ENTREVISTA

Bate-papo com escritor de histórias de dar medo

André Vianco esteve na Livraria Cultura, em Campinas, para lançar seu décimo livro sobre vampiros

Kátia Camargo
30/05/2013 às 22:57.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:56

André Vianco, de 38 anos, é considerado um dos pioneiros da nova safra de escritores de ficção fantástica no Brasil. O escritor, que já vendeu mais de 500 mil livros no País, começou a carreira bancando do próprio bolso seus primeiros títulos. Em 1999, após ser despedido do emprego em uma empresa de cartões de crédito, Vianco utilizou o seu FGTS para produzir mil cópias do que viria a se tornar seu primeiro best-seller, 'Os Sete'.

Mas foi somente em 2001 que a editora Novo Século se interessou por seu trabalho de estreia e o reeditou. Na semana passada, Vianco esteve em Campinas, na Livraria Cultura, para lançar seu décimo título sobre vampiros (e sua 16ª obra), 'Noite Maldita: Crônicas do Fim do Mundo'. Na ocasião, ele conversou conosco sobre a carreira e o universo da literatura fantástica.

Suas obras são marcadas pelo terror e criaturas sobrenaturais, com ênfase em vampiros. Suas histórias são sempre situadas no Brasil, principalmente em Osasco, cidade onde cresceu. André Silva adotou “Vianco” como sobrenome artístico em homenagem a uma rua de Osasco. Ele também escreveu por dois anos textos de humor para a rádio 'Jovem Pan'.

Vianco diz que sonha em ver seus livros transformados em longas-metragens. Além de fã de literatura fantástica, o autor admira escritores como Victor Hugo e Carlos Drummond de Andrade. Ele já dirigiu três curta-metragens, o primeiro intitulado 'A Flor', baseado em conto de Carlos Drummond de Andrade; 'A Última Partida', inspirado em texto de sua própria autoria; e 'Saia do Meu Quarto', roteiro de Estevão Ribeiro. Também produziu e dirigiu o piloto de seriado 'O Turno da Noite' para a TV, em 2010.

Seu nome verdadeiro é André Silva. Por que adotou André Vianco na literatura, em que se inspirou?

André Vianco — Nasci em São Paulo, mas sempre morei em Osasco. Vianco é originado da rua Dona Primitiva Vianco, em Osasco. É uma homenagem que quis fazer à minha cidade. Além disso, muitas das minhas histórias se passam no cenário da cidade de Osasco.

De onde vem seu interesse pela literatura fantástica?

Sempre gostei muito de ficção e fantasia. O primeiro livro que li era de um monstrinho que comia tudo que aparecia pela frente até que engoliu um lago inteiro e explodiu. Sempre gostei de ver as histórias sombrias, na ficção e no mundo real. Desde a infância lembro de parar na frente da televisão para assistir a filmes de horror e fantasia. Logo depois vieram as histórias em quadrinhos, os filmes de terror na TV. Fui logo seduzido por esse universo que é da fantasia do horror, do terror e com isso comecei a criar minhas coisas, montar minhas histórias.

Pode citar algumas obras ou personagens que te influenciaram?

Posso dizer que minhas influências são miscelâneas de tudo que já li e assisti. Vão desde HQ, literatura propriamente dita e cinema. Tudo isso acabou se misturando, mas claro que os filmes de vampiros e histórias de fantasmas sempre me chamaram muito atenção. E paralelo a isso, os autores que nada têm a ver com terror me deixaram extremamente atraído pelos mundo das palavras. Desde Carlos Drummond de Andrade, Victor Hugo. Um dos meus livros favoritos é 'Os Miseráveis', do Victor Hugo. É um autor que ensina muito o escritor como movimentar sua história, manter a atenção e a curiosidade do leitor pelos capítulos.

Como você enxerga hoje a temática dos vampiros?

O terror tem um público bem fiel e posso dizer que ouve um boom com a saga 'Crepúsculo'. Mas, independente desse boom, tenho um público cativo. Tem muita gente que vai nas noites de autógrafos e traz suas coleções para serem autografadas. São pessoas que gostam de dizer que têm as coleções e isso é bem legal também. Escrevo sobre essa temática há mais de 15 anos e vejo que muitas vezes participam dos eventos famílias inteiras, desde os avós até os netos que leem minhas obras. Tenho um público bem eclético e abrangente e isso é muito bacana para um escritor.

