próximo ano

Carlos Prazeres fala sobre iniciativas e expectativas para o futuro da Sinfônica de Campinas

O maestro analisa o período de sete meses como condutor da orquestra e fala sobre 2023

Cibele Vieira/ [email protected]
27/12/2022 às 09:41.
Atualizado em 27/12/2022 às 09:41
Carlos Prazeres, maestro da Sinfônica de Campinas: busca por público jovem e periférico (Divulgação)

Carlos Prazeres, maestro da Sinfônica de Campinas: busca por público jovem e periférico (Divulgação)

O maestro Carlos Prazeres, de 48 anos, assumiu em maio de 2022 como regente titular da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas (OSMC), com o compromisso de torná-la mais engajada e jovial. Nesta entrevista exclusiva ao Caderno C, ele analisa o período de sete meses como condutor da reconhecida orquestra e fala sobre seu trabalho, planos e expectativas.

Qual sua avaliação desse período no comando da Orquestra, nos aspectos de estilo de trabalho, sintonia e empatia com os músicos?

Carlos Prazeres: Importante, antes de qualquer palavra minha, é o meu agradecimento aos músicos, à secretária de Cultura Alexandra Caprioli e ao prefeito Dário Saadi, pela confiança. Digo isto porque, sem a mesma, seria impossível ter calma e discernimento para observar e chegar às conclusões devidas para estabelecer os melhores objetivos. Sim, este meu primeiro semestre foi um trabalho de reconhecimento aliado a concertos bonitos e interessantes, mas de fato a cara do meu trabalho só começa em 2023. Destarte, avalio que vamos atrás de algumas questões primordiais. A primeira delas é o conceito de buscar nosso público de volta. Outra é a de trabalhar com a OSMC uma imagem moderna e dinâmica de uma orquestra consciente do seu papel na sociedade e que se identifique intrinsecamente com a mesma.

Pelas suas observações, qual é o público da Sinfônica hoje e do que o campineiro gosta nela?

A OSMC está no consciente coletivo de todo campineiro, porém, muitos desligaram a chave. No meu primeiro semestre observei que, apesar de numeroso, nosso público ativo pertence a um recorte pequeno da sociedade, seja este econômico ou mesmo geográfico. Percebo que este público se identifica com um lugar de afeto guardado de geração para geração. Contudo, é fundamental ter a ciência de que buscar o público jovem e periférico é parte indissolúvel do processo, se desejamos que a OSMC sobreviva ao século XXI e se torne protagonista. 

Quais públicos você gostaria de atrair para os concertos? 

O público jovem hoje é um desafio para qualquer orquestra. Se atualmente as canções, que duram três ou quatro minutos, já passam dificuldades para se manter no mundo de trinta segundos do "Tik Tok", pense numa orquestra, que precisa tocar um programa de aproximadamente duas horas e que ainda proíbe o uso do celular. Para isso temos que contar com aliados que vão muito além das músicas. Redes sociais dinâmicas e interativas, artes gráficas modernas e interessantes podem contribuir muito para atrair esta parcela. Outro desafio é o público periférico e para isso não basta ser acessível pelo preço. Sabemos que nosso ingresso é mais barato que uma entrada de cinema, mas este não é o ponto. Precisamos mostrar que a orquestra (e o teatro onde ela toca) pertencem a todos e isto também se dá através de pequenos gestos simbólicos, além da forma como passamos a nossa mensagem. É necessário, portanto, que a gente vá buscar este público onde ele está e, de uma forma orgânica e gentil, convidá-lo a fazer parte desta história. 

O que considera ter conseguido colocar na pauta da OSMC em 2022, que pode ser considerado uma influência do seu estilo? 

Este semestre passou rápido e eu tinha uma agenda prévia bem conturbada. Contudo, fico feliz de, em tão pouco tempo, ter conseguido realizar desafios orquestrais de ponta com a orquestra, ao mesmo tempo em que mostramos uma nova cara. Por isso nossa temporada foi de "Morte e Transfiguração", de Richard Strauss, árias de ópera de Carlos Gomes, passando pela junção com Diogo Nogueira, Majur e o Hip Hop do Dexter. A mensagem deixada por este último foi um soco na alma de cada músico, incluindo este que vos escreve. Uma realidade a qual não temos noção e, sendo assim, permanecemos confortáveis dentro da nossa bolha. Uma vez refeitos, chegar até a comunidade carcerária passa a ser premissa fundamental para nossa instituição. São seres humanos que estão ali, independente dos seus erros. Também merecem que a arte lhes toque o coração.

A sua agenda como maestro e a programação da Orquestra já estavam organizadas para o ano quando assumiu o cargo. Para 2023 pretende estar mais envolvido no planejamento? 

Minha presença aqui será constante. Ela só não será exclusiva porque isso não acontece em nenhuma

orquestra do mundo, seria algo bem prejudicial inclusive. A orquestra se alimenta de diferentes intérpretes e versões. A inovação na minha agenda é que em 2023 deixei de aceitar inúmeros convites externos para me dedicar às minhas instituições. Vai valer a pena cada gota de suor. 

Quando montou residência aqui afirmou que queria vivenciar Campinas, conhecer aonde o campineiro vai para levar a Orquestra até lá. Tem em mente novos locais para os concertos? 

Sou morador do Cambuí, me sinto em casa e já posso ser chamado de Campineiro, assim mesmo, com letra maiúscula. Em 2023 teremos a série OSMC Regional, que vai levar a orquestra às periferias. Teremos também a Série das Rosas, com dois concertos anuais na Fazenda Roseira, lugar onde tive a alegria de assistir ao Jongo.

Tecnicamente, como avalia a Orquestra e o que acha que poderia ser ajustado ou alterado? 

A OSMC é uma boa orquestra, mas impossível de ser avaliada com precisão com tantos desfalques. A cada concerto temos uma OSMC diferente e isso nos prejudica artisticamente. Por isso o concurso é tão fundamental. 

Sobre o concurso para reposição dos músicos, qual sua perspectiva sobre prazos? 

Com otimismo, com o empenho que vejo em todas as partes envolvidas, creio que o concurso se dará no segundo semestre de 2023. Neste semestre já concluímos a nossa progressão interna, processo difícil e que era parte integrante do caminho para o concurso. Tenho fé, mas é algo que depende de uma estrutura imensa. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para chegar em 2024 com a orquestra revigorada e renovada. 

Quais os planos ou expectativas para 2023? 

Além do concurso, minha expectativa é a de que o campineiro volte a ser orgulhoso de sua orquestra. Que lote suas apresentações, se emocione com elas e viva o sentimento revolucionário que a arte nos proporciona. Em breve chamaremos a imprensa para divulgar a nossa temporada em um café da manhã. De antemão adianto que teremos duas séries distintas no Teatro Castro Mendes. Aos sábados à noite, mais formal e tradicional, nossa série oficial Carlos Gomes. Aos domingos, a série Niza Tank, nossos concertos em família. Fora do Teatro Castro Mendes estudamos o nome de Hilda Hirst para batizar nossa série itinerante. A série das Rosas e OSMC Regional completam nossa base de temporada 2023. 

Qual mensagem você gostaria de deixar para o campineiro ou para os músicos?

Apertem os cintos, em 2023 vamos decolar!

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