CADERNO C

Conhecendo a história negra em Campinas

Projeto ‘Rotas Afro’ leva estudantes da rede municipal por pontos do Centro da cidade que marcam a herança afro-campineira

Aline Guevara/[email protected]
20/11/2024 às 14:12.
Atualizado em 20/11/2024 às 14:12
No projeto ‘Rotas Afro’, vários grupos de alunos tiveram a oportunidade de conhecer a história da Travessa Vicente de Paula, no Largo das Andorinhas, que sediou o antigo Pelourinho de Campinas (Rodrigo Zanotto)

No projeto ‘Rotas Afro’, vários grupos de alunos tiveram a oportunidade de conhecer a história da Travessa Vicente de Paula, no Largo das Andorinhas, que sediou o antigo Pelourinho de Campinas (Rodrigo Zanotto)

Ao andar pelo Centro de Campinas, o campineiro percorre muitos locais que podem passar despercebidos na correria do dia a dia, mas são marcas importantes da história da cultura negra, que precisa ser valorizada para além do Dia da Consciência Negra, neste 20 de novembro. A Rota Afro na cidade é uma das iniciativas que buscam chamar a atenção para a herança afro-campineira, muitas vezes invisível para os moradores da cidade. 

A Rota Afro é um passeio a pé de cerca de três horas por nove pontos da cidade. Ela começa no Largo São Benedito, passa pela Estátua da Mãe Preta, pela Catedral Metropolitana de Campinas, atravessa o Largo do Rosário, chega à Praça Bento Quirino, vai até o Largo das Andorinhas e finaliza no Largo Santa Cruz. Cada um desses pontos, construções, monumentos, está ligado ao legado construído pela população negra. "Passear pelo território é um jeito de pertencer à cidade de uma forma diferente", comenta Julia Madeira, pesquisadora e idealizadora do projeto. 

Na cidade, a Rota Afro é uma iniciativa realizada em conjunto com a Secretaria Municipal da Educação de Campinas que visa levar cerca de 4 mil estudantes da rede pública para o passeio. Até o final do mês, todas as turmas das 34 escolas contempladas terão completado o percurso. 

Para Julia, é especial poder fazer a Rota Afro com jovens que ainda estão em formação. "Tentamos trazer novas perspectivas para esses adolescentes, de pertencimento e admiração pelo povo negro. Em vez de falar sobre a senzala, por exemplo, falamos sobre as tecnologias trazidas pelo povo africano. Poder compartilhar isso com as novas gerações é continuar um trabalho do movimento negro de formação de base", aponta a idealizadora. 

O projeto Rotas Afro atende os alunos das cidades envolvidas (Campinas, Piracicaba, Vinhedo e, em breve, Sorocaba), mas também grupos de professores, e ainda há tours abertos para adultos interessados. Em dezembro, em uma data a ser definida, vai acontecer um tour da Rota Afro em Campinas para adultos. Detalhes vão ser divulgados no Instagram do projeto: @rotasafro

HISTÓRIA DA ROTA 

O projeto Rotas Afro foi criado em 2019 por Julia Madeira, guia turística e pesquisadora de território negros dentro do turismo. O primeiro passeio foi concebido em Piracicaba e, para tanto, a idealizadora consultou pesquisas acadêmicas, outros pesquisadores, até mesmo de tradições orais na cultura negra do município, para levantar um mapeamento. "Normalmente, a perspectiva dentro do turismo é muito mais eurocêntrica, então eu via a necessidade de valorizar esses territórios negros. Parcela desse conhecimento é parte do estudo dessas pessoas sobre patrimônio negro." 

Quando a Rota foi desenvolvida para Campinas em 2021, não foi diferente. Um dos cocriadores da Rota Afro de Campinas é o historiador e mestre em História da África, Guilherme Oliveira. Ele já havia mapeado pontos da cidade relacionados à história da cultura negra ao participar de um projeto da Unesco chamado Campinas Afro, e trouxe esse conhecimento para o projeto Rotas. 

"Nossa região se desenvolveu economicamente desde o século 18 a partir do trabalho da população de origem africana escravizada. Não existe história de Campinas sem pensarmos no protagonismo negro. Mas ao mesmo tempo que essa população foi fundamental para o desenvolvimento do território, é uma população que foi constantemente marginalizada e que teve sua contribuição apagada", esclarece o estudioso. 

Campinas, reforça Guilherme, teve uma cultura escravocrata muito forte, portanto o Rotas Afro se faz particularmente importante como projeto neste território. "O Rotas Afro visa retomar o protagonismo de uma população historicamente negligenciada. A educação é uma ferramenta forte de transformação social. E a educação antirracista é fundamental para termos uma sociedade antirracista", complementa.

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