CROONER E CANTOR

Bob Nelson, nascia há cem anos em Campinas

Bob Nelson fez carreira como cantor de cassinos, bailes, orquestras e rádios. Aqui pelas terras de Carlos Gomes, lá em 1939, o homem chegou a se apresentar no palco ao lado de Carmem Miranda

Rogério Verzignasse
31/03/2018 às 21:20.
Atualizado em 23/04/2022 às 09:15
O cantor, que se apresentou com Carmem Miranda e conquistou fãs como Roberto Carlos: para poucos (Cedoc/RAC)

O cantor, que se apresentou com Carmem Miranda e conquistou fãs como Roberto Carlos: para poucos (Cedoc/RAC)

É, o tempo passa. E deixa suas marcas. O pessoal das novas gerações nem imagina. Mas há cem anos, lá em 1918, nascia em Campinas um cidadão que se tornaria astro nacional. Bob Nelson fez carreira como cantor de cassinos, bailes, orquestras e rádios. Aqui pelas terras de Carlos Gomes, lá em 1939, o homem chegou a se apresentar no palco ao lado de Carmem Miranda, a "Pequena Notável". Para poucos. Em 1943, ele virou celebridade porque ganhou um concurso da Rádio Cultura de São Paulo com uma versão em português do clássico norte-americano Oh, Suzanna. Pelos fãs conquistados, dá para se ter uma ideia de como o cantor era fera. O rei Roberto Carlos, por exemplo, era seu fã assumido. Assim como o amigo de fé e irmão camarada Erasmo Carlos. Os dois chegaram a compor uma música em homenagem ao campineiro, no comecinho dos anos 70. Mas até o Assis Chateaubriand, todo-poderoso dono dos Diários Associados, se rendeu ao talento de Bob, e o incentivou na carreira. E houve uma boa razão pra isso. Durante a II Guerra Mundial, o empresário fazia uma homenagem ao comandante norte-americano Douglas McArthur. O Bob Nelson, na ocasião, foi convidado para cantar Oh, Suzanna e, na plateia, o milico se derreteu todo. Até subiu ao palco para abraçar o cantor, dizendo que era de Arkansas, adorava o estilo country, e estava tocado. Pronto. Depois do reconhecimento do general, Chateubriant tratou de patrocinar a primeira fantasia de cowboy do Bob. E ele virou o famoso "Vaqueiro Alegre" , consagrando o inconfundível ritmo yodel (tirolei, tirolei, tirolei, tirolei…). Nos bastidores O homem, depois do sucesso nos palcos, continuou trabalhando na Rádio Nacional do Rio, como diretor do departamento de gravações. Foi contratado no comecinho do anos 50, e ficou na emissora até 1976, quando se aposentou. Bob Nelson morreu em 2009, com 90 anos de idade. Quem mergulha na trajetória do astro Bob Nelson é o jornalista Moacyr Castro, famoso em Campinas por décadas de trabalho no Correio Popular. Castro, que hoje mora em Ribeirão Preto, se apaixonou pela história do cantor quando conheceu, aqui em Campinas, as anotações de um velho amigo do artista, Paulo Clímicaco de Camargo Guimarães, que teve uma relação bem próxima com a família do ídolo. O jornalista Moacyr Castro, no caso, começou a registrar os causos no bloquinho e não parou mais. Ele sabe que tem mais história por aí. A saga Moacyr Castro conta que o cantor (Nelson Perez, de batismo), era o sexto dos oito filhos do espanhol José Perez e da dona Floresmina. Em Campinas, o pai era funcionário da Mogiana. Depois de fazer o grupo escolar anexo à Escola Normal, o menino se formou na Escola de Comércio, e já pegava no pesado aos 11 anos. Também chegou a trabalhar na Mogiana e foi caixeiro-viajante. Virou crooner na Orquestra Julinho e cantor solista do Grupo Cacique, se apresentando na Rádio Educadora de Campinas. "Uma noite, depois de assistir ao filme Idílio Nos Alpes, no Cine Rink, na rua Barão de Jaguara, por brincadeira, começou a se comunicar com um amigo à maneira das montanhas do Tirol, como fazia o cowboy-cantor Gene Autry. As mocinhas ao lado vibraram”, lembrou Castro. Um dia, em Taubaté, o cantor se apresentou no serviço de alto-falante e foi estimulado a ir à Hora da Peneira Rodine, na Rádio Cultura de São Paulo. Foi lá que ele ganhou o concurso, e não voltou mais para Campinas. Ia de uma rádio para outra. Na Rádio Tupi, o diretor Dermival Costalima o contratou como cantor profissional. E foi lá que ele adotou o nome artístico que o consagrou. Um diretor, folheando uma revista de cinema, conta, deu com o nome de Robert (Bob) Taylor, grande galã da época. Dermival Costalima teve o estalo: "Bob Nelson!". Com um repertório ampliado, ele atuou em diversos cassinos brasileiros. No Rio, Bob foi contratado "a peso de ouro" pelo Cassino Atlântico. E, na Rádio Nacional, o Vaqueiro Alegre se tornou astro no palco e no disco. Até virou ator do cinema nacional. Bob Nelson se casou com Antonietta Leal Perez em 1950, quando já trocava os palcos pelos cargos internos da rádio. Mas nunca parou de trabalhar. Depois de aposentado, regatou o "caixeiro-viajante" da infância e se tornou representante de produtos ópticos. Orgulho campineiro, para sempre.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por