LITERATURA

Cidade de Campinas ganha sua primeira Ecoteca

Biblioteca ecológica é inicativa da Associação de Assistência Social São João Vianney

Fábio Trindade
17/03/2013 às 16:11.
Atualizado em 26/04/2022 às 00:23
Rafaela de Oliveira Santos (à esq.) e Larissa Aparecida Ramiro durante inauguração da Ecoteca (Rodrigo Zanotto/Especial para AAN)

Rafaela de Oliveira Santos (à esq.) e Larissa Aparecida Ramiro durante inauguração da Ecoteca (Rodrigo Zanotto/Especial para AAN)

Despertar o gosto pela leitura nas crianças e nos jovens é o desejo de toda escola, entidade, instituição, editora, livraria e por aí vai. Uma vontade que briga diretamente com a era digital, que continua dominando a atenção dessa geração. Os e-readers e e-books foram criados para tentar promover, ao invés de combater, uma parceria entre a tecnologia e a literatura. Vem dando certo, mas atinge apenas uma pequena parcela da sociedade. Estimular o gosto pela leitura depende diretamente de acesso aos livros, o que ainda é uma difícil missão por um simples motivo: o preço.

Comunidades de baixa renda dependem, exatamente por isso, de parcerias para conseguir oferecer mais do que publicações didáticas e trazer para seus jovens os caros, e importantes, claro, livros. Quando isso acontece, a satisfação é tão grande por parte dos envolvidos que é importante registrar essas iniciativas, com o intuito de que novas parcerias sejam firmadas. E, agora, chegou a vez da Associação de Assistência Social São João Vianney, uma organização não governamental que cuida de crianças carentes da Vila Georgina, sentir o prazer de oferecer mais leitura a seus acolhidos.

Porém, mais do que trazer publicações aos jovens, o local recebeu a primeira Ecoteca de Campinas, uma biblioteca ecológica. Trata-se de uma espécie de banca de revistas feita de caixas de leite que tem a função de emprestar livros para a comunidade e funcionar como espaço para manifestações artísticas, apresentação de teatro de fantoches, contação de histórias, saraus musicais e literários, encenações infantis e, certamente, o que mais a imaginação permitir.

“Ao trabalhar com escolas, associações, principalmente municipais, é nítida a falta de espaços reservados para a leitura. Algumas até oferecem obras, mas não possuem um espaço para a criança ficar quieta, concentrada, curtindo o livro. Por isso, mais do que oferecer acesso, a gente sempre quis dar um espaço concreto para leitura, que se tornasse uma referência dentro da instituição para esses jovens”, explica Jonar Brasileiro, coordenador da Rede Educare, responsável pela concepção da Ecoteca. Como dito, o local, além dos livros, une a ideia com a essência da reciclagem, deixando o processo ainda mais educativo. “O conceito de reciclagem é muito amplo, de difícil entendimento para essas crianças e jovens. Então, trazer uma estrutura toda de material reciclável deixa a ideia mais próxima deles, mostra a importância e como é possível, sim, reutilizar materiais.”

Lembra do alto custo? A “caixa” cheia de livros (são 520 títulos no total), como algumas crianças chamaram carinhosamente a Ecoteca, foi de R$ 35 mil, um valor que muitas escolas e entidades conseguiriam bancar. Para a Vianney, o presente foi dado pela empresa farmacêutica Takeda, que conta com uma fábrica em Jaguariúna. “A gente gosta de apoiar projetos fixos, que vão oferecer cultura por muito tempo. E, como a nossa empresa trabalha diretamente com saúde física, mas preocupada em proporcionar uma saúde integral do corpo, o que inclui a mente, o conceito da Educare se enquadrou perfeitamente. Tanto que patrocinamos outras duas Ecotecas pelo Brasil”, afirma Viviane Mansi, gerente de comunicação corporativa da Takeda. Ao todo, a Educare já instalou 60 Ecotecas, espalhadas por diversos Estados brasileiros.

Cerimônia

O coral da empresa patrocinadora iniciou a cerimônia de entrega da Ecoteca, mas o momento mais aplaudido pelos pequenos foi quando Larissa Aparecida Barreiro, de 13 anos, e Rafaela de Oliveira Santos, de 11 anos, mostraram uma simbólica placa que firma o compromisso: “Vou cuidar e ler muito”. “Não adianta ganhar e não cuidar, se não logo a gente fica sem. Então, todo mundo aqui tem o compromisso de proteger os livros”, disse Larissa. Ela conta que adora ler, mas que fazia isso apenas em casa por ser mais calmo, aproveitando o tempo na Vianney para brincar. “Mas, agora, dá para fazer os dois. São tantas as opções de livros e a Ecoteca é tão bonita, que eu pretendo ficar muito tempo aqui. E livro é muito caro, né, a gente não tem como ficar comprando o tempo todo. Agora, temos muitas opções.”

Rafaela afirma que também é uma pequena amante dos livros. “O meu favorito é Minha Sombra (de Sérgio Capparelli, LPM Editora, 40 págs., R$ 19,90), porque a menina fica muito triste quando chove e ela não encontra mais a sombra dela. Só que bastou ela acender uma vela e lá estava a sombra dela de novo. É muito bonito.” A pequena frequenta a associação sempre no período da tarde e garante, já que terá bastante tempo, ler muito mais daqui para frente. “Vai ser muito legal, tenho certeza.” As duas, assim que o local foi revelado para os alunos, já se divertiram com o livro Dentro do Espelho, de Luise Weiss. A publicação, da editora Cosac & Naify, tem o custo médio nas lojas de R$ 44,90. Ou seja, dificilmente seria visto pelas meninas sem a Ecoteca.

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