Eles reclamam da falta de providências da universidade
A professora Verônica Fabrini mostra o barracão abandonado e semi demolido, com muitos entulhos (Divulgação)
Desde que era aluna da primeira turma do curso de Artes da Universidade Estadual de Campinas, Verônica Fabrini observava que as estruturas das salas de aula e espaços de treino eram provisórias. O tempo passou, ela se tornou professora do curso, fez especializações, doutorado e, já próxima da aposentadoria, continua ouvindo queixas de alunos e demais professores de que a estrutura ainda continua provisória, inadequada e insatisfatória. Apesar da participação ativa em todas as comissões e discussões internas sobre os problemas que cercam a estrutura do Instituto de Artes, ela afirma que falta vontade política da instituição para implementar melhorias.
CURSO ITINERANTE
Como não há salas de aula suficientes para atender os cerca de 250 alunos da graduação (entre dança e teatro) e 120 mestrandos e doutorandos, eles e os professores são obrigados a correr pelo campus nos intervalos, para chegar até as salas emprestadas em outros institutos. Alguns alunos estão em salas reformadas na Engenharia Básica, outros no Centro de Memória, às vezes conseguem espaço na Comvest, outras na Casa do Lago, e até no prédio da Computação. "Ficamos indo e vindo, sem uma sala para receber os alunos ou para fazer pesquisa, e o que é pior: os alunos não se encontram, não convivem com as outras turmas do curso. Nos tornamos um curso itinerante, em casas emprestadas", declara o professor artista Marcelo Onofri. Angela Nolf, também professora, afirma: "estamos cansados de correr de um lado para o outro".
A maior demanda é por espaços adequados. O barracão adaptado conhecido por Paviartes, que abriga parte da estrutura dos cursos de dança e cênicas, tem problemas de climatização, por exemplo. Com energia elétrica adaptada ao prédio que antes era um barracão de guardar maquinário, não permite a instalação de ar-condicionado e os ventiladores, por excesso de uso, queimam com frequência. Os alunos que praticam dança e teatro são obrigados a permanecer em salas pequenas, abafadas, entulhadas de materiais, onde fazem um intenso esforço físico, em piso que não é próprio para a atividade e por isso as lesões também são comuns, atesta Mariana Lobo, aluna do 5º ano. Outro aluno, Guilherme Santos, acompanha a busca por mais espaço para os alunos desde o ano passado e tinha a expectativa de que o ano letivo começasse com mais espaços disponíveis em outras unidades, o que ainda não aconteceu.
OBRAS PARADAS
Veronica Fabrini explica que tanto como aluna, como coordenadora e como professora sempre participou "de todas as discussões e comissões internas para reivindicar melhorias. Todos os anos fazemos acompanhamentos e sempre chegamos à mesma conclusão: existe uma estratégia de não visibilidade e a burocracia vira uma desculpa para a falta de vontade política". Essa afirmação é feita diante, por exemplo, da situação do barracão que ficava atrás do Paviartes, que foi demolido para a construção de novas salas em 2018 e a obra até hoje não foi iniciada. No local já houve invasão de escorpiões, há materiais abandonados, água parada e muitos mosquitos.
A reitoria foi questionada e enviou uma nota onde argumenta que "a obra foi iniciada por duas vezes com empresas que não cumpriram com as obrigações contratuais. Os recursos orçamentários para a conclusão da obra estão garantidos e a nova licitação está prevista para ser publicada no mês de abril". O projeto original prevê a construção de um dos pavilhões já demolido, a reforma do outro, e a área central de interligação entre eles. Não foi informado o prazo para a obra.
Prédio do teatro que começou a ser construído há quase dez anos (Divulgação)
ARTES CÊNICAS SEM TEATRO
Outro assunto que se arrasta é a construção de um teatro para possibilitar apresentações ao público e aproximar a comunidade por meio das artes. Hoje, a sala que recebe pequenos públicos é a mesma sala de exercícios, que tem materiais empilhados pelos cantos, não é climatizada e nem tem acústica adequada. Os professores explicam que o encontro com a plateia faz parte da pedagogia do curso, por isso um teatro é necessário. Ele chegou a ser iniciado em 2003, mas a obra foi cercada de problemas, desde o local da construção - em cima de um lençol freático que provoca intensa umidade - até a falta de pilares de sustentação. A obra abandonada apresenta rachaduras, umidade, está pixada e depredada.
Em nota, a reitoria explica que "a obra do Teatro teve início em 2011 e foi paralisada em 2015. Até 2022, enquanto ainda não havia perspectivas de recursos para o término da obra, a Unicamp trabalhou em soluções estruturais para o prédio, como o reforço da estrutura, a colocação de um sistema de drenagem e a obra de cobertura. Com a melhora nos investimentos de infraestrutura, em 2023 os projetos complementares estão em fase de desenvolvimento com as empresas contratadas". A instituição diz que a obra será finalizada, mas não dá prazos e nem indica como serão feitos os projetos (elétricas, hidráulicas, de climatização, acabamentos, urbanização do entorno, cenotecnia, acústica e áudio e vídeo) que antecedem a contratação da obra de finalização.
INFRAESTRUTURA X DEDICAÇÃO
Embora sem a infraestrutura adequada e convivendo em um ambiente deteriorado, os professores argumentam que se dedicam para que os alunos tenham uma formação diferenciada. Os professores desenvolvem pesquisas - mesmo sem salas ou laboratórios físicos para isso -, assumem responsabilidade e se esforçam para manter os cursos em um nível de qualidade elevado. "Mas o descaso nos entristece. É um desrespeito aos professores que são comprometidos com a arte, mas não abrimos mão dos alunos, da pedagogia, da prática. Queremos o apoio e o respeito da instituição", diz Verônica. O professor Marcelo Onofri também questiona "qual a relevância do curso de artes para universidade"? .
A Reitoria de Pós Graduação relatou que "o Edital Alegra 2022, dedicado a revitalização de espaços e laboratórios para a graduação concedeu R$ 166.660,00 ao IA. A unidade, contudo, fez uso de apenas R$ 94.925,25. O Edital Alegra 2024 encontra-se aberto e contamos com as propostas da unidade para, novamente, oferecer os recursos necessários para a melhoria das atividades de ensino". Os professores argumentam que "não faz sentido pedir material para laboratórios que fisicamente não existem, pois falta o básico. São materiais caros, que deterioram se não forem guardados adequadamente. Como vamos comprar arquibancadas se não temos uma sala de teatro e as que existem estão entulhadas nas salas de aula? Podíamos trocar nosso acervo de figurinos, mas onde eles serão guardados? Como revitalizar um espaço morto? Pedir equipamentos para um espaço inexistente?", comenta Verônica.
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