Agora, na pele do homossexual reprimido Agno, de A Dona do Pedaço, ele comemora a oportunidade de viver um tipo mais complexo que o usual
A beleza rústica e o jeitão meio bronco foram responsáveis por fazer a carreira de Malvino Salvador deslanchar na tevê. Em uma trajetória que já dura 15 anos, o ator acabou se limitando a heróis e vilões sem muitas nuances, mas que lhe garantiram repertório e visibilidade. Agora, na pele do homossexual reprimido Agno, de A Dona do Pedaço, ele comemora a oportunidade de viver um tipo mais complexo que o usual. “Agno é o típico sujeito que se boicota ao longo de grande parte da vida por não conseguir viver e assumir a própria sexualidade. Quando decide viver, ele acaba tornando-se um grande egoísta. É um sujeito entre o amor e o desprezo”, coloca Malvino. As Artes Cênicas cruzaram o caminho de Malvino por acaso. Nervoso a cada novo teste para fotos e campanhas publicitárias, o então modelo recorreu a um curso de atuação para se “soltar” mais. “Quando vi, já não fazia mais sentido ser modelo e estava completamente envolvido pela profissão de ator”, explica. Natural de Manaus, capital do Amazonas, a estreia na tevê foi em 2004, no bem-sucedido “remake” de Cabocla. Na sequência, participou de produções como Alma Gêmea e A Favorita, até que chegou ao seu primeiro papel protagonista em Caras & Bocas, de 2009. “Um personagem foi me preparando para o outro. Errei e acertei, mas sempre segui em frente”, analisa o ator que, aos 43 anos, segue como um dos mais requisitados de sua geração. “Sou meio operário mesmo. As pessoas sabem que não fujo de trabalho. Acho que é por isso que sempre tem alguém chamando”, diverte-se. Malvino Salvador é íntimo do universo das lutas e treinos do núcleo da academia de A Dona do Pedaço. Tanto que, para realizar as cenas de boxe que divide com Caio Castro, o ator nem precisou de qualquer preparação específica. A paixão pelo esporte surgiu ao viver o pugilista Régis de Sete Pecados, trama de 2008. “Já era fã de boxe, gostava de ver e gravar as lutas. Esse amor só cresceu quando me preparei para fazer a novela e continuou depois que a trama acabou”, conta. Em casa, quando o assunto é luta, o ator ainda pode contar com a consultoria de sua esposa, Kyra Gracie, pentacampeã mundial de jiu-jítsu e integrante do famoso clã Gracie. “A gente treina muito junto. O lado bom disso é ter mais momentos a dois. Por conta de toda essa experiência, já chego no estúdio pronto para gravar”, ressalta. Malvino Salvador fala com propriedade sobre o posto de protagonista. A primeira vez na função foi com o frustrado Gabriel de Caras & Bocas, novela exibida em 2009. De “cara”, o ator ficou surpreso com o volume de trabalho e cenas para gravar do mocinho. “Nunca li tanto. Fiquei meio sem acreditar quando recebi o primeiro bloco de capítulos. Foi quando aprendi a ter disciplina como ator”, analisa. Já mais experiente, Malvino conseguiu curtir mais os bastidores de tramas como Amor à Vida, de 2013, e Haja Coração, de 2016. Para o ator, ao longo dos anos, com o maior investimento da Globo na preparação do elenco, ele se sentiu mais tranquilo para assumir a responsabilidade de encabeçar uma novela. “Apesar de ser um trabalho coletivo, é a cara do casal protagonista que fica em evidência ao longo dos meses de exibição. Chegar ao ‘set’ mais preparado e em sintonia deixa tudo muito mais leve”, garante.