CADERNO C

Atrás das grades

Com aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural, o complexo do Centro de Convivência será cercado por um gradil semelhante ao do Bosque dos Jequitibás

Cibele Vieira/cadernoc@rac.com.br
25/06/2025 às 15:44.
Atualizado em 25/06/2025 às 15:44

Tanto o Teatro de Arena como o Teatro Interno do Centro de Convivência serão cercados; segundo a Prefeitura, o cercamento não abrangerá a área verde da praça (Divulgação)

Serão 295 metros de gradil com 2 metros de altura e 19 portões instalados ao redor do complexo cultural do Centro de Convivência, envolvendo as instalações do Teatro Interno e o Teatro de Arena com uma malha galvanizada. A decisão de cercamento das instalações construídas no local foi aprovada – por unanimidade e sem discussão – pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), em reunião realizada no dia 29 de maio, sob a presidência da secretária de Cultura e Turismo Alexandra Caprioli. O argumento é segurança e preservação das obras de restauro. 

A proposta de cercamento veio de uma cidadã que queria toda a praça fechada. O projeto apresentado pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) prevê a cerca contornando as edificações com a distância de 5 metros. Dessa forma, segundo o secretário de Infraestrutura, Carlos Barreiro, o restante da praça permanecerá aberto para circulação da população. 

SUGESTÕES E CRÍTICAS 

O investimento para execução do projeto será de R$350 mil, recurso que sairá do Estudo de Impacto de Vizinhança, segundo a nota emitida pela Prefeitura. Os gradis serão semelhantes aos que foram instalados no entorno do Bosque dos Jequitibás e do Parque Ecológico. Segundo Barreiro, o cercamento “é uma demanda que surgiu desde a concepção do projeto”. Entretanto, somente agora esse tema veio a público, já com um projeto fechado e cotado pela Administração Municipal e aprovado pelo Corpo de Bombeiros. 

O presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Campinas, Paulo Sérgio Saran, comenta que fechamentos como esse acontecem em cidades da Europa, para manter os locais sem vandalismo. Mas alerta que essa iniciativa precisa preservar a beleza arquitetônica e a concepção do Centro de Convivência. 

Por isso, Saran propõe à Prefeitura um rápido concurso entre os arquitetos da cidade para escolher o melhor gradil ou alambrado para o local, que seja arrojado e incorpore modernidade, visibilidade e valores ao Centro de Convivência. Ele coloca a entidade que preside à disposição para organizar isso rapidamente, inclusive buscando patrocínio para premiação do projeto vencedor. “Seria uma homenagem ao arquiteto Fábio Penteado, que criou o Centro de Convivência, e poderíamos inclusive restaurar as dunas que faziam parte do projeto original e foram retiradas”, comenta. 

A arquiteta Ines Scisci Maciel alerta que até o nome “Centro de Convivência” tem o propósito de integrar as pessoas, a cidade, o Teatro de Arena. Ela morou por muitos anos no Cambuí e lembra das muitas vezes que usou as escadas do teatro externo para encontrar amigos, bater papo, conviver com as pessoas. E entende que “cercar desconfigura o projeto original e não é solução. Campinas precisa, mais do que nunca, de espaços de convivência reais. Fechar com grades não é apenas uma solução simplista para desafios complexos é, sobretudo, um erro histórico e cultural”, opina.

SEGURANÇA E PRESERVAÇÃO 

Carlos Barreiro alega que o cercamento tem o objetivo de “preservar o Teatro de Arena de possíveis atos de vandalismo ou de mau uso do ambiente aberto, evitando prejuízos à municipalidade”. O material escolhido para o cercamento é o aço, que segundo ele “vai dar a devida proteção ao espaço e é o mais próximo possível da estrutura de alvenaria de todo o teatro, permitindo que haja a devida visão e apreciação da arquitetura”. 

Ele explica que o local recebeu impermeabilização com tecnologia de última geração para proteção contra infiltrações, principal problema que levou à deterioração da área interna do teatro. E relatou que um caso de vandalismo, de uma pessoa que acendeu uma pequena fogueira no local, danificou parte do piso. Barreiro contou que isso aconteceu poucos dias após o debate sobre a fragilidade do impermeabilizante aplicado no piso do Teatro de Arena, que representou um investimento de R$ 3 milhões do total de R$ 64 milhões destinados à requalificação. 

A secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, que preside o Condepacc, defende que “a proposta foi construída com diálogo, responsabilidade técnica e sensibilidade histórica, cultural e arquitetônica”. Ela afirma que a filha do arquiteto Fábio Penteado e membros do Instituto Fábio Penteado foram consultados para saber se o cercamento fere os ideais do projetista do Centro de Convivência, com aval para a iniciativa. 

ÁREAS LIBERADAS 

Para permitir o acesso a algumas áreas em horários fora da programação dos teatros, como o café e as bilheterias, haverá abertura dos gradis no horário de funcionamento desses ambientes. Já o Teatro de Arena só terá acesso liberado em dias de programação no local. A Feira Hippie, que funciona nos arredores das edificações, será mantida com o mesmo número de barracas (240), mas com um layout diferente, que está sendo estudado, diz o diretor de Turismo, Eros Vizel, que pretende se reunir com os expositores no dia 4 de julho. 

A arquiteta e expositora da Feira de Antiguidades que acontece há 40 anos no local, Claudia Beraldo, se surpreendeu com a notícia do cercamento e lamentou que os expositores não sejam envolvidos nessas discussões “É como se não fizéssemos parte da grade cultural da cidade, isto nos entristece”, pondera. Mas comenta sobre os moradores de rua na região, muitas vezes drogados, que acabam destruindo as instalações, como os banheiros externos. 

PROPOSTA DE UMA CIDADà

A amante das artes Ana Maria Sorrosal – uma pessoa idosa e com mobilidade reduzida – mora próximo ao Centro de Convivência e acompanha as obras desde o início, opinando sobre questões de acessibilidade sempre que pode. Veio dela a sugestão do cercamento do complexo cultural. “Tento exercer minha cidadania, cuidando do espaço onde moro”, justifica. A medida, argumenta, é para “preservar o teatro de pichações e outras depredações, pois é uma bela obra que custou muito dinheiro”. Além do cercamento, ela sugeriu ampliar a iluminação da praça, instalar um posto da Guarda Municipal e manter câmeras de vigilância conectadas ao sistema Cimcamp, temas sobre os quais a Prefeitura não comentou.

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