IMORTAL

Bira Dantas ocupa cadeira da Academia Brasileira de HQ

Ele, que é radicado em Campinas, é um dos únicos artistas, entre os 20 integrantes da instituição, que não é natural do Rio de Janeiro: assista ao vídeo com entrevista

Marita Siqueira
marita.siqueira@rac.com.br
25/02/2015 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 00:30

Bira Dantas: "Conquistamos no Brasil um nível de produção elevado" ( Dominique Torquato/ AAN)

Bira Dantas, quadrinista paulistano radicado em Campinas desde 1988, é um dos ocupantes das 20 cadeiras da recém-criada Academia Brasileira de Histórias em Quadrinhos (Abrahq), no Rio de Janeiro. Ele é um dos únicos integrantes da instituição, que funcionará nos mesmos moldes das tradicionais Academias de Letras, que não é da capital fluminense — o outro é o baiano Fabio Moraes. A Abrahq foi oficialmente constituída em 30 de janeiro, quando se comemora O Dia do Quadrinho Nacional — foi nessa data, em 1869, que foi lançada a primeira história em quadrinhos brasileira, 'As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora', de Angelo Agostini. As 20 cadeiras homenageiam desenhistas, roteiristas, historiadores e colecionadores, entre eles Gedeone Malagola (1924-2008), Jayme Cortez (1926-1987), Flavio Colin (1930-2002) e Edmundo Rodrigues (1965-2012).   Criação   A ideia partiu de Ágata Desmond, cofundadora da marca HQ Forever, membro da Confraria do Gibi RJ e curadora da obra dos artistas Edmundo Rodrigues e Flavio Colin. A instituição nasceu com o objetivo de criar espaço para a valorização e preservação das histórias em quadrinhos no Brasil, ou, como Ágata, nomeada primeira presidente, prefere dizer, “cavar espaços”, já que o mercado, em sua opinião, está fechado.   “Não estamos lutando contra os quadrinhos internacionais, nada disso. Mesmo porque isso seria impossível. Mas queremos buscar espaço para que os nossos profissionais encontrem mercado de trabalho”, diz ela, frisando que a profissão do desenhista de HQs não é regulamentada. “O desenhista profissional sofre com isso. Ainda mais quando já está em idade avançada. É comum vermos profissionais de renome que já fizeram sucesso, morrer pobres e esquecidos.”   Mercado difícil Ágata lembra que, na década de 1970, mesmo em meio à ditadura, havia grande número de editoras e pessoas interessadas em produzir. “Os profissionais podiam viver da arte ou pelo menos pagar as contas. Hoje, infelizmente, a situação está muito adversa. Nossos artistas estão órfãos, sem editoras e sem trabalho. Muitos estão vendendo seus trabalhos nas ruas para sobreviver”, disse.   Por outro lado, Bira Dantas, que além de assumir uma cadeira na Abrahq também é membro da Associação dos Quadrinistas e Cartunistas do Estado de São Paulo (AQC), vê um mercado em ascensão.    “Conquistamos no Brasil um nível de produção muito elevado. Temos pelo menos 25 desenhistas de super-heróis de primeira linha e outros tantos reconhecidos internacionalmente com trabalho mais independente, alternativo. O mercado mudou, não temos mais a venda em bancas, o que é péssimo, mas melhorou a produção e aumentou a publicação de obras teóricas. Nunca vi tanto quadrinho sendo publicado e comercializado no País. A Academia vem para coroar isso”, diz o cartunista, que completa: “(O mercado) Está melhorando, mas há muito o quê crescer, como ter distribuidoras especiais para quadrinhos.”   Contribuições   Quanto às críticas que vêm sendo feitas nas redes sociais sobre a escolha dos membros e questionando a funcionalidade da Abrahq, Dantas responde: “A academia está criada. Quem está descontente tem que ajudar a melhorar, contribuir para que seja cada vez mais representativa. A ideia é muito interessante, assim como a desenvolvimento e o esforço que fizeram para que fosse oficializada no dia 30 de janeiro. Com o que puder, vou contribuir”.   Em relação aos membros, ele avalia que outros nomes poderiam entre eles, mas acredita que as cadeiras estão bem ocupadas. “Tem gente de diversas linhas, uns mais acadêmicos, outros do terror e outros do humor, como eu. Ainda tem experts em quadrinhos, que não são desenhistas, mas grandes conhecedores e podem colaborar pela preservação da memória da HQ brasileira. Há quem critique o fato de alguns não estarem na ativa. Há também uma parcela que reclama da ausência do Ota (cartunista carioca) e (Julio) Shimamoto (desenhista da primeira HQ do Capitão 7). Acho que deveriam estar, sim, não sei se foram chamados ou não. De qualquer forma, não tira o mérito da academia.”Escolha dos “imortais” Segundo Ágata, Edmundo Rodrigues tinha um diário com o projeto da academia e o nome de todos os artistas que trabalharam com ele. “Ele foi um dos mestres das histórias em quadrinhos e passou pelas principais editoras do País e também pela TV. Segui tudo o que ele havia escrito e nomeei simbolicamente cada uma das 20 cadeiras, com o nome daqueles que trabalharam com ele. E precisava definir as pessoas (os imortais) que iriam sentar nessas cadeiras.” A opção, de acordo com ela, foi por profissionais ou pessoas envolvidas com quadrinhos, com boas ideias e que estivessem dispostas para trabalhar. “Tem profissional que já entregou os pontos e não acredita mais que possamos reverter o jogo”, acredita.   “Conseguimos montar um bom time nessa fase inicial e mesclar jovens e artistas experientes”, completa. No começo, as reuniões serão realizadas no Espaço Cultural Colmeia, em Botafogo (RJ), e o primeiro encontro está marcado para hoje.Acervo   O acervo da Academia Brasileira de Histórias em Quadrinhos (Abrahq) conta com 60 mil gibis, que estão armazenados no virtual Museu do Gibi, em Niterói (RJ), sendo que grande parte dos desenhos ainda tem seus originais preservados, em folhas no mínimo duas vezes maiores.   A coleção possui raridades, tais como 'O Tico-tico', tira da década de 1940; 'João Charuto', do mesmo período; 'Irina, a Bruxa', um clássico do gênero de terror criado por Edmundo Rodrigues em 1960; 'Jerônimo, o Herói do Sertão', também de Rodrigues; e 'Popeye', que desembarcou no Brasil, por volta de 1975.   Quem é   Ubiratan Libanio Dantas de Araújo, o Bira Dantas, nasceu em São Paulo e trabalha com quadrinhos, ilustrações e charges desde 1979. Foi desenhista do gibi 'Os Trapalhões' e colaborou com revistas como 'Pântano', 'Tralha', 'Porrada', 'Megazine', 'O Pasquim 21' e alguns jornais. É professor de charge, cartum e caricatura em Campinas e autor das tiras do 'Tatu-Man'. Adaptou para os quadrinhos obras literárias como 'Memórias de um Sargento de Milícias', 'Dom Quixote de La Mancha' e 'O Ateneu'.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por