ENTREVISTA

Caderno C fala com a atriz Maria Clara Gueiros

Atriz protagoniza A Garota do Adeus, espetáculo que será exibido de amanhã a domingo em Campinas

Delma Medeiros
delma@rac.com.br
25/04/2013 às 11:14.
Atualizado em 25/04/2022 às 18:51

A atriz Maria Clara Gueiros durante entrevista ao Caderno C no Teatro Iguatemi (Elcio Alves/AAN)

Atriz, bailarina, humorista e psicóloga, Maria Clara Gueiros é uma geminiana de múltiplos talentos, que começou a carreira nos palcos e “gramou muito”, segundo suas próprias palavras, até ser reconhecida e ganhar notoriedade, fato que aconteceu quando ela estava com 39 anos. Ela foi casada com o ator, diretor e escritor Bernardo Jablonski (que morreu em 2011 vítima de câncer), com quem teve dois filhos. A atriz está em Campinas com o espetáculo A Garota do Adeus e falou com exclusividade ao Caderno C sobre a luta para conquistar seu lugar ao sol, o apoio incondicional do marido para seguir seu sonho e a complexidade de atuar em tantas frentes ao mesmo tempo. Maria Clara diz que gosta de papéis dramáticos, mas admite que sua especialidade é mesmo o humor. A peça fica em cartaz de amanhã a domingo no Teatro Iguatemi, em Campinas.

Caderno C — Vamos começar falando de A Garota do Adeus, que você está apresentando aqui. Como foi que rolou sua participação?

Maria Clara Gueiros — Foi uma delícia o convite do Edson Fieschi, com quem tinha trabalhado em 99, há 14 anos. Fizemos um infantil juntos e nunca mais tínhamos trabalhado, até fazermos Insensato Coração (novela da Globo). Ele me chamou para fazer nessa época (2011) quando estreou com a peça em São Paulo, só que não pude. Quando a peça foi pro Rio, eu estava livre e foi ótimo. Gravando novela, ensaiando, correndo, minha vida é sempre corrida, mas calhou de dar certo e está sendo uma delícia.

Queria te perguntar justamente isso. Como conciliar TV, teatro, o papel de mãe?

É impressionante, eu estou o tempo inteiro com a cabeça em várias coisas e monitorando meus filhos. Tenho filhos de 15 e 18 anos que estão em casa sozinhos, já que a empregada sai quando dá a hora dela. Ligo a cada quatro horas: “vão sair?, chegaram?, voltaram da noite?, onde estão?”. É mensagem de texto, trabalho — recebi um telefonema de trabalho aqui que passei pra minha empresária, paguei conta.

Você é formada em psicologia. Chegou a atuar na área, a clinicar?

Sempre gostei de pesquisa em psicanálise, nunca fui de consultório, não. Gosto de pensar o mundo através da psicanálise, como uma ferramenta de observação. Trabalhei com pesquisa em psicanálise durante algum tempo. Me formei em 1988 e trabalhei até 1993 com isso, fiz mestrado em psicologia clínica na PUC (Pontifícia Universidade Católica), estava super dentro dessa área acadêmica, mas sempre fazendo teatro paralelamente. O teatro é um mercado difícil, mas eu sempre tive mais trabalho no teatro, as coisas apareciam, onde tinha mais trabalho eu ia, quando vi tinha largado tudo e estava só com o teatro.

Li que você chegou a pensar em desistir da carreira de atriz. Isso procede ou é uma dessas lendas de internet?

Não é mentira. Não cheguei a pensar efetivamente em desistir, largar tudo, mas é um mercado difícil. Devo minha carreira, eu estar aqui hoje trabalhando, ao meu ex-marido (Bernardo Jablonski, diretor e pesquisador da Globo) querido e amado, que faleceu há um ano e meio. Ele me bancou a vida inteira. Era diretor, ator, psicólogo e professor, foi meu professor na PUC, e eu tinha todo suporte dele. Ele dizia: “vai, faz seu teatro infantil, ganha R$ 200,00 por mês, vai pegando poeira de palco....”. Eu não precisava pagar conta, ele sustentava a casa, tive filho nesse esquema. Quando nos casamos estava fazendo mestrado. Então tive um super suporte dele para eu poder fazer teatro.

É complicado sobreviver só de teatro, sem estar na TV e no cinema?

É muito difícil. Eu fazia muito teatro, tenho uns 40 espetáculos no currículo, de teatro infantil e adulto, mas sempre sem conseguir ganhar muita grana. Eu pude me dar a esse luxo porque o Bernardo me mantinha, mas eu paralelamente, para correr atrás de uma grana, fazia tradução. Traduzi três livros de humor do inglês para português, também traduzi livros técnicos, tive uma empresa de tortas durante dois anos, mas tudo sem parar de fazer teatro, de ser atriz. Uma época fiz ponto de cruz, quando estava recém-parida, fazia toalhinha de ponto de cruz, paninho de prato, eu me virava.

E como foi sua ida pra TV?

