CULTURA NACIONAL

Cinema que vive e pulsa

A indústria cinematográfica brasileira está em um momento de otimismo e de retomada de incentivos públicos para produção e finalização de filmes

Aline Guevara/[email protected]
16/06/2024 às 13:52.
Atualizado em 17/06/2024 às 18:41
 (Reprodução internet)

(Reprodução internet)

O próximo 19 de junho é uma data de celebração da cultura nacional.O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado nessa ocasião pois no mesmo período, em 1898, o italiano Afonso Segreto registra, com seu equipamento de cinematógrafo, as primeiras imagens em movimento no país. Na época, ele estava a bordo do navio Brésil e capturava um vídeo da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Após 126 anos, o cinema perdura em terras verdes e amarelas, já plenamente estabelecido como uma de nossas principais formas de expressão cultural e com muitos exemplos que refletem a potência da nossa arte.

PANORAMA EM 2024

O cinema brasileiro vive atualmente um momento de recuperação, após o Governo Federal anterior praticar um desmonte do Ministério da Cultura (que deixou de existir no período) e constantes ataques à indústria e aos artistas do meio, explica o professor de História e Teoria do Cinema da Unicamp, Alfredo Suppia. “O cinema é uma arte que demanda apoio estatal sistemático, porque depende de uma cadeia de produção grande e longa. Então, sob ataque, o cinema tende a sofrer bastante.” Ele lembra que mesmo imerso nesse cenário, o cinema brasileiro, em resistência, entregou grandes filmes que se destacam nacional e internacionalmente. Foi o caso de “Bacurau” e “A Vida Invisível”. Mas foi visível a diminuição de produção e de distribuição nos anos seguintes.

Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em um ano sem a Cota de Tela (legislação que asseguraummínimo de obras nacionais no cinema ou na televisão), em 2023 os filmes nacionais levaram 3,7 milhões de espectadores aos cinemas – um resultado 84,6% menor do que o registrado em 2019 —demonstrando a baixa produção de obras nos anos imediatamente anteriores a 2023.

Os números de 2024 mostram uma grande melhora: nos primeiros meses do ano, os filmes brasileiros foram vistos por 5 milhões de pessoas, ampliando a competitividade da indústria nacional frente às produções estrangeiras.

“Muitos cineastas enfrentaram no governo anterior dificuldades para terminar seus filmes, manter a produção, fazer a distribuição. É um cenário que vem mudando, está mais favorável para os artistas. A gente vê as pessoas mais animadas”, analisa Alfredo, com base nas informações trocadas com idealizadores que vão até a Unicamp para mostras e exibições especiais.

INCENTIVO PÚBLICO NECESSÁRIO

A discussão em torno desse tópico é comum na internet, mas o professor da Unicamp garante que no Brasil não é possível fazer cinema sem incentivos públicos, ainda que parcialmente. Afinal, não há como uma indústria que movimenta tantos profissionais e recursos, que no país está longe de ter a força da equivalente norte-americana, por exemplo, competir de igual para igual com as produções bilionárias de grandes conglomerados, como a Disney. “E a gente precisa entender que o cinema é um mercado importante e estratégico para o País. Além de explorar a cultura brasileira, ele gera emprego aqui, gera renda, gera impostos recolhidos aqui, movimenta o consumo local. Não tem problema nenhum existir dinheiro público investido, pois o cinema brasileiro gira a nossa economia. Isso é um modelo seguido na França, no Reino Unido. Quando um filme da Disney estreia, ele deixa um pouquinho de dinheiro no País para a cadeia de distribuição e leva um monte de dinheiro para fora”, explica Alfredo.

Nem tudo são flores, mesmocom o otimismo momentâneo. Um dos maiores problemas do cinema nacional é a distribuição. Quando o filme nacional entra em cartaz – normalmente em centros urbanos com muitas opções de salas –, muitas vezes fica restrito em horários de menor público e sai rapidamente do cinema em uma ou duas semanas. Alfredo aponta que algumas estratégias, somadas, poderiam auxiliar no problema, como as linhas de fomento estatal direcionadas para a distribuição e as legislações (algumas já em vigor) que estabeleçam as cotas de tela em salas de cinema e plataformas de streaming. “Mas, historicamente, temos a prevalência dos interesses comerciais. Quando há uma movimentação do governo e da classe artística no País que começa a prejudicar os lucros dos grandes grupos transnacionais, começa a ter uma reação. É umjogo difícil e complexo, pois são muitas frentes diferentes”, completa o acadêmico.

STREAMING EM FESTA

Em razão do Dia do Cinema Brasileiro, a Netflix vai receber em seu catálogo no dia 19 de junho 16 filmes brasileiros consagrados, de títulos mais famosos a outros menos conhecidos.

São: “Central Do Brasil” (1998), “São Paulo, Sociedade Anônima” (1965), “Rio, 40 Graus” (1955), “Pacarrete” (2019), “Vidas Secas” (1963), “Jogo De Cena” (2007), “Terra Estrangeira” (1995), “Mutum” (2007), “Santo Forte” (1999), “A Luz Do Tom” (2013), “Entreatos” (2004), “Uma Noite Em 67” (2010), “A Ostra E O Vento” (1997), “As Canções” (2011), “Últimas Conversas” (2015) e “No Intenso Agora” (2017).

Já estão disponíveis na plataforma os recentes e premiados “Propriedade” e “Sem Coração”, lançados nos cinemas em 2023 e 2024, respectivamente.

18 filmes brasileiros essenciais para conhecer a história do cinema nacional:

  • “Ganga bruta” (1933), de Humberto Mauro
  • “O Cangaceiro” (1953), de Lima Barreto
  • “Rio, 40 graus” (1955), de Nelson Pereira dos Santos
  • “O homem do Sputnik” (1959), de Carlos Manga
  • “O pagador de promessas” (1962), de Anselmo Duarte
  • “Vidas secas” (1963), de Nelson Pereira dos Santos
  • “Deus e o Diabo na terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha
  • “São Paulo, sociedade anônima” (1965), de Luís Sérgio Person
  • “O bandido da luz vermelha” (1968), de Rogério Sganzerla
  • “Eles não usam black-tie” (1981), de Leon Hirszman
  • “Cabra marcado para morrer” (1984), de Eduardo Coutinho
  • “Carlota Joaquina, princesa do Brasil” (1995), de Carla Camuratti
  • “Que bom te ver viva” (1989), de Lúcia Murat
  • “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles
  • “Cidade de Deus” (2002), de Kátia Lund e Fernando Meirelles
  • “Branco sai, preto fica” (2014), de Adirley Queirós
  • “Que horas ela volta?” (2015), de Anna Muylaert
  • “Bacurau” (2019), de Kléber Mendonça Filho
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