Dia do Cinema Brasileiro

Campineiros profissionais da área do cinema debatem sobre o cenário atual

O que é preciso fazer para fortalecer a indústria audiovisual no país

Aline Guevara
19/06/2022 às 10:39.
Atualizado em 19/06/2022 às 10:44
O cineasta Rafael Santin, que ressalta a qualificação dos brasileiros (Letícia Palhão)

O cineasta Rafael Santin, que ressalta a qualificação dos brasileiros (Letícia Palhão)

Em 19 de junho é celebrado o Dia do Cinema Brasileiro, arte que é uma de nossas principais ferramentas culturais de impacto e alcance na sociedade. O cinema é responsável pelo entretenimento, sim, como vemos nas grandes bilheterias de produções populares, mas dentro da produção nacional, a sétima arte tem um papel representativo fundamental de retratar a realidade do País e nos fazer refletir.

"É essa soma do que é chamado de "cinema comercial" com uma ampla produção para além dele que forma nossa diversa e poderosa indústria cinematográfica", explica Juliana Sangion, professora de audiovisual na PUC-Campinas e doutora em Cinema Brasileiro pela Unicamp.

Ela afirma que dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) nos informam que há um momento de levante da produção brasileira: tivemos cerca de dois milhões de ingressos vendidos para filmes nacionais no primeiro semestre de 2022 contra 113 mil no mesmo período de 2021. "Os responsáveis por isso são, em sua maioria, comédias produzidas pela Globo Filmes e também o infantil 'Turma da Mônica: Lições'", explica. Mas ela nos convida a refletir, principalmente nesta data, que ele é bem maior do que somente o cinema comercial. "O cinema brasileiro é muito mais do que as produções que conseguem acessar o circuito comercial. Ele é enorme e continua sendo feito também por diretores e diretoras independentes com uma diversidade de gêneros e temáticas. Ele é toda essa potência", analisa a especialista.

O cinema brasileiro de ontem…

A origem do Dia do Cinema Brasileiro refere-se à data, no distante ano de 1898 (o próprio cinema surgiu em 1895), em que o ítalo-brasileiro Afonso Segreto, cinegrafista e diretor de cinema, registrou as primeiras imagens em movimento dentro do País. O cineasta ainda estava no navio francês Brésil quando gravou cenas da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Depois dele, viriam muitos outras importantes figuras para desenvolver a indústria no País: Glauber Rocha com seu Cinema Novo fortemente influenciado pelo Neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa mostrou temáticas sociais que retratavam as dificuldades do povo, como a fome, a violência e a exploração econômica - em oposição à produção da época que focava no Brasil como um "paraíso tropical"; o diretor Anselmo Duarte fez história com "O Pagador de Promessas", tornando-o o único filme brasileiro vencedor do prêmio máximo no Festival de Cannes; e Fernando Meirelles conquistou indicações ao Oscar como Melhor Diretor e Fotografia com "Cidade de Deus", assim como Fernanda Montenegro competiu na categoria de Melhor Atriz por "Central do Brasil".

…de hoje…

O cineasta campineiro Rafael Santin vê de forma bastante positiva a produção nacional atual: "os nossos técnicos têm tido muita qualificação e temos profissionais que são tão bons quanto os americanos e europeus", diz. Ele lembra que uma das principais críticas aos filmes brasileiros citavam problemas no seu aspecto sonoro, mas que estes têm virado coisa do passado. "Isso para mim, como cineasta, é excelente, porque hoje eu consigo explorar exatamente o que eu espero para a narrativa do meu filme", registra o diretor.

Analisando o cenário atual, no entanto, Juliana Sangion relembra os problemas que a indústria sofre com a falta de incentivo. "Infelizmente há um desmonte da cultura, inclusive do cinema brasileiro, vide o ocorrido na Cinemateca Brasileira [que foi atingida por um incêndio em julho de 2021 mesmo após alertas de que o local corria riscos]", diz ela.

…e de amanhã

Como uma das alternativas para o corte de verbas, Rafael acredita que a iniciativa privada precisa ser mais explorada. "Espero que produtoras nacionais e grandes streamings internacionais invistam fortemente no País e contratem os profissionais do audiovisual de forma que tenham estabilidade. Em Hollywood, temos equipes técnicas, de diretores, e isso traz estabilidade para eles. Espero e acredito que grandes streamings farão esse papel e torço para que empresas brasileiras façam o mesmo para criar uma indústria que gera empregos e receita", declara o cineasta.

Juliana reforça, no entanto, que até mesmo pensando no futuro, as leis de incentivo público são fundamentais. "Países com cinematografias sólidas têm um poder público que investe, o que não tem sido o caso do Brasil, especialmente no governo atual", explica. Portanto, hoje é dia de festa, sim, para o nosso cinema, mas também de continuar lutando para fortalecê-lo.

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