LEGADO

Biografia ilustrada narra a trajetória da jornalista Glória Maria

Em livro novo do selo Black Power da Editora Mostarda, o jornalista e educador Duílio Fabbri Jr. narra a jornada de um dos ícones do jornalismo brasileiro

Aline Guevara/ [email protected]
11/02/2024 às 10:52.
Atualizado em 11/02/2024 às 11:17
Livro apresenta às novas gerações, com a ajuda de ilustrações, a carreira e o legado deixado por Glória Maria, considerada um dos ícones do telejornalismo brasileiro (Ilustração de Manoela Costa)

Livro apresenta às novas gerações, com a ajuda de ilustrações, a carreira e o legado deixado por Glória Maria, considerada um dos ícones do telejornalismo brasileiro (Ilustração de Manoela Costa)

Um dos maiores símbolos do jornalismo e da televisão brasileira, a jornalista Glória Maria – que nem precisava usar o sobrenome (Matta da Silva) para ser identificada – morreu há um ano, no dia 2 de fevereiro. Seu legado é facilmente reconhecido por quem vivenciou sua trajetória, mas pode passar despercebido para a geração mais nova. Buscando preservar essa memória e perpetuar a história da repórter para o público infanto-juvenil, a Editora Mostarda, de Campinas, lança a sua biografia ilustrada dentro do selo Black Power. Já em pré-venda, o livro “Glória Maria Matta da Silva” (de 80 páginas) pode ser adquirido no site da editora e nas livrarias.

“A Glória abriu o caminho para muitos de nós”, lembra o autor da publicação, o jornalista e educador Duílio Fabbri Júnior, que agarrou a oportunidade quando foi convidado pela editora.

“Era uma época em que ainda existiam poucas mulheres no jornalismo, na televisão. Depois, era negra, em uma sociedade onde o racismo estrutural era muito mais forte. E ainda, na forma de narrar e como se coloca dentro das reportagens, ela muda a estética do que era feito até aquele momento”, lembra Duílio, que detalha: Glória Maria saía da posição de figura que detinha o conhecimento para aquela que convidava o espectador a se identificar com as emoções que ela passava, colocando este no centro da narrativa.

“Naquele momento que não havia outras referências, ela se fez. Há novas referências todos os dias hoje, mas como chegamos até aqui? Quem nos trouxe? A gente tem um compromisso com a memória, com a história, mas também com a nossa identidade”, destaca o escritor. O argumento, pontua, vale para todos, inclusive para os mais jovens.

FALANDO COM OS JOVENS

A inspiração para chegar na linguagem mais adequada para o público-alvo da obra sem infantilizar o texto, explica Duílio, veio da própria Glória. “Eu também tenho que convidar o meu leitor para participar comigo e sentir aquela informação.” A proposta é construir a personagem, sua trajetória repleta de esforço e luta, trazendo-a para perto das referências dos jovens. 

As ilustrações de Manoela Costa também complementam a comunicação do livro e houve bastante diálogo entre a artista e o escritor. “Eu precisei fazer muita pesquisa sobre a história da Glória, então, eu sabia até dos detalhes do visual. Por exemplo, que em determinada época ela usava o cabelo afro mais curto, ou que ela usava a gola mais aberta, não era de usar muitos acessórios. Tudo isso é importante para construir a narrativa”, informa o autor. 

Livro Glória Maria Matta da Silva (Ilustração de Manoela Costa)

Livro Glória Maria Matta da Silva (Ilustração de Manoela Costa)

ADMIRAÇÃO E LUGAR DE FALA

Como editor de rede da EPTV Campinas, o jornalista chegou a trabalhar temporariamente em projetos junto com Glória. A comunicação com ela, lembra, sempre foi profissional, mas a admiração e até um certo nível de nervosismo sempre estavam presentes. “Por mais que a gente fosse colega, no fundo você fica com aquilo de ‘Nossa, é a Glória’. Ela foi esse ídolo, a mulher que tornou possível também o meu lugar. A relação sempre foi de admiração.” 

O escritor precisou tomar um cuidado extra na escrita. “Esse lugar de fala precisou ser muito bem cuidado, afinal, ela foi uma mulher negra e eu sou um homem branco. Eu tive apoio dos editores da Mostarda [que têm um corpo formado por pessoas negras] para que eu não viesse com uma visão do meu lugar de fala sobre o que ela passou e sentiu em relação ao racismo. Eu normalizava algumas situações que, para mim, não eram nada demais, mas eram.” 

Houve uma preocupação com a linguagem, no conteúdo e na forma, para levar as informações de época para os dias atuais. “Ela faleceu há um ano, então, estamos falando da Glória Maria de hoje, praticamente, olhando para o passado. Essa mudança precisava estar refletida na narrativa”, reforça Duílio. 

O livro terá evento de lançamento em Campinas, incluindo bate-papo com o autor e sessão de autógrafos. Informações pelo Instagram @duiliofabbrijunior e @editoramostarda.

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