CINEMA

Cineasta filipino ganha retrospectiva em Mostra de SP

Lav Diaz produziu longas-metragens que chegam a ter 12 horas de duração: filmes 'livres'

João Nunes/Especial para o Correio
correiopontocom@rac.com.br
29/10/2013 às 16:50.
Atualizado em 26/04/2022 às 08:05

Um cineasta incomum. Esta é uma das definições possíveis para o filipino Lav Diaz. E a razão está no modo como realiza filmes: eles podem chegar a oito, 11 ou 12 horas. Lav, de 55 anos, veio para a 37ª Mostra Internacional de São Paulo como júri e a fim de acompanhar a retrospectiva de seus 12 filmes, e nem gosta de se ater muito a esse ponto — que pode soar exótico. Prefere falar daquilo que o move: realizar “uma boa obra com o objetivo de que permaneçam para futuras gerações”.Nas sessões em São Paulo foram poucos os que se arriscaram a permanecer até o fim. É um teste de resistência. Nas Filipinas não é diferente. São intelectuais e pessoas interessadas em arte os principais expectadores. Está consciente de que não consegue atingir as massas, “pois estas estão interessadas no cinema comercial, o que seria um processo natural”.Lav Diaz conta que a distribuição em seu país é controlada por sindicatos e a estes só lhes interessa o cinema industrial. Seu espaço acaba sendo centros culturais, universidades e locais alternativos. E, para ele, seus filmes não são longos, “são livres”.Confiante no próprio trabalho, o diretor não reclama, pois entende que fez opção. “Não me interessa o cinema de mercado”, afirma convicto. Sabe também que tem espaço garantido nos festivais, nos quais a receptividade é grande. E fica satisfeito que isso ocorra; afinal, a consagração internacional veio por causa dos festivais.Pergunto como financia produções que não têm retorno comercial. São filmes muito baratos, diz. E possui rede de amigos que o ajudam e trabalha com equipe reduzida. Além disso, recebe aporte financeiro de festivais, como o de Roterdã (Holanda), por exemplo.O cineasta afirma que tenta retratar o povo filipino em sua obra. “Acho que as pessoas do meu país estão representadas nas histórias que conto; pelo menos me esforço para que isso aconteça”. IntercâmbioSegundo ele, há pouco intercâmbio entre os países vizinhos das Filipinas. Mesmo assim, destaca que nos últimos dez anos a relação com Malásia e Indonésia evoluiu. Mas sente dificuldades em difundir o cinema nas Filipinas onde não há escolas específicas.E, não diferente do Brasil, o país está tomado pelos piratas, que ele vê como revolução. Por um dólar, pessoas que nunca teriam acesso às salas de exibição podem ver produções do mundo todo — inclusive as dele, que também podem ser baixadas.Sobre a experiência de São Paulo, disse ter ficado muito feliz. É a primeira retrospectiva de todos os seus filmes. “A Mostra foi corajosa em fazer isso enquanto festivais consagrados na Europa levaram três ou quatro de meus trabalhos”.Sobre o cinema brasileiro, nenhuma novidade. Conhece apenas 'Cidade de Deus', de Fernando Meirelles (2002). Aproveito e lhe digo que o filme brasileiro que provocou maior impacto desde 'Cidade de Deus' chama-se 'O Som ao Redor', de Kleber Mendonça Filho. Ele se interessa em ver e pede para eu anotar o nome num papel. FilmeNão tive tempo para encarar a maratona de oito, 11 ou 12 horas para ver um filme de Lav Diaz. Apostei em tarefa mais simples e assisti a um dos primeiros trabalhos dele, 'Nu sob o Luar' (1999), com apenas duas horas — quase um curta-metragem em se tratando de Diaz.Não há como comparar com obras recentes — como 'Norte, o Fim da História', de 2013 —, pois se trata de trabalho em começo de carreira e que teve imposições do estúdio produtor. Mas ressalte-se a ambientação impressionista e a iluminação sugestiva e atraente parar narrar a sequência de tragédias de uma família rural.

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