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Cida Moreira: 60 anos de uma artista completa

Atriz, cantora, pianista e psicóloga, Cida Moreira é uma artista sem comparação no cenário brasileiro

Delma Medeiros
delma@rac.com.br
14/11/2013 às 12:05.
Atualizado em 24/04/2022 às 22:17

Dramática, intensa, trágica. Assim é a atriz, cantora, pianista e psicóloga Cida Moreira, artista que atua em várias frentes, mas sempre com foco na música. Aos 60 anos, viúva do pai de sua filha, casada pela segunda vez, Cida se orgulha da idade e afirma: “Vivi esses 60 anos todos”. A artista começou profissionalmente como atriz na peça "A Farsa da Noiva Bombardeada", de Alcides Nogueira, com o grupo de teatro experimental Pompa e Circunstância, em 1977, no qual cantava. Aliás, ela afirma que sempre canta em tudo que faz. No mesmo ano participou do espetáculo Teatro do Ornitorrinco canta Brecht e Weill, com Cacá Rosset. Depois de participação em vários musicais, se aventurou num espetáculo solo, Summertime, no início dos anos 80, em que encarou sozinha o palco, cantando e se acompanhando ao piano. O show veio a ser seu primeiro registro fonográfico. Trinta anos depois, em 2011, ela retomou a configuração piano e voz de seu álbum de estreia para lançar o disco A Dama Indigna, com um repertório que inclui canções de Kurt Weill, Tom Waits, David Bowie, Caetano Veloso, Chico Buarque e Amy Winehouse, entre outros. Foi esse repertório, denso e dramático, que ela apresentou no show homônimo feito no Almanaque Café, em outubro, quando concedeu entrevista exclusiva ao Caderno C. Correio Popular — Seu mais recente CD e show levam o nome "A Dama Indigna". Quem é essa dama indigna?Cida Moreira — Esse é o nome de um poema lido antes do início do show, que foi escrito para mim em 1995, pelo diretor de teatro Marcelo Fonseca. Ele me viu cantar em algum lugar em São Paulo e escreveu o poema chamado A Dama Indigna, um poema muito lindo. Na realidade, o que aconteceu é que quando fui montar o repertório que eu gravei e depois virou show, me lembrei desse poema e achei que se adequava perfeitamente àquele momento. Isso foi em 2011. Então a gente colocou isso no show. O poema é falado pelo Danilo Grangheia, um ator maravilhoso. E o que é a dama indigna? Acho que é uma metáfora teatral, uma referência clara a toda uma postura de cabaré, de entretenimento, porque a dama indigna é uma mistura de várias coisas minhas, uma síntese que eu fiz da minha carreira. Estava completando 30 anos de carreira em 2011. Mas acho que, principalmente, é uma metáfora de um personagem que é a minha persona. É mais um personagem cantando que uma pessoa física. O clima de cabaré é algo muito presente na sua carreira.É mesmo, não sei dizer quando tudo começou, não sei localizar no tempo. Desconfio que foi já quando cantava com os primeiros trabalhos de teatro, ligados à universidade, essa coisa mais política. Acho que é por aí que isso começou a se definir.E nesse trabalho o que você privilegia? Eu privilegio sempre a palavra, eu escolho uma música para cantar em primeiro lugar pela letra, depois pela música. Então as músicas que A Dama Indigna me trazem são coisas ligadas à minha alma de artista, reflexões que falam de mim mesma. É um repertório muito voltado nesse sentido, bem intimista e com momentos de muita explosão. Mas mesmo essa explosão é muito só minha, não é uma coisa que eu faça para o público. Na verdade, eu canto pra mim.Você escolhe o repertório que te toca mesmo? Eu aprendi isso ao longo de tantos anos. Uma coisa que adquiri foi a absoluta liberdade.Nesse álbum você retomou o modelo voz e piano de seu primeiro disco. Por que esse retorno? É como se fosse um Summertime 2, só que com 30 anos de diferença. Ouço um e o outro e são duas pessoas diferentes cantando e tocando piano. Acho que tem até uma divisão nesse sentido, porque quando eu fiz A Dama Indigna não tinha noção se eu havia mudado ou não. Sabe aquela música do Caetano (Veloso) que diz “nu com a minha música”? Eu não tinha esse noção, foi preciso ouvir o disco para ter uma visão muito diferente do que pensava que teria de mim mesma. Esse processo todo já tem dois anos, já se encaminhou para outros lados e tem esse espetáculo que está sendo mantido, mas cada vez que eu volto para ele ocorre uma reformulação.Quando e como começou sua carreira? Minha carreira começou aos 5 anos, em Paraguaçu Paulista, onde fui criada. Cantava em programas de rádio, de auditório, programas infantis, depois continuei minha carreira no rádio, na igreja, no colégio, conservatório. Me mudei pra Londrina (Paraná) e continuei com conservatório, coral, teatro amador, teatro universitário, música universitária. Em 1977, tive a minha profissionalização. Em janeiro desse ano estreei meu primeiro espetáculo como atriz profissional em São Paulo, com carteira de atriz.Com qual espetáculo? Chamava-se A Farsa da Noiva Bombardeada, de Alcides Nogueira, com direção do Márcio Aurélio e um elenco espetacular, o Alcides, eu, Miguel Magno. Eu tinha me formado em 1976 e minha formatura foi a estreia no teatro. Me formei em psicologia, mas não fui à formatura porque estava ensaiando a peça. Meu pai ficou puto (risos).E você levou em paralelo a carreira de cantora e de atriz? E de psicóloga, até 1983. Aí tive de fazer uma opção dura porque não dava mais para conciliar, era uma loucura. Eu trabalhava como psicóloga, mas chegou um ponto da minha carreira de psicóloga que tinha de investir na minha formação, fazer pós, mestrado e percebi que não ia dar. Minha responsabilidade perante minha profissão me fez sair, e minha responsabilidade como cantora ficou absoluta. Fui obrigada a me responsabilizar por mim sendo artista.Quando você lançou seu primeiro disco? Foi em 1981, resultado do show que fiz em 1980, Summertime. Até então tinha feito teatro com música, mas com um monte de gente. Esse foi meu primeiro trabalho sozinha.Você tem uma relação forte com a música do Bertolt Brecht (dramaturgo alemão). Como surgiu isso? No teatro, isso é uma coisa do teatro, é isso que me pega, contar histórias no teatro. São as referências que tenho em relação à música do cabaré, do Brecht e de muitas outras pessoas. E tem uma formação grande ligada, como menina do Interior, com a música brasileira, de cantoras de rádio que prezo muitíssimo. Tem também essa coisa ligada à sofisticação intelectual que adquiri com minha formação, com o teatro, isso é bem do Brecht.Tem algum momento na sua carreira que tenha sido mais marcante pra você? Muitos. Nem sei qual citar, é difícil. Especial talvez tenha sido a estreia de Summertime, que foi um pavor absoluto, uma estreia péssima, eu estava desesperada: “Não vou entrar no palco pra cantar um show inteiro sozinha, pelo amor de Deus”. Eu achei que foi ruim, mas as pessoas gostaram. Mas tem muitos outros momentos marcantes.Leia entrevista completa na edição de quinta-feira (14) o Correio Popular

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