Editora Pontes, o livro será lançado nesta sexta-feira (19), na Casa do Lago, às 10h, em evento aberto ao público. 

O livro foi organizado pelos coordenadores da disciplina, Graça Caldas, Fabiano Ormaneze e Margarethe Steinberger-Elias. Professores e alunos se debruçaram por meses sobre o tema para produzir o livro, que aponta a existência de 1,7 milhão de indígenas no território brasileiro, segundo o Censo Demográfico de 2022. 

A publicação reúne 13 textos que exploram diferentes aspectos sobre o tema. Por exemplo, o jornalista e doutor em Multimeios pela Unicamp Celso Bodstein assina um capítulo na obra sobre a relação dos Yanomami com a fotografia, enquanto a também jornalista e mestranda Katia Marchena elaborou um estudo sobre a cobertura da mídia sobre a crise. 

"Nosso estudo inédito mostrou que, mesmo diante dessa crise, a imprensa frequentemente aborda o tema de maneira superficial e inadequada. Durante o período analisado, os veículos de comunicação dedicaram espaço considerável ao tema, especialmente quando o presidente Lula visitou a região amazônica. Em pouco tempo, houve uma descontinuidade na cobertura por parte da imprensa, mas a crise humanitária persistiu e persiste. O governo não tem enviado assistência médica, como prometeu e isso é notícia. A imprensa tem papel fundamental para exigir ação do poder público", aponta a autora Katia Marchena, que realizou o trabalho com Caroline Neves, Fernanda Quaglio e Letícia Naísa. "Para nós, que mergulhamos no mundo dos Yanomami, também foi uma surpresa ter contato com uma cultura tão rica e uma realidade tão dura", completa.

Além dos já citados, outros autores do livro são: Juliana Sangion, Neusa Kunhã Takuá, Andressa Cristiani Piconi, Fernando Henrique da Silva, Jhonatan Dias Gonzaga, Leticia Larieira, Magali Cristina Rodrigues Lameira, Mariana Vicente Zilli, Murilo Ferreira de Sant'Anna, Pedro Augusto dos Santos, Thais Popets Alves, Valentina Melgar Bermúdez, Vanessa Lourenço de Souza e Ricardo Affonso Ferreira (fonte da entrevista cedida a Graça Caldas e Fabiano Ormaneze). Muitos são jornalistas, mas as formações são diversas e os olhares plurais.

TEMA ATUAL E FUNDAMENTAL

Como Katia deixou claro, o tema da crise sobre a população Yanomami segue, infelizmente, bastante atual. E os graves problemas não são exclusividade de uma única comunidade indígena. "Através das reivindicações de demarcações de terras indígenas, ainda estamos sobrevivendo a uma batalha contra o capitalismo, expressa em atividades como mineração, especulação imobiliária, extração de madeira, monocultura, pecuária, entre outras práticas de exploração predatórias, que colocam em risco a integridade e a cultura do meu povo, que reivindica uma área de 2.370 hectares no município de Paraty, no Rio de Janeiro", explica uma das autoras do livro, Neusa Kunhã Takuá, que é ativista pelos direitos dos povos indígenas e vice-cacique da aldeia Tekohá Dje'y, da etnia Guarani Ñandewa, localizada em Rio Pequeno, em Paraty (RJ). 

Ela fala sobre como a população indígena desenvolveu uma relação de respeito, coexistência e reciprocidade com a natureza. "No geral, as nossas contribuições são essenciais para o bem-estar contínuo dos ecossistemas brasileiros e para a luta global contra a degradação ambiental", afirma Neusa.

A professora Graça Caldas enfatiza que existe uma dívida histórica do Brasil com a população indígena. "Eles, em suas diferentes etnias, não são apenas personagens de uma história que acabou, mas fazem parte da nossa realidade atual, participando de nossa sociedade. Eles ocupam novos espaços nas cidades, nas universidades, na literatura, na política, reivindicando seus direitos na sociedade brasileira, oferecendo à sociedade um pouco de sua cultura. Existe uma riqueza muito grande nessa troca", conclui a docente. 

PROGRAME-SE

Lançamento do livro "Povos Originários do Brasil: Sentidos da crise humanitária dos Yanomami"

Quando: Sexta-feira, 19/04, às 10h

Onde: Casa do Lago - Av. Érico Veríssimo, 1.011, Cidade Universitária, Campinas

Entrada gratuita

Informações: www.ponteseditores.com.br e Instagram @editorapontes

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