35 anos sem Chacrinha

Chacrinha deixou um legado de descontração que revolucionou a comunicação no Brasil

Nesta sexta-feira faz 35 anos que José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988) morreu

Cibele Vieira/ [email protected]
30/06/2023 às 09:48.
Atualizado em 30/06/2023 às 10:06
Chacrinha morreu há exatos 35 anos, mas deixou um legado de descontração que revolucionou a comunicação nos programas de auditório (Divulgação)

Chacrinha morreu há exatos 35 anos, mas deixou um legado de descontração que revolucionou a comunicação nos programas de auditório (Divulgação)

"Quem não se comunica se trumbica", o bordão do velho guerreiro permanece atual na boca do povo. Nesta sexta-feira (30) faz 35 anos que José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), o Chacrinha, morreu, deixando o legado de quem mudou a história da comunicação no Brasil. Seus programas de calouros eram muito populares, e ele se apresentava com roupas espalhafatosas, acionando uma estridente buzina de mão para desclassificar os calouros, com um humor debochado e muita sensualidade de suas chacretes com os maiôs cavados. Por trás de sua irreverência, havia uma crítica a alguns padrões morais e sociais, em uma linguagem anárquica que hoje já não é aceita. Inegavelmente, exerceu seu papel com talento para entreter diferentes públicos ao longo da carreira.

São dele outros bordões populares como "Na televisão, nada se cria, tudo se copia", "Eu vim pra confundir e não para explicar", "Vocês querem bacalhau?", que ele repetia em seus programas, feitos em uma época em que o atrevimento e o deboche eram aplaudidos pelo público do auditório. Em seus programas de televisão, foram revelados cantores como Roberto Carlos, Clara Nunes, Roberto Leal, Paulo Sérgio, Raul Seixas, Perla, só para citar alguns. Desde a década de 1970 era chamado de 'Velho Guerreiro', após uma homenagem feita a ele pelo cantor Gilberto Gil, que assim se referiu a Chacrinha em sua canção "Aquele Abraço".

Ele começou sua carreira no rádio, mas foi na televisão que se consagrou como um dos maiores ícones da cultura popular brasileira, principalmente com os programas de auditório considerados fenômenos entre as décadas de 1950 e 1980. Essa história ainda pode ser revisitada no documentário "Chacrinha - Eu Vim para Confundir e Não para Explicar" e na ficção "Chacrinha - A Série" que estão disponíveis em algumas plataformas digitais. O filme, dirigido por Claudio Manoel e Micael Langer, remonta sua história na televisão, com trechos da vida pessoal. Já a série, estrelada por Stepan Nercessian e Eduardo Sterblitch, mostra Abelardo Barbosa em fases diferentes, sua personalidade mítica e o homem por trás do visual irreverente. A produção acompanha o personagem desde sua estreia no rádio até seu auge na televisão.

De médico ao sucesso na TV

Chacrinha nasceu em Surubim, no agreste de Pernambuco. Estudou em colégio interno e começou a cursar Medicina em 1936, no Recife. Mas deixou o curso depois de dois anos para embarcar em um navio - tocando como percussionista em uma banda - em um cruzeiro para a Alemanha. Mas estourou a Segunda Guerra Mundial e passageiros e tripulação foram desembarcados na então capital federal, o Rio de Janeiro. Foi ali que se tornou locutor na Rádio Tupi. Alguns anos depois lançou na Rádio Clube Fluminense um programa de marchinhas de carnaval chamado "Rei Momo na Chacrinha", de onde saiu seu apelido de "Chacrinha".

Nos anos 1950, comandou o programa "Cassino da Chacrinha", e estreou na TV Tupi em 1956 com o "Rancho de Mister Chacrinha", uma série de faroeste infantojuvenil. Na mesma emissora criou a "Discoteca do Chacrinha", que foi exibida na década de 1960 em outras emissoras, como a TV Paulista, TV Rio, TV Excelsior, até chegar à Rede Globo em 1967. Cinco anos depois voltou para a TV Tupi e na sequência passou pela TV Record, TV Bandeirantes, retornando à Globo em 1982, onde ficou até a sua morte. Ali se consagrou com o "Cassino do Chacrinha", uma mistura de show de calouros e atrações musicais que era sucesso dos sábados à tarde com as chacretes, seus jurados extravagantes e os bordões hilários, em um programa escrachado e sem muitas regras.

Até o início dos anos 1960, vestia-se de terno e gravata para apresentar os programas. Depois, passou a se apresentar com figurinos excêntricos - o primeiro deles incluía um boné de disc-jóquei e um enorme disco de telefone para pendurar no pescoço - ou fantasiado das maneiras mais espalhafatosas, como por exemplo baiana estilizada, telefone gigante, noiva ou mulher-maravilha.

O último "Cassino do Chacrinha" foi levado ao ar no dia 2 de julho de 1988, dois dias depois da morte de seu apresentador. Ele morreu em 30 de junho de 1988, de infarto do miocárdio e insuficiência respiratória (tinha câncer de pulmão) aos 70 anos. Seu caixão foi coberto por uma bandeira do Vasco e outra da escola de samba Portela, duas agremiações das quais era fã declarado.

Curiosidades marqueteiras

Quando o bacalhau encalhou nas Casas da Banha, seu patrocinador na TV Tupi, Chacrinha arrumou um jeito de reverter a situação. Durante o programa, virava-se para o auditório: "Vocês querem bacalhau?", e atirava o peixe para o auditório, onde a plateia disputava o produto a tapa. As vendas explodiram e ele explicou: "brasileiro adora ganhar um presentinho". O termo "Alô Terezinha" não era homenagem a alguma mulher de nome Tereza, mas surgiu em substituição ao antigo patrocínio de seu programa no rádio, a "Água Sanitária Clarinha". Com a falência da empresa, Chacrinha queria continuar usando o nome, mas não podia. Então na busca por um nome que substituísse a Clarinha, surgiu a Terezinha, que possuía igual sonoridade.

Presente no cinema

Chacrinha deixou sua marca também em vários filmes brasileiros, geralmente interpretando ele mesmo. No filme "Na Onda do Iê-iê-iê", de 1966, ele encena seu programa de calouros "A Hora da Buzina"(TV Excelsior), onde lançou alguns bordões como "Vai para o trono ou não vai?", "Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?", "Cheguei, baixei, saravei" e "Graças a Deus o programa acabou". Participou também dos filmes "Três Colegas de Batina" (1962), "A Opinião Pública" (1967), "Pobre Príncipe Encantado" (1969) e "As Aventuras de um Paraíba" (1982).

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