Houve momentos da mais profunda emoção. Alain Fresnot lembrou como a Cinemateca Brasileira foi importante em sua vida. Muito jovem, ele estagiou ali, onde fez sua formação humana e cinematográfica. Foi no fim da manhã da última quinta, 4, o ato em defesa da instituição, em frente ao prédio do antigo Matadouro de São Paulo (foto), que abriga a instituição. Os cinéfilos sabem - é um prédio belíssimo. Mas tem andado à míngua. O protesto organizado em plena pandemia foi para chamar a atenção sobre a Cinemateca. Reuniu cineastas, funcionários, cinéfilos. Roberto Gervitz, um dos organizadores, lançou o alerta. "A Cinemateca está sem dinheiro até para pagar a luz. E isso pode comprometer a memória cinematográfica do País." A Cinemateca Brasileira, uma das maiores do mundo, abriga o maior acervo audiovisual da América Latina. Esse material original em celuloide é altamente inflamável. Depende de equipamentos que o mantenham refrigerados, a uma temperatura constante. São filmes de ficção, documentários, cinejornais que preservam a história do País e do mundo pelo cinema. Sem luz, os equipamentos ficam desligados e o risco de autocombustão é enorme. O Brasil pode perder sua memória audiovisual. A crise da Cinemateca vem desde 2013. Acirrou-se no ano passado, quando uma parte do contrato do Governo Federal com a Organização Social que administra a entidade - Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (Acerp) - foi encerrada por iniciativa do MEC. A Secretaria Especial de Cultura, vinculada ao Ministério do Turismo, é o órgão responsável pela Cinemateca.Sem resolver o imbróglio da reintegração à União, a nomeação da ex-secretária Regina Duarte fica sem efeito. A situação instável prolonga-se. Sem salários e agora possivelmente até sem luz, a Cinemateca não tem condições de exercer as funções para as quais foi criada. No protesto da manhã de quinta, foi lido um documento de apoio de 30 instituições de cinema, conservação e restauro, do Brasil e do mundo, incluindo as Cinematecas da Suíça e da França. O documento pede a formação de uma "comissão com membros indicados pelas principais entidades cinematográficas do País a fim de que se estabeleça um contato formalizado e periódico, condição sine qua non para que se trabalhe com transparência". Em ofício ao governo federal, a Acerp pede o esclarecimento de questões ainda indefinidas.