a banalidade do mal

Campinas recebe pré-estreia de 'Zona de Interesse' a partir desta quinta-feira

A produção britânica é favorita na categoria de Filme Internacional da maior premiação do cinema

Aline Guevara/ cadernoc@rac.com.br
08/02/2024 às 10:40.
Atualizado em 08/02/2024 às 11:51

O filme foi um dos destaques no último Festival de Cannes ao levar o Grand Prix (Divulgação)

Um dos grandes favoritos a vencer uma estatueta do Oscar no próximo dia 10 de março acaba de chegar aos cinemas de Campinas. “Zona de Interesse” estreia oficialmente em 15 de fevereiro, mas a partir desta quinta-feira a cidade já recebe diversas sessões de pré-estreia do filme, que foi um dos destaques no último Festival de Cannes ao levar o Grand Prix (uma espécie de segundo lugar). Ele chegou primeiro ao Brasil em outubro de 2023 com sessões especiais na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas agora entra em cartaz no circuito comercial.

Favorito na categoria de Filme Internacional da maior premiação do cinema, a produção britânica retrata o dia a dia de uma família alemã nos anos 1940 com seus problemas comuns. A mulher quer construir uma área de lazer e jardim no quintal, as crianças querem brincar, enquanto o pai se dedica a encontrar tempo para a família, tentando equilibrar a vida doméstica e o trabalho. Do outro lado do muro da casa deles, está o campo de concentração de Auschwitz.

O CORREIO JÁ VIU

O conceito de “banalidade do mal” foi originalmente cunhado e explorado pela filósofa alemã, de origem judia, Hannah Arendt, no livro “Eichmann em Jerusalém”, de 1963. A teórica descrevia suas percepções sobre o comportamento do oficial nazista Adolf Eichmann ao acompanhar de perto o seu julgamento. O acusado foi considerado culpado e sentenciado à morte, mas não sem antes afirmar que era inocente e que só estava cumprindo ordens de superiores. Hannah, então, reflete sobre esse mal que não tem uma origem extraordinária, como a maldade segundo a religião ou uma perversidade moral. Afinal, aquele era um homem nada excepcional, sem traços claros de crueldade, mas que foi responsável por levar milhares de pessoas ao extermínio. O mal, portanto, mesmo nas suas facetas mais horripilantes, pode ser trivial. 

É com este tipo de mal que nos deparamos em “Zona de Interesse”. Acompanhamos a rotina de Rudolf Höss (Christian Friedel), comandante em Auschwitz, e de sua esposa Hedwig (Sandra Hüller, incrível também em “Anatomia de Uma Queda”) junto com os filhos, buscando construir a vida dos sonhos na casa que eles mantêm ao lado do posto de trabalho dele, o campo de concentração. O diretor inglês Jonathan Glazer escolhe filmar seus personagens quase sempre com a câmera aberta, distante dos seus rostos, sabendo que não há como nos aproximarmos deles com qualquer simpatia.

“Zona de Interesse” é chocante, mesmo sem nunca mostrar uma única cena de violência. Nesse caso, o nosso conhecimento sobre o que acontecia atrás dos muros de Auschwitz é fundamental. O imaginário popular, somado às informações dadas pelo filme, provoca um mal estar imenso. Ainda que não haja visão para os horrores do campo de concentração, pois a casa nazista é mantida visualmente imaculada, nós os ouvimos. Se o local é cuidadosamente limpo e organizado, formando uma bolha de civilidade para a família, há um aspecto que não pode ser evitado: os sons. Enquanto as crianças se divertem na piscina, escutamos gritos. Para o piquenique no quintal, a trilha de fundo é o som da câmara de gás sendo ligada.

O horror é o Holocausto, claro, mas também é a total falta de consciência dessas pessoas que não se sentem afetadas mesmo após participarem de um genocídio. O funcionamento de Auschwitz é tão normalizado que os problemas e dramas dos personagens, aquilo que gera conflito entre eles, pouco têm relação com o assassinato de milhares de seres humanos. Essa indiferença consegue ser tão horripilante quanto as ações diretas dos funcionários do campo de concentração. Nas cenas finais, o filme ainda lança uma última provocação para a audiência, que deve sair reflexiva do cinema.

“A Cor Púrpura” volta aos cinemas em versão musical

A sofrida história de Celie, jovem negra nos EUA do início do século XX, volta aos cinemas. A primeira versão de “A Cor Púrpura” foi dirigida por Steven Spielberg, estrelada por Whoopi Goldberg, e lançada em 1985, adaptando o livro homônimo de Alice Walker. Aqui na produção de 2024, a base é o premiado musical da Broadway que trouxe mais vibração para essa narrativa, equilibrando o sofrimento da trama original com a leveza das performances artísticas. Oprah Winfrey, que interpretou a personagem Sofia no primeiro longa, é produtora do novo filme, junto com Spielberg, enquanto Blitz Bazawule é o diretor. A nova Sofia é interpretada por Danielle Brooks, indicada ao Oscar pelo papel, e Celie agora 
é vivida pela cantora Fantasia Barrino.

Oprah Winfrey e Spielberg são produtores do novo filme e Blitz Bazawule é o diretor (Divulgação)

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