"Com Clarice" esboça um retrato sensível de uma mulher, à primeira vista, indecifrável
Clarice Lispector (1920-1977) sempre foi devotada aos amigos, especialmente escritores. Diante deles, não era um ser fechado, amargurado, como se perfilava a partir de sua escrita intimista - na verdade, Clarice mostrava-se atenciosa e invariavelmente convidava as pessoas para a visitarem. No rol das amizades, destacava-se o casal Marina Colasanti e Affonso Romano de Sant’Anna. Ambos a conheceram quando já era escritora consagrada, mas cultivaram com ela uma relação de profunda amizade, que percorreu os caminhos da literatura e da vida. É o que se observa em "Com Clarice" (Editora Unesp, 256 págs., R$ 38,00), volume em que Marina e Sant’Anna esboçam um retrato sensível de uma mulher, à primeira vista, indecifrável. Por isso, o livro apresenta facetas por meio de estudos acadêmicos até da transcrição de um importante depoimento dado por Clarice ao Museu da Imagem e do Som do Rio, em 1976, e do qual participou o casal de amigos, a pedido da escritora. “Ela estava particularmente feliz naquele dia, sorrindo várias vezes” lembra-se Sant’Anna, que teve a ideia da obra graças aos incessantes pedidos de pessoas que escreveram livros relevantes sobre Clarice: resolveu oferecer sua visão e a de Marina, lembranças de afeto e epifanias.