Seu mais recente livro é 'A Noite Maldita: Crônicas do Fim do Mundo'. De que se trata?

A Noite Maldita é realmente uma história de fim de mundo. É um livro que já fazia algum tempo que eu queria escrever, queria contar essa história. Isso porque eu tenho uma saga que se chama 'Vampiro Rei', a história começa 30 anos depois do mundo ter acabado como a gente o conhece, como é hoje. Mas eu ficava imaginando como foram os primeiros dias. Eu tenho esse pendão para essas histórias épicas, povoadas de heróis, de ação, mistério e queria colocar tudo isso nesse cenário apocalíptico, de final de mundo. Metade do mundo adormece, acabaram os sinais de rádio, internet. Você não tem mais contato com duas ruas para cima da sua casa, a não ser que se locomova até lá. Dias mais tarde começam a surgir os vampiros e aí está montado todo o cenário para 'A Noite Maldita'.

Você pensa em levar seus livros para as telonas?

Sim, seria fantástico, mas por enquanto ainda é um sonho. O primeiro livro que eu queria ver no cinema é 'O Sete', que foi lançado em 2001 e é meu primeiro trabalho. O livro conta a história de uma caravela portuguesa naufragada há cinco séculos que foi descoberta no Litoral brasileiro. Dentro dela, sete cadáveres aprisionados em uma caixa de prata, acusados, na época, de bruxaria. E isso é até um sonho que é compartilhado com os leitores. Todos eles querem ver essa história no cinema, quem sabe um dia. Mas é uma estrutura que exige muito investimento, aquelas histórias de blockbuster. Mas estou trabalhando com a minha produtora em projetos menos ambiciosos por enquanto, para conseguir a confiança das produtoras maiores.

Seu leitores falam que seus livros são bem visuais, quando escreve você já pensa nisso?

Não, acho que o 'Senhor da Chuva' eu escrevi muito pensando na imagem primeiro. Mas a maioria dos meus livros tem disso, sem eu pensar quero isso aqui na tela de cinema dessa forma. Mas são histórias que seduzem muito a atenção dos leitores. Então, não tem como não imaginar na tela também, quem lê já imagina as cenas acontecendo. É muito comum meus leitores entrarem em contato comentando: “sabe aquela cena em que o anjo fez isso ou aquilo”. Não falam em capítulo ou trecho.

Como você enxerga o mercado literário atualmente?

No Brasil a gente luta para conseguir os leitores, mas as pessoas gostam. A literatura de fantasia tem crescido muito dentro do Brasil e no mundo. O leitor é bastante exigente e compara um bocado o que se escreve aqui com o que é produzido fora do Brasil. Quem não gosta de ler ou escutar uma boa história de lobisomem ou vampiro? Histórias que te levam por caminhos improváveis e te colocam em contato com criaturas insólitas costumam capturar a imaginação do bom leitor, encantar, seduzir. Mas sabemos que o mercado de literatura está em transformação por conta dos avanços digitais. É um momento em que os editores estão observando muito o que está acontecendo.

Como você faz para manter um diálogo mais próximo com seu público?

Na medida do possível, procuro responder às perguntas e curiosidades dos leitores por meio das redes sociais.

Como é seu processo de criação?

Vem de tudo que é lugar: de um filme que estou vendo, de uma série de TV, um telejornal, as coisas que você está lendo. Tudo isso vai se misturando, e uma hora dá um start e você cria uma coisa nova com tudo aquilo ali. É depois é preciso muita disciplina para escrever. Sentar todo dia na frente do computador e escrever de três a cinco páginas por dia de literatura para, aos poucos, ir montando um livro novo.

O que mudou no seu trabalho desde que você começou?

Amadurecimento, o tempo vai passando e eu vejo o ponto forte dessa evolução é o encontro do André Vianco escritor com o André Vianco contador de histórias.

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