Eu sempre fiz participações em televisão desde que comecei minha carreira. Como bailarina também fazia uma participação aqui, outra ali. Em 2002 fiz um personagenzinho na novela O Clone, depois fiz Mulheres Apaixonadas, outro personagem pequeno, que era sério. Eu sempre trabalhei com humor, mas esse personagem era sério. Aí fiquei pensando: “televisão não é pra mim, acho que televisão não gosta de mim, acho que não tenho tipo físico pra televisão”. Mas continuei num trabalho de formiguinha no teatro, sem parar, topava tudo que era evento. Um dia, uma produtora de elenco me ligou dizendo que a TV Globo estava fazendo cadastro de comediante. “Poxa já fiz uns 200 mil, isso não rola, não adianta, todo mundo já conhece meu trabalho, todos os diretores”. Eu tinha 17 anos de carreira. Meu ex-marido era roteirista também da Globo, o Guel Arraes (diretor) almoçava lá em casa toda quinta-feira, não era essa a questão. Disse que não ia fazer esse cadastro, porque depois ficaria deprimida por não vai dar em nada. Ela falou pra eu pensar bem. Marquei de ir e um dia antes desmarquei. Ela insistiu. Desmarquei três vezes, mas acabei fazendo o teste. Era uma amostragem de humor do Brasil inteiro. Eram 700 vídeos e o meu ficou entre os dez que eles selecionaram para mostrar a todos os autores e diretores da Globo. Aí o Maurício Sherman me chamou para fazer um teste pro Zorra (Total). O Sherman me conhecia desde pequena, ele era amigo da minha família. “Ai meu Deus, mais um dos milhões de testes”. Fui despretensiosamente. Quando acabou minha leitura ele até comentou que eu não estava interpretando. Respondi que estava, que li o texto tentando fazer o melhor, mas foi um teste péssimo. Ele então sugeriu fazer um personagem, mas achei que não seria legal, que não era engraçado. Mas, uma falinha no texto dizia: “vem cá, eu te conheço?”. Eu disse: “isso aqui é sonoro”. Tenho um ouvido bom pra bordão. Sugeri pensar num personagem que tivesse esse bordão e construir a historinha em cima disso. Aí nasceu a Laura, que foi o maior sucesso. Do Zorra pra frente minha carreira deslanchou, ganhei notoriedade.

Foi o divisor de águas?

Totalmente.

E como foi sua ida para o cinema?

Quero tanto fazer mais cinema, é uma coisa que eu quero e gosto. Vou fazer agora Muita Calma Nessa Hora 2, do Bruno Mazzeo. Vamos rodar em junho, julho. No segundo semestre vou fazer outro filme que ainda não posso falar. Tomara que eu faça cada vez mais. Também vou dublar um desenho animado que eu amo, Meu Malvado Favorito. Em maio vai ser o lançamento mundial do filme. Estamos eu, Leandro Rassum, o Sidney Magal.

Além dos filmes, tem outros projetos em andamento?

Tem um espetáculo pro segundo semestre, com texto da Martha Medeiros e direção do Ernesto Piccolo. Estamos começando a montar, formatando o texto. Acabei de fazer uma novela e tirei férias, voltei ontem (18/4) das férias, agora que vou tomar pé das coisas. Tem a dublagem, os filmes, o espetáculo com o Neco (Piccolo). Na televisão também tem um projeto muito legal pro segundo semestre, de um programa de humor, que acho que vai ser muito bom.

Nessa peça você faz a Paula, que é bailarina e atriz também. O personagem tem semelhança com você?

Tem sim, no sentido em que ela é meio mediana, meio desencantada com a carreira. E eu, até os 39 anos estava ali batalhando, pensando “gente onde isso vai parar, um dia vou ter que fechar a portinha e ir trabalhar, sei lá, fazendo pão de queijo”. Tenho muito essa vivência da ralação. A coisa do sucesso, de ser reconhecida, do autógrafo, da foto, é muito recente. Eu gramei muito a minha carreira toda. A memória maior é de estar ralando como a Paula rala na peça.

Além da Laura, tem algum outro personagem que foi mais marcante para você?

Acho que tem a Márcia, também do Zorra, que traía o marido, que foi um megasucesso; e a Bibi, de Insensato Coração, que teve uma repercussão muito grande também.

Do período que você começou para cá, em relação ao teatro, mudou alguma coisa, ou continua difícil sobreviver só com o teatro?

É uma pena isso, porque quando eu não era conhecida, várias vezes ouvi aquela história: “poxa a gente está querendo um nome famoso”. E eu não era o nome conhecido, embora soubesse que poderia fazer super bem o papel. Hoje eu sou o nome conhecido, mas não acho legal a gente precisar disso. Devia ter uma forma do teatro ser bom pelo que é e não por ter uma atriz mais conhecida. Embora esteja agora numa posição privilegiada, acho que é muito injusto você depender da televisão, de estar no ar para levar público ao teatro.

Seu foco é mais no humor. É diferente fazer drama?

Adoro fazer coisa séria, mas acho que fazer humor é mais específico, mais difícil, tem menos gente que faz. Então é como se eu fosse especialista, acho que tenho o tempo da comédia, diferente de outros atores que não têm. Então, eu adoro explorar humor porque é uma coisa que sei que sei fazer. Tenho ouvido bom para humor, mando a piada no tempo certo. Tem atores dramáticos maravilhosos que não têm o tempo da comédia. Eu certamente não sou uma atriz de drama tão grandiosa quanto outras que não têm o tempo da comédia, sou mais especialista em humor mesmo.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por