EM CAMPINAS

Biblioteca conta com importante acervo em Braille na cidade

Com 1.500 exemplares de livros em Braille, 500 audiolivros e uma impressora para trabalhos diversos, a Biblioteca Municipal Manuel Zink atende deficientes visuais

Cibele Vieira/ cadernoc@rac.com.br
03/04/2024 às 14:18.
Atualizado em 03/04/2024 às 16:18

A Biblioteca Municipal Manuel Zink tem uma coleção composta por 1.500 livros em Braille, 500 audiolivros e uma impressora para trabalhos diversos (Rodrigo Zanotto)

A biblioteca já foi um ambiente exclusivo para pessoas com visão, em um tempo passado e que se tornou esquecido graças aos recursos disponíveis também para os deficientes visuais. Afinal, enxergar o conhecimento dos livros vai além do olho funcional e se torna acessível por meio de muitas ferramentas e inovações, como os aplicativos e outras novidades tecnológicas. Entretando, a vontade de ampliar a acessibilidade para os deficientes visuais precisa também de investimentos e de gente envolvida para virar realidade. É essa a história da Biblioteca Braille que funciona dentro da Biblioteca Pública Municipal Prof. Ernesto Manuel Zink, no Centro de Campinas, e de um acervo menor na Biblioteca Pública Distrital Guilherme de Almeida, em Sousas.

O trabalho de inclusão na biblioteca começou em 1989, com o funcionário público e deficiente visual Marcos Melo (já falecido). Edson Galdino, que o sucedeu nesse trabalho de coordenação da Biblioteca Braille, já ajudava desde 1991 e lembra que a Biblioteca Municipal era um ponto de encontro no final da década de 1990, com jogos de dominó e rodas de conversa, num tempo em que o celular ainda não dominava a comunicação.

“As pessoas cegas vinham à biblioteca para se informar sobre o que acontecia na cidade e as notícias referentes aos deficientes visuais”, conta. Ele relata, inclusive, uma parceria com o Correio Popular (que durou dois anos) com reuniões às quintas-feiras para ouvir a leitura do jornal, trocando ideias sobre os textos.

Foi nesse período também que começaram as parcerias para aquisição de livros com a Fundação Dorina Nowill (São Paulo), Instituto Benjamin Constant (Rio de Janeiro) e o Centro Prof. Albuquerque e Castro (Portugal), que doaram boa parte dos 1.500 livros em Braille que hoje compõem o acervo, enriquecido também por cerca de 500 audiolivros. Entre eles, há literatura nacional e internacional, história, religião, filosofia, culinária, direito, infantis e outros.

Os equipamentos que facilitaram o acesso individual chegaram em 2017, com a impressora em sistema Braille (para impressão de livros, apostilas escolares e outros textos de escolha dos cegos), lupa eletrônica (para pessoas com baixa visão) e computador com sistema de conversão para áudio. O acesso aos livros, as transcrições feitas na impressora Braille e todo o uso de equipamentos e serviços é gratuito.

Hoje, a Biblioteca tem cerca de 300 usuários (50% menos do que há dez anos), apesar da estimativa de 15 mil pessoas com deficiência visual em Campinas (entre cegos, com baixa visão e idosos). “Hoje, no Brasil, pouca gente lê, até entre os de visão perfeita, mas muitos deficientes ficam em casa por medo, por falta de incentivo ou por comodidade, já que a tecnologia possibilita receber em casa os livros digitais”, comenta Galdino. Hoje com 56 anos, ele nasceu cego e a causa recai sobre a rubéola que a mãe contraiu no primeiro trimestre da gestação. Ele nasceu no interior do Paraná e só chegou a Campinas aos 14 anos de idade, onde aprendeu a linguagem em Braille e adquiriu habilidades de locomoção no Centro Cultural Louis Braille em Campinas. Em seguida, fez o exame supletivo e, posteriormente, faculdade de Letras (InglêsPortuguês).

BRAILLE NÃO É FÁCIL

O Braille é um sistema de escrita e leitura tátil para as pessoas cegas inventado pelo francês Louis Braille. A professora Daniela de Oliveira Bastos, 41 anos, é formada em Pedagogia, cursa pós-graduação em Educação Especial e faz curso de Inglês, mas está desempregada. Ela nasceu prematura e perdeu a visão na incubadora. Ela atribui à falta de informação e preconceito a dificuldade de colocação profissional que enfrenta. “Precisamos de mais oportunidades”, ressalta.

Moradora em Valinhos, frequenta com assiduidade a Biblioteca Municipal de Campinas, inclusive para imprimir materiais de estudo. Ela já atuou como professora no Instituto dos Cegos em Campinas e relata que o aprendizado em Braille não é fácil. “Primeiro, precisamos preparar a estimulação para o aluno perceber o tato, entender a formação dos pontos, até conseguir fazer a leitura pela ponta dos dedos. Em média, demora cerca de um ano para ser alfabetizado em Braille”, conta.

Daniela brinca que “retirar livros na Biblioteca exige um esforço extra, inclusive malas de rodinhas” porque os livros são grandes, pesados e geralmente têm vários volumes. O último volume de Harry Potter disponível na Biblioteca Zink, por exemplo, tem 20 volumes em Braille e cerca de 3.500 páginas, enquanto o impresso tem apenas um volume com mil páginas.

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