CRÍTICA

'Chappie' é o mais fraco longa do sul-africano Blomkamp

E o principal problema está na infantilização da criatura (Sharlto Copley) concebida pelo cientista Deon

João Nunes/Especial para o Correio
18/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:18
Cenas de 'Chappie', uma das estreias da semana nos cinemas; Dev Patel e Hugh Jackman estão no elenco  ( Divulgação)

Cenas de 'Chappie', uma das estreias da semana nos cinemas; Dev Patel e Hugh Jackman estão no elenco ( Divulgação)

O sul-africano Neill Blomkamp começou bem a carreira em longas com o ótimo 'Distrito 9' (2009), sobre o apartheid. Depois veio 'Elysium' (2013), em escala inferior — no difícil segundo filme — sobre divisão de classes. Com 'Chappie' (Chappie, EUA, México e África do Sul, 2015), ele poderia se valer da criatividade do primeiro e experiência do segundo, porém, realizou seu pior trabalho. Pena, pois, além de ser talentoso, o tema da inteligência artificial é oportuno. Há diversas questões envolvidas nele, inclusive éticas, que renderiam boa história. Quer dizer, o diretor (autor do roteiro com Terri Tatchell) perdeu a oportunidade de explorar devidamente o assunto. Infantilização E o principal problema está na infantilização da criatura (Sharlto Copley) concebida pelo cientista Deon (o pouco convincente Dev Patel). Em vez de robô adulto que pudesse ser útil aos propósitos para o qual foi criado, temos uma criança e, logo, um tanto mais madura. Ele age como bebê e é tratado como tal — chega a cúmulo de afeiçoar-se a uma mãe, tão sonsa quanto, chamando-a de “mamy”. Ao que parece, o cineasta tentou alcançar um grande público ao fugir (nem tanto assim) do universo social. Se ele queria esse público, o restringiu demais, pois a criança Chappie é incapaz de seduzir. Com todos os apelos emocionais (a história da mãe, a fragilidade de um ser caracterizado como poderoso, pois era policial, a mentalidade pacífica), não há empatia possível. Beira o patético Algumas cenas beiram o patético, como a que ele apanha de um bando de moleques e se socorre nos braços da mamy. Ou quando se revolta contra o criador por uma questão tola, mas o motivo não contém força dramática suficiente para justificar a ação. E está repleto de lugares-comuns — o segundo maior problema do filme, pois o roteiro faz salada de tudo o que já se escreveu sobre o tema: chefe de um bando de malfeitores impõe o prazo de sete dias para três patetas que trabalham para ele lhe pagarem 20 milhões. E o grupo descobre o robô que foi transformado em “alguém”com sentimentos. Soldados-robôs Estamos num futuro próximo no qual a força policial se impõe via soldados-robôs. Para isto existe uma fábrica comandada por Sigourney Weaver (perdidinha no filme). Ela desautoriza Deon, mas este consegue fazer surgir a criatura com a capacidade de pensar. Só que tem um sujeito que não gosta dele (Hugh Jackman canastríssimo como vilão; desses que dá gargalhadas quando fere o outro) e as coisas ficarão ruins para o herói. Dá para perceber nestes breves apontamentos que o elenco não segura a onda. Mal dirigido, os atores cumprem o papel de atuar no automático. Mas há outros senões, como o roteiro confuso, os diálogos bobocas (especialmente na boca de Chappie, da mãe dele e do criador) e as situações implausíveis. Exemplo. Chappie não sabe nada, é um bebê. Difícil aprender as primeiras palavras, mas em pouquíssimo tempo ele sabe tudo e entende tudo. Ok, é um ser inteligente. Mas, convenhamos, nem tanto. Por fim, sem comentários a trilha genérica de Hans Zimmer, Steve Mazzaro & Andrew Kawczynski que caberia em qualquer produção do gênero.

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