Com uma obra ainda em construção, mas já considerado um dos maiores autores de sua geração, o curitibano Luís Henrique Pellanda, 45, lança novo livro
Pellanda: contos compõem um mosaico das brutalidades cotidianas (Maringas Maciel/Divulgação)
Com uma obra ainda em construção, mas já considerado um dos maiores autores de sua geração, o curitibano Luís Henrique Pellanda, 45, lança, nesta terça-feira em São Paulo, a sua segunda obra de ficção. Depois de estrear, em 2009, com o volume de contos O macaco ornamental, e de publicar três aclamados livros de crônicas, ele retorna ao gênero de origem com as 28 narrativas de A Fada Sem Cabeça (Arquipélago Editorial) – são contos que misturam memória e pesadelo e trazem personagens marcados por experiências traumáticas, de amor, violência e morte. Manejador hábil do idioma e explorador escrupuloso das sutilezas e sinuosidades da língua, dono de uma imaginação vertiginosa mas contida por uma prosa precisa, em A Fada Sem Cabeça Pellanda conta histórias que se passam na periferia do país, em centros urbanos ou zonas rurais, e que compõem um mosaico de nossas brutalidades cotidianas. Há o agenciador de encontros amorosos entre um artista e suas fãs, o menino que busca salvar o pai fascista da depressão, o trabalhador do campo que acorda metamorfoseado em criatura fantástica, o anjo disfarçado de morador de rua. Em troca de mensagens, na tarde de ontem, com a reportagem do Correio, o escritor falou sobre seu projeto literário e sobre como se coloca, como autor e pessoa, ao exercer ora a função de contista, ora a de cronista. Projeto literário “Difícil definir meu projeto literário, pois não é algo que eu tenha um dia definido em detalhes, digamos assim. Mas é algo que aconteceu em minha vida de modo imperativo. Precisei escrever. Sempre tive alguma facilidade para a fabulação de histórias curtas, o que, de certa forma, me ajudou a consolidar o que poderia talvez ser chamado de carreira de cronista. Comecei, no entanto, como contista, em 2009, com O macaco ornamental. De lá pra cá, porém, por questão de mercado mesmo, não consegui lançar novos contos, e me mantive nas prateleiras com minha produção de cronista. Escrevi cerca de 500 crônicas na última década, e lancei três livros do gênero. E só agora me ressurgiu a oportunidade de lançar novos contos. Este é, aliás, um ano interessante para o conto brasileiro: muita gente publicou livros de contos no país, depois de um período em que se privilegiou, talvez demais, o romance.” O contista e o cronista “Como contista, procuro espelhar o cronista que sou, mas digamos que um seja o reflexo em negativo do outro. A crônica é um gênero tradicionalmente mais solar, e nela eu me exponho inclusive como personagem, falando sobre a vida, a violência, o amor e a resistência nas cidades brasileiras desse início de século, e isso a partir de Curitiba, capital que, pela primeira vez na história, assumiu um papel mais central na política nacional. Cronista, proponho uma visão de mundo que defendo e que, apesar de seu caráter literário, às vezes ficcional, é minha. Como contista não. Exploro outras visões de mundo, pois crio diversos personagens, elaboro vozes variadas, em geral masculinas, homens cujo comportamento me contraria ou mesmo repugna. Faço isso na intenção, quem sabe, de analisar e entender melhor o momento de exacerbação por que passamos. Nos contos, portanto, não falo das cidades, da luta pela convivência, e sim da cultura de cada um e dos brasileiros em geral, que cada vez mais oscila entre a paixão e a truculência.” Nascido em 1973 e criado no Bairro Capão Raso, em Curitiba, filho de pai motorista e mecânico e mãe professora, Luís Henrique Pellanda frequentou um colégio católico, que teve de abandonar devido ao seu comportamento pouco conservador. Jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, trabalhou nos jornais Gazeta do Povo e Primeira Hora. Foi subeditor e colunista do jornal literário Rascunho e coeditor e cronista do site de crônicas e ilustrações Vida Breve. Seu primeiro livro, O macaco ornamental (Bertrand Brasil) classificou-se em segundo lugar no Prêmio Clarice Lispector 2010, categoria conto, concedido pela Fundação Biblioteca Nacional. O livro de contos Nós passaremos em branco foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura, em 2012. Escreveu também Asa de sereia (crônicas, 2013) e Detetive à deriva (crônicas, 2016) e organizou os dois volumes de As melhores entrevistas do Rascunho, todos publicados pela Arquipélago Editorial. PARA LER A Fada Sem Cabeça, Arquipélago Editorial (176 págs., R$ 39,90) Autor: Luís Henrique Pellanda Lançamento: nesta terça-feira, 18/09, às 19h, na Blooks, R. Frei Caneca, 569, Consolação, São Paulo, Capital