CD celebra os 50 anos de carreira do compositor de 'Dinorah, Dinorah': Senise saiu na frente das comemorações que também celebram os 70 anos de vida de Ivan Lins
João Senise contou com um time de peso para gravar o CD 'Abre Alas - Canções de Ivan Lins'; o cantor (à direita) com Ivan Lins (ao centro) e Peranzzetta, encarregado da criação de arranjos ( Divulgação)
O cantor João Senise saiu na frente nas comemorações dos 70 anos de vida e 50 de carreira compositor Ivan Lins e acaba de lançar 'Abre Alas - Canções de Ivan Lins'. O disco, com direção musical e arranjos do maestro e pianista Gilson Peranzzetta, arranjador de Ivan Lins entre 1974 e 1985, traz 14 canções que sintetizam a extensa obra, com músicas conhecidas e outras nem tanto, mantendo em todas elas a essência e a elegância melódica original. Muitas destas faixas haviam sido arranjadas por Peranzzetta, que voltou a trabalhar com elas. “Foi um desafio para ele. Disse que queria fazer uma releitura, mas que não fosse virar algo tão desconhecido do público. Queria fazer algo novo, só que não perdesse a essência. O Gilson fez então outras orquestrações, tem música com quarteto de cordas, com quinteto de sopros, com só uma gaita, e até uma orquestra de 60 músicos. Enfim, para fazer algo bem variado, e ainda preservando as introduções famosas, como a do 'Abre Alas'”, explica Senise, que é filho do flautista e saxofonista Mauro Senise e estuda música desde os 4 anos. O cantor conta que a ideia inicial era gravar um disco em tributo ao Tom Jobim no ano passado, quando completaram-se 20 anos de morte do maestro, porém, assim como ele, outras dezenas de artistas pensaram o mesmo. Eis que Senise lembrou que Ivan, com quem tinha gravado no CD de estreia e de quem é grande admirador, completaria 70 em 2015. “Ivan também é um compositor espetacular, gravado no mundo inteiro. Aliás, um artista muito gravado fora e nem tanto aqui no Brasil. Esse foi um outro ponto que me levou a ir por esse caminho”, diz. A primeira etapa seria árdua: a escolha do repertório dentre a extensa discografia do homenageado. “Ele tem uma centena de músicas, e não é exagero. Então, tem sempre a dificuldade para chegar a 14 (número de faixas que um CD normalmente comporta). Comecei a pesquisar, ouvir muito, li songbooks, falei com o Gilson (Peranzetta) e montei uma lista. Esta lista eu encaminhei para o Ivan, mas ele nunca me respondeu”, conta. Não satisfeito, o cantor foi à casa do artista convidá-lo para participar da gravação e aproveitou para pedir o aval. “Mostrei a seleção, ele gostou e sugeriu (a música) 'Art of Survival', composta com Vitor Martins e Brock Walsh. Acatei prontamente.” Foram mesclados sucessos como 'Lembra de Mim' e 'Vitoriosa' a músicas menos conhecidas — mas não menos bonitas — como 'Dois Córregos', 'Virá' e 'Olhos pra te Ver'. “Quis fazer um disco não muito óbvio”, afirma. Por falar em obviedade, Senise fugiu disso também ao convidar o cantor/ator Léo Jaime na faixa 'Dinorah'. “Ele nunca tinha cantado Ivan Lins na vida. Mandei a música, ele ficou maravilhado com o arranjo. É um cara muito bacana, com quem eu já queria ter trabalhado em um projeto anterior, mais pop, ou seja, mais o estilo dele, só que não rolou. Foi muito legal ele ter feito, principalmente por ser a primeira experiência dele. Ficou espontâneo.” Além de Léo Jaime, participam Leila Pinheiro, na faixa 'Madalena', Dori Caymmi, em 'Doce Presença', e Zélia Duncan, em 'Lembra de Mim'. A turma da música instrumental também marca forte presença, entre eles o próprio Gilson Peranzzetta (piano e acordeom), Mauro Senise (sax e flautas), Paulo Sergio Santos (clarinete), David Chew ( violoncelo), Dirceu Leite (clarinete e sax tenor), Quarteto Radamés Gnattalli, Orquestra de Sopros e Percussão do Cerrado, entre muitos outros. A qualidade sonora do disco surpreende, pois apresenta as canções de Ivan Lins com afinação perfeita — até o timbre da voz de Senise se assemelha à do homenageado. Algo, inclusive, observado por Ivan, que acompanhou o projeto e participou como cantor convidado nas faixas 'Ai Ai Ai' e 'Setembro'.