CINEMA

Campinas já foi a Hollywood Brasileira

A tese de mestrado do pesquisador e professor Carlos Roberto de Souza vira livro e revela detalhes da produção cinematográfica em Campinas na década de 1920

Cibele Vieira/ [email protected]
05/12/2023 às 09:21.
Atualizado em 05/12/2023 às 09:21
Cena do filme “Sofrer”, produzido em Campinas na década de 1920 (Divulgação)

Cena do filme “Sofrer”, produzido em Campinas na década de 1920 (Divulgação)

"Uma Hollywood Brasileira - Ou o Cinema de Campinas da Década de 1920", relata a força do trabalho cinematográfico da cidade de Campinas na época em que o cinema ainda era recém-chegado ao Brasil. Se a dissertação de mestrado sobre o mesmo tema, defendida em 1979, já havia se tornado uma obra de referência, o livro expande o texto original e detalha a cena campineira da época - a partir de informações sobre as cinco produtoras que atuaram na cidade - e conduz o leitor pelas particularidades do cinema silencioso brasileiro. O lançamento do livro, com a presença do autor Carlos Roberto de Souza, acontece nesta quarta-feira, 6, na Livraria Pontes, que sedia a publicação produzida pela editora Alameda, com o apoio da CTAv-Campinas (Câmara Temática do Audiovisual).

O livro tem 585 páginas e se baseia na pesquisa da dissertação de mestrado de Carlos Roberto de Souza, apresentada em 1979, quando ele ainda era servidor da Cinemateca Brasileira, onde atuou de 1975 a 2015. "Seu trabalho de pesquisa foi fundamental para a historiografia do cinema brasileiro e essencial para a compreensão do período e torna-se, não sem tempo, livro. Com mais informações, mais fontes de pesquisa e contribuições de outros estudos sobre o período, o livro pode se aprofundar no tema, em linguagem cativante, mais ampla ao público em geral", relata o jornalista e curador de cinema Tanael Cesar Cotrim.

O cineasta Danilo Dias de Freitas, que é o coordenador geral da CTAv- Campinas, comenta que "finalmente traz, ao grande público, a oportunidade de conhecer o protagonismo de Campinas e seus cidadãos na história do primeiro cinema (ou cinema silencioso) brasileiro". Ele acrescenta que o livro "aumenta o leque de possibilidades para futuros pesquisadores e historiadores do cinema campineiro, pois esse é, sem dúvidas, o texto seminal em se tratando do assunto". Freitas lembra ainda que - não por acaso - o lançamento é feito no ano em que se comemora o centenário de "João da Mata", um dos primeiros longa-metragem de ficção realizado no país e a primeira produção cinematográfica feita em Campinas em 1923, pelo cineasta Amilar Alves.

UMA PESQUISA DETALHADA

Estruturado a partir das cinco produtoras que que mobilizaram a cena audiovisual de Campinas na década de 1920, o livro tem informações detalhadas e inclui perfis dos protagonistas e coadjuvantes dessas histórias, com reflexões historiográficas e impressões pessoais do pesquisador. O professor Carlos Roberto de Souza encaminhou a pesquisa para a exposição dos filmes em pontos de vistas temático, formal e técnico, abordou a repercussão das obras na imprensa, mostrou o modelo de constituição das empresas, suas lógicas de financiamento e as produtoras da época (Fênix Film, Apa Filme, Condor Filme, Apa Filme S.A., Seleta Filme). A apresentação do livro é feita pela professora e pesquisadora de cinema Maria Rita Galvão, enquanto o pesquisador Ramiro Rodrigues fecha a obra com posfácio sobre a atualidade do tema.

Carlos Roberto de Souza conta que o movimento cinematográfico de Campinas passou por diferentes fases: "João da Mata" é quase uma ação entre amigos. "Alma gentil" é uma espécie de brincadeira subsidiada pela fortuna de um jovem envolvido por entusiastas de cinema. Com a Apa Filme e a Apa Filme S.A. tudo muda: existem capitais e uma vontade de profissionalismo cujo modelo é o cinema dito hollywoodiano. Finalmente, a Seleta assume declaradamente um esquema de cooperativa. O autor é doutor em cinema pela Universidade de São Paulo e professor colaborador do Programa de PósGraduação em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos. Atua como pesquisador e historiador de cinema no Brasil com ensaios publicados em livros e revistas no país e no exterior.

CENTENÁRIO DOS DESBRAVADORES

Há 100 anos, o diretor Amilar Alves e um grupo de amigos envolvidos com a recém fundada produtora Fênix Film, produzem e exibem o filme "João da Mata". Foi o primeiro produzido em Campinas e colocou a cidade na vanguarda do cinema do país. A sessão de estreia foi no Teatro Rink, em 8 de setembro de 1923, contribuindo para transformando Campinas na "Hollywood Brasileira". Pesquisadores do cinema nacional relatam que o longa-metragem foi produzido de maneira despretensiosa, provavelmente sem a consciência de que aquele seria um marco estabelecido como um dos mais importantes ciclos do cinema brasileiro.

Na época participaram do projeto do filme Tomaz de Tullio (cinegrafista e diretor de fotografia), Felipe Ricci (assistente de direção e montador), Ângelo Fortes (ator principal), Vitorino de Oliveira Prata, Francisco Castelo e José Ziggiatti, sócios da Produtora Phoenix. Esse filme fez surgir o Ciclo de Cinema de Campinas, estudado, interpretado e desvendado pelo pesquisador e professor Carlos Roberto de Souza no livro que está sendo lançado.

PROGRAME-SE

Lançamento do livro "Uma Hollywood Brasileira"

Quando: quarta-feira, 6/12, às 17h

Onde: Livraria Pontes - Rua Doutor Quirino, 1223, Centro

Entrada Gratuita

Informações: Tel.: 3236-0943 - Instagram: @ctavcampinas - @livrariapontes

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