Um olhar plural sobre Gaia

Campinas recebe exposição que debate a relação entre o ser humano e a natureza

Mostra gratuita começa neste sábado (4), a partir das 14h, no Instituto Pavão Cultural, em Barão Geraldo

Aline Guevara/ [email protected]
04/05/2024 às 10:09.
Atualizado em 04/05/2024 às 10:10
Artista Beá Meira critica, em sua obra, a exploração de petróleo nos oceanos e, especificamente, a intenção da Petrobras de desenvolver atividades na Bacia da Foz do Amazonas (Divulgação)

Artista Beá Meira critica, em sua obra, a exploração de petróleo nos oceanos e, especificamente, a intenção da Petrobras de desenvolver atividades na Bacia da Foz do Amazonas (Divulgação)

A exposição “A Carne de Gaia” é uma “grande reflexão sobre como a vida interage com a própria Terra, os rios, o oceano, a atmosfera e com o que entendemos como seres vivos”, explica a artista responsável Beá Meira. A mostra gratuita tem abertura neste sábado (4), a partir das 14h, no Instituto Pavão Cultural, e vai se manter no local para visitação até 29 de junho. Ainda que a maior parte das obras seja de Beá, a exposição é coletiva. As artistas indígenas Rayane Barbosa Kaingang, Larissa Ye’pa e Claudia Baré foram convidadas e integraram a exibição, trazendo olhares múltiplos sobre a temática e alguns trabalhos.

A coleção reúne mais 30 obras, entre desenhos, litogravuras, pinturas, mukolitos (complexa técnica de gravura utilizando uma matriz de madeira), tapeçarias e cadernos de artista. A ideia da exposição começou com a vivência de Beá no Rio Negro, na Região Amazônica, para conhecer o trabalho dos professores universitários Ciça Costa e o Marco Andreoni. Os acadêmicos retiravam da floresta pigmentos para tingir tecidos para o curso de moda. 

RELAÇÃO DE EXPLORAÇÃO E DESTRUIÇÃO

Com a vivência na Região Amazônica, Beá passou a estudar a extração de minerais na área, o desmatamento e a relação de exploração desenfreada da ação humana na natureza. “A gente vive nessa forma humana gananciosa e capitalista, colonial, explorando o outro, a terra, e destruindo, sem enxergar a natureza. Não vemos os rios como seres vivos, como forças que deveriam ter uma vida livre. Transformamos tudo em dinheiro”, aponta a artista. 

Para Béa, o ser humano se coloca em uma posição de superioridade em relação aos outros seres viventes e essa é uma das bases para os graves problemas enfrentados em relação à destruição do meio ambiente e às mudanças climáticas. “Entre a época glacial e o Holoceno, o mundo levou 12 mil anos para aquecer 5 graus. Mas se a gente continuar as emissões de C’O2, podemos aquecer mais 4 graus em 100 anos.” Para evitar essa aceleração, a exposição tenta provocar uma desaceleração no público para que ele possa refletir sobre o tema. 

Exploração de minerais na Amazônia também é abordada na exposição (Divulgação)

Exploração de minerais na Amazônia também é abordada na exposição (Divulgação)

EXPOSIÇÃO COLETIVA

Todos os estudos e reflexões de Béa levaram a artista a produzir desenhos, gravuras em técnicas variadas e pinturas para dar início à coleção que veio a se tornar a exposição. Foi quando a curadora da mostra, Susana Oliveira Dias, também artista e pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp, colocou Béa em contato com alunas indígenas da Unicamp que podiam colaborar para tornar a produção artística mais rica. Uma delas, Larissa, que vem dos povos da família linguística Tukano, da região do Alto Rio Negro, trouxe para o debate a cosmologia do local onde tudo começou.

“Foi um encontro de culturas. Nós quatro conversamos muito e eu apresentei os meus cadernos de estudos pensando sobre a exposição. Eu trouxe para elas como eu me apropriava dessas ideias científicas como artista, e elas me retornavam com suas próprias visões, diferentes da minha. 

As artistas indígenas criaram para a exposição duas grandes obras que dialogam com a ideia da biosfera, união da Terra com a atmosfera. “Elas trouxeram um outro entendimento de realidade, pois me diziam que esse conceito de céu e terra não fazia sentido, pois para elas o mundo tinha cinco camadas e não duas”, disse Béa. Na pintura que Larissa, Rayane e Cláudia criaram, elas retratam esses cinco mundos atravessados por Pamuri Mahsã, que é a canoa da transformação. “A gente só produz conhecimento a partir do outro, da troca. Nossa visão de mundo é muito incompleta. Além de uma visão de mundo mais ampliada, elas também trouxeram muitas técnicas artísticas bem diferentes das minhas. Foi um privilégio construir essa exposição”, conclui Beá.

PROGRAME-SE

Exposição ‘O Corpo de Gaia’

Quando: Abertura - sábado, 04/05, às 14h; depois até 29/06, de quarta a sábado, das 15h às 19h

Onde: Instituto Pavão Cultural - Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708, Cidade Universitária, Barão Geraldo, Campinas

Entrada gratuita

Informações e agendamentos de visitas: e-mail [email protected] e WhatsApp (19) 99633-4104

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