MÚSICA

Boca Livre volta a gravar repertório novo após 18 anos

Quarteto vocal celebra 35 anos de carreira com o lançamento do CD 'Amizade'

Marita Siqueira
06/11/2013 às 17:29.
Atualizado em 26/04/2022 às 11:32

Responsável por elevar a música independente ao patamar de disco de ouro com o LP homônimo de 1979, o grupo Boca Livre volta a gravar repertório novo após 18 anos, mantendo a sofisticação dos arranjos e alto nível das letras. 'Amizade' (Universal Music), lançado em outubro pelo selo MP,B, traz como um dos destaques a faixa 'Terra do Nunca', da consagrada parceria Edu Lobo e Paulo César Pinheiro, e ainda a faixa-título, que fecha o álbum comemorativo dos 35 anos de carreira do grupo.Maurício Maestro (contrabaixo e vocal), Zé Renato (violão e vocal), David Tygel (viola e vocal) e Lourenço Baeta (flauta, violão e vocal) garimparam por dois anos um conteúdo renovado que se adequasse ao disco. “Grupo vocal tem uma coisa complicada. Requer uma engenharia que vai desde a escolha do repertório até o experimento das músicas, depois os trabalhos de arranjo. Para deixar tudo no ponto em que todos concordem, é um trabalho muito artesanal, demorado, não é simples. Para manter o padrão de qualidade que a gente gosta é preciso um certo tempo”, diz Maestro.Para ele, o fato de demorarem anos a gravar uma seleção de novas canções foi necessário para que o Boca Livre se reciclasse internamente. “Primeiro passamos por um período gravando coisas antigas, discos ao vivo, DVD, que tinham material novo, mas predominava a revisão do trabalho do grupo. Fomos acumulando o desejo de fazer coisas novas, começamos a recolher músicas que já conhecíamos com outras que chegaram”, explica, referindo-se aos CDs 'Boca Livre 20 Anos' (1998), 'Boca Livre e 14 Bis' (2000), 'Nossos Cantos' (2001) e o DVD 'Ao Vivo' (2007).A grande preocupação dos integrantes do Boca Livre foi extrair o máximo das músicas para que o arranjo se tornasse algo do grupo e não pessoal de um ou de outro, diz o contrabaixista. “A gente vai achando os formatos das músicas durante os encontros. Muitas a gente inverteu, repetiu partes, criou novas ou até deixou como era mesmo. Tem música que já vem pronta, por exemplo, 'Terra do Nunca'”, diz Maestro, citando a canção que havia sido gravada apenas para o musical 'Peter Pan' com vocal de Zé Renato e arranjos também dele.Em 'Amizade', 'Terra do Nunca' teve uma releitura harmônica, conduzida por violão ao invés de piano. “Edu (Lobo) conduzia ao piano e resolvemos colocar o violão. Piano é um instrumento aberto que dá todas as notas; no violão, às vezes, a gente tem que achar as notas escondidas. Tem uma sonoridade que se aproxima mais do padrão que a gente sempre fez. E para não perder o questão pianística, convidamos o Cristovão Bastos para tocar”. A música fala do espírito de renovação e de busca interior predominante na juventude. “A música diz muito para nós, fala desse reencontro com a alegria infantil e também tem o lado da descoberta e da amizade, que é o tema e virou título do disco.”'Amizade' foi escolhida ao longo processo para titular o trabalho e posicionada intencionalmente para fechá-lo. “Ela resume o porquê da continuidade desse grupo. Amizade não é só o ‘oba-oba’, mas suportar os momentos difíceis, poder brigar em prol do objetivo e entender a compreensão dos pensamentos”, considera Maestro. ContracapaAlém das canções, a construção e a transformação do Boca estão representadas — e evidenciadas — no encarte. Na contracapa, quatro jovens despojados, cabeludos e barbudos — assim a fotógrafa Lizzie Bravo registrou os músicos durante as gravações de 'Bicicleta' (1980). Trinta e três anos depois, estão grisalhos, “quase sérios” e maduros, como retratou Frederico Mendes para a capa de 'Amizade'.

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