ENTRE PASTILHAS E TINTAS

Artista plástico constrói megapainel em mosaico artesanal em Vinhedo

Artista plástico Elvis da Silva constrói em Vinhedo o maior painel em mosaico artesanal que se tem notícia no Brasil

Cibele Vieira/ [email protected]
30/01/2024 às 09:26.
Atualizado em 30/01/2024 às 09:26
O artista mostra o ciclo da cana-de-açúcar e do café, retratados na Estação Cachoeira de Vinhedo, no mega mosaico criado e executado por ele (Rodrigo Zanotto)

O artista mostra o ciclo da cana-de-açúcar e do café, retratados na Estação Cachoeira de Vinhedo, no mega mosaico criado e executado por ele (Rodrigo Zanotto)

Elvis da Silva, 62 anos, é artista plástico autodidata e bastante reconhecido pelas pinturas que faz e exposições que promove em várias cidades paulistas. Nascido em Pirassununga, SP, já morou em diferentes cidades e manteve por alguns anos um estúdio em Hortolândia, mas desde 2018 fixou residência em Campinas, onde mantém seu ateliê atual. Quando a pandemia o segurou em casa, pensou que era o momento certo para se aventurar por outras artes. Passou pelas esculturas de metal, de argila e chegou aos mosaicos. E gostou tanto que em meados de janeiro entregou um mural de 89 metros de comprimento por 2,87 de altura que pode ser visto por qualquer pessoa que passar pela Avenida Presidente Castelo Branco (altura do número 1230) em Vinhedo. E na segunda-feira (dia 29) ele começou um novo desafio: o de dar continuidade a essa montagem artística por mais 100 metros, no mesmo muro. A nova obra será entregue até o final do ano, promete.

A parte concluída já é considerada a maior do País, feita desta forma artesanal, pastilha por pastilha, com apenas um artista trabalhando e sem a ajuda de máquinas. E o mais interessante é que à medida que as pessoas vão passando, é possível ter uma aula da história do Brasil sob o foco da biodiversidade, por meio dos desenhos feitos com pastilhas de porcelana. "Comecei a desenhar um jatobá ao vento, depois fiz uma flor de Ipê amarelo - flor símbolo do Brasil - e uma helicônia vermelha - que é da mata Atlântica - seguida por um Uirapuru da cabeça vermelha, que é da Amazônia. Depois entrei com as borboletas brasileiras e passei para a parte histórica começando com as caravelas e uma árvore de pau-brasil. Depois inclui um sagui e um gato maracajá, as cobras, e passei pela cultura indígena, pulando em seguida para a cana-de-açúcar e o café. Com isso acho que consegui um bom conjunto da nossa história", afirma Elvis.

ENTRE PASTILHAS E TINTAS

Essa primeira etapa ele concluiu com 180 dias de trabalho, desenvolvidos de maneira espaçada pelo período de um ano e meio. Agora, começou uma outra parte do muro, que tem a extensão de 100 metros, na mesma avenida de Vinhedo, mas com outro foco histórico. "Vou voltar no tempo, porque pretendo contar a história das Américas no período pré-colombiano nesses novos desenhos", explica. Elvis, embora autodidata nas artes, conta que cursou a faculdade de História durante três anos porque é curioso e queria entender melhor alguns detalhes, conhecer a história e fatos contemporâneos, afirma. Ele diz que o novo mural poderia ser concluído em quatro meses se trabalhasse direto, entretanto o artista faz interrupções na obra para cuidar de outros trabalhos, por isso prevê cerca de oito meses para terminar.

Embora no momento esteja se dedicando aos murais de pastilhas, Elvis não abandonou a pintura. "Pinto cerca de cinco quadros por semana, sou bem produtivo", diz, revelando que desde criança brinca com cores, desenhos e tintas. Hoje predomina em seus quadros um estilo baseado em estudo do professor, pesquisador e pintor Israel Pedrosa (1926 -2016) que aprofundou seus estudos sobre a cor inexistente. "Uso contraste de cores, com tons cromáticos, cores de pigmento opaco combinadas, com uma técnica própria", conta. Quem quiser conhecer os quadros de Elvis poderá ver suas pinturas expostas em maio na Pinacoteca de Jundiaí e, em agosto, no salão de artes da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

CERÂMICAS DOADAS

Quando começou a praticar a colagem de mosaicos, Elvis sentiu no bolso o quanto essa arte é cara. "Para comprar em loja de artesanato as pastilhas fica muito caro, é quase inviável". E foi comentando sobre isso em uma loja de pisos quando passava por Vinhedo que recomendaram que ele procurasse a fábrica Jatobá Pastilhas, onde poderia comprar refugos mais em conta. "Eu nunca tinha ouvido falar dessa fábrica e descobri que ela tem 75 anos na cidade, e doa para artistas e escolas os descartes de pastilhas de porcelana com defeito. Fui buscar e saí de lá com minha carretinha cheia, nunca imaginei isso", comenta.

Com esta doação ele fez dois painéis na Escola Estadual Patriarca da Independência, onde já estudou em Vinhedo. Quando a empresa viu o resultado do seu trabalho, foi convidado a usar o muro que contorna a fábrica como base para sua arte. "Os mosaicos de porcelana duram milhares de ano, não estragam com a chuva ou o sol, por isso me entusiasmei em executar painéis tão longos e na rua. Porque assim as pessoas podem, além de contemplar a parte artística, também refletir sobre a história e sobre a importância da biodiversidade", afirma. As etapas desse novo mosaico do artista podem ser acompanhadas pelo Instagram @elvisdasilvaartistaplastico.

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