O Núcleo é um dos mais antigos do País e celebra o cinquentenário de olho no futuro, implantando a digitalização de seu acervo para preservar a história e ampliar o acesso público
(Divulgação)
O Núcleo de Cinema de Animação de Campinas, referência mundial na produção de filmes animados, celebra 50 anos de existência em 2025. Com um acervo de 400 curtas-metragem e dois longas de animação, a ideia do fundador Wilson Lazaretti é, em breve, disponibilizar toda essa produção pela Internet. A celebração de 50 anos do Núcleo prevê, além de uma programação diversificada no mês de abril, também a digitalização completa do acervo para preservar a história e ampliar o acesso ao público e pesquisadores de todo o mundo.
Para o pioneiro Lazaretti, a digitalização também é uma oportunidade de adaptação às novas tecnologias. "Hoje, quase qualquer pessoa pode ter acesso aos instrumentos para fazer animação. Usamos a tecnologia para facilitar a produção e economizar recursos, mas sempre com o cuidado de preservar o traço próprio do artista e o desenho animado autoral, que deve ter a alma de quem o produz", explica. O projeto de digitalização, segundo ele, não apenas salvaguarda a memória do cinema de animação, mas também representa um salto de qualidade na preservação e na pesquisa cinematográfica.
"Além de guardar a memória da produção de animação campineira e brasileira, os conteúdos dos filmes tratam da história de personalidades como Carlos Gomes, Guilherme de Almeida e José de Castro Mendes, além das obras desses artistas. Mas precisamos pensar também na preservação dos originais, como os desenhos em papel que foram fotografados para os filmes e até os equipamentos do Núcleo", explica Maurício Squarisi, cofundador do Núcleo.
FILOSOFIA E ANIMAÇÃO
Fundado em 10 de abril de 1975, o Núcleo de Cinema de Animação de Campinas é o segundo núcleo mais antigo em funcionamento no mundo. Desde sua criação, a instituição desempenhou um papel pioneiro na produção de animações no Brasil, acumulando uma vasta coleção de filmes que marcaram gerações.
A digitalização do acervo, que conta com apoio do Museu da Imagem e do Som (MIS), pretende preservar e disponibilizar esse material histórico, garantindo que ele possa ser estudado e apreciado por futuras gerações.
Lazaretti conta que tudo começou quando ele foi chamado, aos 21 anos de idade, a "dar aulas de cineminha" para as crianças do Conservatório Carlos Gomes, convite feito por dona Léa Ziggiatti. Na época, o cinema vivia o boom das produções em Super 8, e como as crianças gostavam de desenhar, ele incentivava a manutenção dos traços próprios, mesmo com as referências da época, que eram os personagens da Disney.
"Começamos a produzir, mas mantendo as criações que respeitavam os traços particulares, e essa sempre foi a nossa marca, sem a preocupação de fazer o que o mercado quer", comenta Gomes. Suas produções foram exibidas em vários países, como Canadá, EUA, Itália e Portugal. Com as mudanças tecnológicas e sem apoio financeiro para comprar equipamentos, os fundadores do Núcleo fizeram parceria com a TV Cultura. "Filmávamos nossas criações com os equipamentos deles e cedíamos o seu uso. Com isso, os curtas produzidos por nossos alunos de 10 a 12 anos de idade eram exibidos no programa infantil Bambalalão (1980-1990), da TV Cultura, sendo assistido em todo Estado", conta Lazaretti.
O Núcleo de Cinema de Animação de Campinas sempre funcionou com o apoio de alguns artistas de Campinas e manteve a filosofia de "incentivar os traços que vêm da alma de cada pessoa, pois o desenho animado é uma arte que tem uma expressão muito particular, não é copiar modelos", diz o fundador. Além da relevância artística, o Núcleo alcançou milhares de pessoas ao longo de sua história, por meio de exibições, oficinas e festivais. Hoje, oficinas rápidas de animação são oferecidas em várias regiões do Brasil, principalmente em escolas e instituições públicas.
LEGADO E IMPACTO MUNDIAL
Mesmo com essa trajetória de cinco décadas, o Núcleo não tem uma sede própria. Hoje, as aulas acontecem em uma sala cedida no Jardim Aurélia e os acervos se dividem guardados nas casas dos fundadores. Os negativos, que são mais sensíveis, ficam em sala climatizada da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) em São Paulo.
"Com o processo de digitalização, o acervo poderá ser catalogado e a próxima etapa será a inclusão das informações desse acervo na plataforma Tainacan, acessível a pesquisadores de todo o mundo. O processo está previsto para ser concluído ainda no primeiro semestre deste ano", complementa o diretor municipal de Cultura, Gabriel Rapassi.
Com esse processo de digitalização, o fundador Lazaretti espera garantir "que as futuras gerações possam conhecer a história do Núcleo e, mais do que isso, continuar se inspirando para criar suas próprias animações e projetos artísticos".
Mas é preciso dar continuidade a esse trabalho, por isso o cofundador Mauricio Squarisi afirma: "estamos estimulando os discípulos do Núcleo a assumirem a continuidade nos próximos 50 anos. Acredito que ficará sob a responsabilidade deles conseguir uma sede física para o Núcleo e organizar o museu com filmes, desenhos originais e equipamentos desses primeiros 50 anos".
Quem quiser conhecer o trabalho, as oficinas e mais detalhes da história do Núcleo pode acessar o site https://nucleodeanimacaodecampinas.blogspot.com/ ou assistir ao canal https://www. youtube.com/@nucleodeanimacaodecampinas
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