“Atriz” presta tributo à classe teatral de Campinas

“A vida do artista de interior é quase como a do Dom Quixote. Ele tem que lutar contra um mundo inteiro para mostrar seu talento”, conta o cineasta Hamilton Rosa Jr. É sobre esse artista quase anônimo que o diretor coloca foco em seu novo curta, “Atriz”.

O filme conta com a participação de membros da classe teatral de Campinas e terá nesta quarta-feira (6) première aberta e gratuita no Cineclube da Adunicamp, às 19h. Após a sessão, haverá debate com o diretor e o elenco, com manifesto em favor do artista do interior.

O filme celebra a história de muitas personalidades do teatro da cidade, e o diretor conseguiu reunir mais de 70 atores da região para, numa cena capital, prestar essa homenagem.

“Atriz” começa com uma história particular: conta a trajetória de Virgínia Ribeiro (a atriz Andrea Wanger), uma veterana atriz do interior que dedicou toda sua vida ao teatro, porém, está sem trabalho. Ela é uma realeza no palco, mas fora dele, tem que batalhar para ter um ganha pão. E se uma mulher branca e de classe média tem dificuldades, imagina o que uma aspirante a atriz pobre e negra terá que enfrentar se quiser seguir a mesma profissão? Esta é uma segunda trama do filme, interpretada pela atriz Jéssica Magalhães. As duas histórias, que são baseadas em fatos verídicos, se entrelaçam e ilustram a dificuldade da classe artística em uma cidade como Campinas.

“É uma ironia ver a forma como os artistas têm que se digladiar para conseguir algum patrocínio. Campinas é uma das regiões mais ricas do Brasil. Em qualquer lugar do mundo, onde existe dinheiro, há espaços, às vezes monumentais, dedicados à arte e cultura. Mas aqui não, a elite campineira vai para os Estados Unidos e Europa assistir aos grandes espetáculos, ignorando os talentos que têm em sua própria casa”, lamenta Hamilton. Para ele, “são verdadeiros heróis que disseminam a expressão artística regional, muitas vezes sem o respaldo de uma política de incentivo, mas tornando sempre o inviável em possível, nem que seja na calçada de uma praça”, afirma o cineasta.

Segundo Hamilton, é preciso lembrar de algumas figuras importantes do meio artístico campineiro.

Ele cita, por exemplo, Teresa Aguiar, que foi a primeira grande diretora de teatro do Brasil. “Seu pioneirismo é destacado no País inteiro, aqui ela precisou lutar muito para conseguir reconhecimento.” Historicamente, a cidade contou com Luiz Otávio Burnier, “um dos maiores mímicos do País, mas que morreu jovem”. O diretor aponta também a criação da trupe “Os Geraldos” no Teatro de Arte e Ofício. E o grupo teatral de vanguarda, o Lume, que ganhou repercussão internacional. Cita ainda o Conservatório Carlos Gomes, que se tornou esteio para duas gerações de atores que tomaram o palco nos anos 1970 e 1980 e fizeram o teatro efervescer. Esses são apenas alguns dos muitos exemplos locais listados por Hamilton. Para o cineasta, “guerrilha é uma palavra que dá bem conta do que é produzir qualquer tipo de espetáculo na cidade”.

Sobre a carreira comercial de “Atriz”, que apesar de toda ambição, tem apenas 30 minutos de duração, Hamilton é pragmático: “vamos manter o filme inédito enquanto tentamos os festivais. A gente produz a obra, mas depende da acolhida. Para a equipe, o resultado ficou muito especial, mas é o coração do público que define a carreira. Esperamos que as pessoas embarquem na viagem e que seja um filme marcante, como foi para todos que estiveram na produção, na frente e por trás das câmeras”.

O curta-metragem tem a direção de Hamilton Rosa Jr. e o elenco é formado por Andrea Wanger, Jéssica Magalhães, Iriberti Argenton e Elisângela Lima.

PROGRAME-SE

Exibição do filme “Atriz”

Quando: Quarta-feira, às 19h Onde: Cineclube da Adunicamp - Av. Érico Veríssimo, nº 1.479 – Campus da Unicamp

Entrada Gratuita

Informações: Tel.: (19) 3521 2470 – Instagram @atriz_o_filme

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