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Campineiro Luiz Gonzaga Godoi Trigo mostra sua trajetória

O membro do Conselho Curador do Prêmio Jabuti reflete sobre a leitura, a cultura e o momento literário no Brasil

Cibele Vieira/ [email protected]
04/12/2022 às 10:20.
Atualizado em 04/12/2022 às 10:20
Luiz Gonzaga Godoi Trigo atuou como membro do Conselho Curador do Prêmio Jabuti, que tinha como missão selecionar os jurados e ajudar a manter a credibilidade e a transparência da premiação: “as pessoas precisam ter acesso e cultura custa dinheiro” (Divulgação)

Luiz Gonzaga Godoi Trigo atuou como membro do Conselho Curador do Prêmio Jabuti, que tinha como missão selecionar os jurados e ajudar a manter a credibilidade e a transparência da premiação: “as pessoas precisam ter acesso e cultura custa dinheiro” (Divulgação)

Os seus primeiros textos foram publicados no Correio Popular, num total de 72 artigos relacionados à turismo e entretenimento, entre 1987 e 1994. Mas Luiz Gonzaga Godoi Trigo evoluiu como escritor e é autor de 31 livros nas áreas de turismo, educação e entretenimento. Estudou no Colégio Culto à Ciência, fez duas graduações na PUC-Campinas (em Turismo e Filosofia), onde também fez mestrado em Filosofia, e depois doutorado em Educação na Unicamp. Atuou como diretor de Turismo da Prefeitura de Campinas e por quase 20 anos foi professor da PUC, até assumir como professor titular da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP).

Hoje vive em São Paulo,mas sempre retorna a Campinas para rever amigos e familiares. No Blog da Parábola Editorial, onde mantém artigos, se define informalmente como "um pesquisador e escritor curioso, divertido, provocador e sincero. Adoro bom humor, detesto burrice e hipocrisia. Curto ironias e aprender coisas novas. Aprendo com tudo e todos no mundo, especialmente com meus alunos(as)". No ano passado foi convidado a integrar o Conselho Curador do Prêmio Jabuti (2021-2022), que seleciona os jurados e cuida da transparência. Ao Caderno C ele relata suas observações do campo literário.

Qual é a importância do Prêmio Jabuti?

Esta é a 64ª edição do prêmio que começou em 1959, está maior e é a mais aguardada premiação nacional do livro. Este ano foram inscritas 4.290 obras, um aumento de 25% em relação a 2021, com premiação em 20 categorias (nos eixos Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação) avaliadas por um júri de 60 profissionais representativos dos diversos segmentos. É um prêmio reconhecido e esse crescimento pós-pandemia significa que houve um trabalho de reflexão, de produção de arte e cultura nesse período. As pessoas ficaram em casa, mas produzindo.

Qual é a tendência literária observada este ano?

Creio que o prêmio mostrou uma representatividade ligada ao pluralismo e diversidade, que é o Brasil. Dos 20 premiados, 13 foram mulheres, vários negros e negras, representantes do movimento LGBT, o que é normal numa sociedade complexa como a nossa. Pela repercussão após a premiação, parece que as pessoas entenderam que todos os segmentos estão bem representados na grande cultura brasileira. É um universo de 200 obras que foram reconhecidas por uma comunidade nacional muito vasta. 

A linguagem gráfica deste ano foi o grafite. Por quê? 

Toda comunicação visual foi feita por cinco grafiteiros que convidamos, porque este é o ano do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. E a premiação, no dia 24 de novembro, foi no Theatro Municipal de São Paulo, onde aconteceu a Semana de 22. Como o grafite hoje é uma linguagem visual das comunidades em geral (não só pobres, como também as médias e ricas), deu muito certo porque a comunicação excede a literatura. 

Aumentou o número de escritores, mas e a leitura?

Lê-se pouco no Brasil. Nos últimos quatro anos o Governo Federal fez uma política de sabotagem à cultura e educação. Eu sou um grande crítico do desrespeito aos intelectuais, jornalistas, acadêmicos, ciência e tecnologia. Isso afetou a educação e a leitura. Por outro lado, as redes sociais favorecem que pelo menos os adolescentes leiam alguma coisa. E as Feiras de Games - como a que vai acontecer em São Paulo - também promovem a leitura por meio dos games e jogos de RPG. Então existem possibilidades novas, mas são necessárias políticas públicas e privadas para ajudar. É o que falta, porque produção cultural nós temos no Brasil. Agora, as pessoas precisam ter acesso e cultura custa dinheiro.

O preço dos livros limita a leitura?

Houve aumento do preço do papel no mundo, então aqui no Brasil qualquer livro custa 60, 70 reais. Agora, também é preciso força de vontade entre as pessoas que têm dinheiro, para investir na sua educação e cultura. Às vezes a gente gasta bastante numa balada de fim de semana - que é importante, sim - mas gastar em livro também é legal, também é muito bom. 

Qual é o papel da mídia na leitura?

A grande mídia tem uma co-responsabilidade importante na produção de leitura. Quando as pessoas começam a ler jornal, revista e quadrinhos, a tendência é ler outras coisas também. A imprensa que é séria e tem uma visão crítica, como é o caso do Correio Popular, é fundamental para evitar o negacionismo e as fakes news. Os jornais são cada vez mais importantes para a educação e divulgação da cultura e das artes.

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