literatura

Autores campineiros alçam voo em Paraty

Victor Costa e Gabriel Morais Medeiros contam como foi a experiência de lançar seus livros na Festa Literária Internacional de Paraty 2023, evento que homenageou Pagu

Aline Guevara/ [email protected]
01/12/2023 às 10:00.
Atualizado em 01/12/2023 às 14:36
Acabou no domingo, 26 de novembro, a 21ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) (flip_se/Instagram)

Acabou no domingo, 26 de novembro, a 21ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) (flip_se/Instagram)

Cerca de 27 mil pessoas caminharam pelas ruas de paralelepípedos de Paraty, RJ, nos últimos dias, enquanto a cidade vibrava em torno da literatura. Acabou no domingo, 26 de novembro, a 21ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e os números, confirmados pela Prefeitura da cidade, foram 10% superiores às edições de 2022 e de 2019, que tiveram um público similar. Portanto a Flip, em seu segundo ano presencial após a pausa por conta da pandemia, deixa clara a sua força e relevância como um dos mais importantes eventos do gênero do país e da América do Sul. A edição 2023, que recebeu escritores de várias partes do Brasil e homenageou Patrícia Galvão, a Pagu, teve presença campineira. Dois autores da cidade, que acabam de publicar seus livros, lançaram os volumes na festa.

TROCAS COM PÚBLICO E AUTORES

Victor Costa já trabalha com a escrita como roteirista, mas "Encurtamentos" é o seu primeiro livro. Nele, o autor revela-se através de uma prosa poética - intercalada com fotografias de outras artistas - bastante pessoal produzida ao longo dos últimos 10 anos. "Encurtamentos trata de um tempo muito difícil. Os textos foram escritos ao som de gritos sobre o preço da passagem, sobre as decisões da Lava Jato, sobre o golpe contra Dilma, Fora Temer, Bolsonaro e uma pandemia. Imagens e textos não tratam diretamente da historicidade, mas sim das subjetividades latentes deste período", detalha o escritor. Ele lançou o livro no último sábado, 25, no espaço da Casa Gueto, pela editora Patuá.

Essa não foi a sua primeira Flip, mas foi sim a estreia na festa como escritor. Victor conta que a troca com outros autores é uma das principais diferenças que ele percebeu nesta edição, assim como poder se relacionar com os leitores interessados em sua obra. "Também foi uma novidade trazer o tema de pessoa com deficiência à tona como objeto de arte", destacou. Ele nasceu com uma deficiência congênita que fez com que a perna e o pé direitos fossem mais curtos que o lado esquerdo do seu corpo e debateu a temática “A autoria de pessoas com deficiência na literatura” em mesa redonda na festa.

“Por meio do 'Encurtamentos' estou fazendo isso também. [..]A experiência do meu corpo com deficiência, em geral, não é uma experiência retratada em livros de poesia. Essa premissa me permite pensar nos outros corpos que também estão à margem. E são esses corpos que compõem junto aos meus textos e às fotos uma variada gama de situações de encontros", detalhou. Para Victor, a edição de 2023 da Flip estava pulsante dentro da poesia. "Vi muitos saraus espalhados pela cidade, tinham mais de 20 mesas na programação oficial cujos assuntos eram do campo da poesia. E tem uma coisa muito linda de lançar em um evento, podendo fazer esse corpo a corpo com o público e outros autores. Foi uma performance que expande o livro, não deixa de ser uma extensão dele. Foi incrível", completa.

AS EDITORAS INDEPENDENTES

Gabriel Morais Medeiros chegou para o festival literário este ano como editor responsável da campineira Ofícios Terrestres Edições e com o seu segundo livro, o volume de poesias "Os Céus se Gastariam", que venceu o prêmio Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) em 2022. "Fico feliz ao ver que as editoras e autores independentes têm ganhado espaço, paralelamente à programação oficial. O número dessas editoras dobrou de 2022 para 2023, de 12 para 25", indica o escritor. Ele também ficou, assim como Victor, no Espaço da Casa Gueto, que reuniu artistas independentes.

O autor e editor acredita que as editoras independentes hoje são responsáveis por uma parcela bastante relevante da publicação de autores estreantes. "E assim os meios da literatura foram mais democratizados". Gabriel esteve envolvido com a programação paralela, como mesas de debate e oficinas. "Aqui tivemos bastante público, muitas interações e tudo ficou bem dinâmico", avalia o escritor.

DE VOLTA PARA O MÊS DE JULHO

Tradicionalmente a Flip acontecia no mês de julho e passou para novembro no ano passado, em decorrência da pandemia. Mas, após o apagão de energia causado por uma manutenção da rede elétrica que deixou o primeiro dia da festa de 2023 "às escuras" e o calor intenso (de até 39ºC) registrado nesta edição, a organização do evento trabalha para retomar a data anterior. "Acho que quando a Flip era em julho, a festa era até mais inclusiva por acontecer em um período de férias das escolas e universidades. Eu acho a data de julho bem mais interessante do que a de novembro", aponta Gabriel. Em 2024, a Flip deve acontecer em setembro e para 2025 já há previsão para a festa voltar para o mês de julho.

Victor Costa gostou da oportunidade de estar junto ao público e a autores na Flip e destacou a importância de debater a deficiência na poesia (Arquivo pessoal)

Victor Costa gostou da oportunidade de estar junto ao público e a autores na Flip e destacou a importância de debater a deficiência na poesia (Arquivo pessoal)

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