CAMPEÃ

Canto Chinês

Jovem aluna de mandarim no Instituto Anelo,na periferia de Campinas, conquista o título de campeã nacional em Copa de Canto Chinês evai disputar a semifinal do mundial

Cibele Vieira/[email protected]
18/06/2024 às 08:14.
Atualizado em 18/06/2024 às 08:14
Três dos quatro primeiros colocados no concurso nacional são alunos do Instituto Anelo: Maria Eduarda Santos Nascimento, em 1° lugar (segunda na foto), Nicoly Alessandra Rosa da Silva como vice-campeã (terceira na foto) e Rafael Oliveira Cordeiro em 4° lugar (Divulgação)

Três dos quatro primeiros colocados no concurso nacional são alunos do Instituto Anelo: Maria Eduarda Santos Nascimento, em 1° lugar (segunda na foto), Nicoly Alessandra Rosa da Silva como vice-campeã (terceira na foto) e Rafael Oliveira Cordeiro em 4° lugar (Divulgação)

A formação musical no Instituto Anelo, que atua no distrito de Campo Grande, já é bastante conhecida por seu foco social e de inclusão. Agora, a entidade está celebrando uma conquista inédita: a classificação de uma de suas alunas para a semifinal de um concurso mundial de canto chinês. Cantando em mandarim, Maria Eduarda Santos Nascimento (Duda), de 20 anos de idade, foi campeã da etapa brasileira, na qual mais dois alunos do Instituto se destacaram, conquistando a segunda e quarta posições, após cursarem pouco mais de dois meses de aulas.

O desafio foi estimulado pela professora Jia Sun Costa como forma de desenvolver os alunos do curso, que conta com seis estudantes nas aulas gratuitas que acontecem às sextas-feiras pela manhã. O resultado apontou as ótimas colocações dos alunos do Anelo. Duda, moradora do Satélite Íris foi a primeira colocada, enquanto Nicoly Alessandra Rosa da Silva, de 17 anos, moradora do Jardim Bassoli, foi a vice- campeã, e Rafael Oliveira Cordeiro, de 17 anos, também do Satélite Íris, ficou em quarto lugar. Eles participaram da categoria disputada por brasileiros (chamada de grupo estrangeiro) e outras categorias reuniram chineses de várias idades que vivem no Brasil.

O Instituto Anelo inscreveu os seis estudantes no concurso de canto chinês, classificando três para a final. Duda, a campeã, teve um desafio extra: sem poder repetir música, teve de aprender, em mandarim, outra canção em uma semana, para a apresentação decisiva. As músicas interpretadas por ela foram Jiemèi (Irmã, na tradução) e Zhan zài gao gang shàng (De pé, em cima da montanha). Os alunos classificados foram premiados com R$ 1,5 mil, R$ 1 mil e R$ 300, respectivamente.

Na semana posterior ao prêmio, a campeã Duda foi informada pela organização que deveria gravar um vídeo interpretando uma música para participar da semifinal mundial de sua categoria. Os vídeos serão avaliados por chineses e o resultado ainda não tem data divulgada para ser anunciado. "Não estava esperando uma semifinal mundial, fiquei ao mesmo tempo assustada e animada. A notícia foi três dias antes de gravar, tive muita ansiedade. Tentei aperfeiçoar a pronúncia, trazer uma maior fluência, até porque não havia tempo para ensaiar uma nova música", conta.

PREMIADOS E MOTIVADOS

"É o meu sonho, ser grande. Me dizem que tenho de ter noção do meu tamanho, não tenho essa noção. Mas se a vida me proporcionar mais oportunidades como essa, vou continuar, em mandarim ou outras línguas, pois também falo espanhol", informa a aluna, agora semifinalista mundial. No dia da apresentação, as emoções começaram com o anúncio dos prêmios aos outros colegas, ela conta. "E quando chamaram o meu nome, Maria, em primeiro, não esperava. É uma questão de que valeu o esforço", diz a moça, que gosta da cultura chinesa e busca aprender o idioma pela internet.

A vice-campeã, Nicoly, também ressalta a felicidade pela conquista. "Estou muito feliz, esse prêmio não é só meu, é de todos, também dos que participaram da primeira fase", afirma. A jovem também ressalta que a competição foi uma forma de ampliar seus conhecimentos. "Foi excelente, saímos de nossa zona de conforto, nos superamos." Já Rafael, que ficou na quarta colocação, explica que participou porque queria experimentar algo novo. “Não sabia quase nada sobre a cultura chinesa, o processo de preparação foi divertido e um pouco complicado, com horas em vocal, pronúncia e atuação, para transmitir a emoção da música", declara. Além de cantar, ele ainda tocou violão.

Na disputa nacional, os jovens que representaram Campinas cantaram em mandarim, mostrando o desempenho obtido nas aulas. Duda revela que as aulas são sempre animadas, com grande incentivo da professora e que o principal desafio é a pronúncia. "A professora nos incentiva, nos coloca para cima, ajuda nos tons. Uma coisa que tive dificuldade, acho que todo mundo, foi a parte dos tons do chinês, que a gente não encontra no português", relata. Ela ressalta também a importância das orientações da também professora, cantora e compositora do Anelo, Marisa Molchansky, nos dias que antecederam a gravação enviada para a China para disputar a semifinal.

A “Copa Cubo da Água de Canto Chinês” foi realizada no bairro da Liberdade, em São Paulo, no dia 26 de maio. A competição é coorganizada por um grupo de empresas e instituições chinesas e acontece em 33 países com o objetivo de promover o intercâmbio cultural e a conexão entre os povos.

SONHOS CONSTRUÍDOS

Luccas Soares, coordenador e um dos fundadores do Instituto Anelo, conta que conheceu a professora de canto Jia Sun Costa – que é chinesa e mora em Campinas – durante uma apresentação dos alunos do Anelo, em fevereiro, no evento do Ano Novo Chinês. Ele gravava, à época, uma música para um projeto voltado à conscientização sobre o autismo e pediu à professora, que também se apresentava no evento, orientação para cantar uma frase curta, idealizada em mandarim, na canção. E a convidou para conhecer de perto o trabalho do Instituto Anelo. Jia Sun se interessou pela organização, foi conhecer as instalações no Jardim Florence, e iniciou as aulas de canto em mandarim no Instituto.

"Foi tudo muito rápido, apenas dois meses”, salienta Luccas. Ele considera que os bairros mais carentes do Campo Grande foram representados pelo esforço desses alunos, que “poderiam fazer qualquer coisa, mas resolveram cantar em mandarim, e aprenderam muito bem". Luccas comenta que a campeã Duda está desde os 8 anos na instituição e enfrentou um quadro depressivo difícil no início do ano. “A chamamos para que pudesse ter noção do tamanho do seu talento e foi como se a vida tivesse ganhado", afirma.

Ele declara que estão todos muito felizes e motivados a continuar o projeto. As aulas de mandarim acontecem todas as sextas-feiras pela manhã na sede do Instituto Anelo. “Nosso objetivo é ampliar as oportunidades para os alunos. Vamos continuar nos preparando para novas oportunidades”, diz o coordenador. Os alunos e professores do Instituto Anelo já se apresentaram em vários países, como Itália, Alemanha, África do Sul e agora o sonho é, um dia, cantar na China. Outras informações sobre o Instituto Anelo: www.anelo.org.br

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