CINEMA

Alguns dos melhores filmes da Mostra de SP

Longa do Cazaquistão, 'Lições de Harmonia', ganhador de Berlim, é o grande destaque até agora

João Nunes/Especial para o Correio
23/10/2013 às 16:53.
Atualizado em 26/04/2022 às 06:51
Cena do filme 'Lições de Harmonia', de Emir Baigazin ( Divulgação)

Cena do filme 'Lições de Harmonia', de Emir Baigazin ( Divulgação)

Depois de quatro dias na 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que acontece na Capital até o dia 31, já se pode começar a selecionar aqueles que entrarão na listas dos melhores. Claro, visão muito particular, pois é impossível ver parte significativa que seja dos 377 filmes do evento. Começo por 'Las Analfabetas', de Moisés Sepúlveda, baseada numa peça de teatro homônima e encenada por dois anos no Chile com as mesmas atrizes que estão no filme: Paulina Garcia e Valentina Muhr. Portanto, elas estão afinadíssimas. A primeira (espetacular) vive a mulher que não sabe ler e, a segunda, a professora.Logo no primeiro dia, vi um filme encantador: 'A Bela Vida', do francês Jean Denizot. Guarde este título. Trata-se de um longa convencional enquanto linguagem, mas que sabe contar bem uma história. Um cigano e os dois filhos (16 e 18 anos) vivem na zona rural cuidando de animais. Na verdade, se escondem porque sobre o pai pesa a acusação de ter raptado as crianças da mãe deles – ex-mulher. O belo Zacarie Chasseriaud vive Frank, o adolescente protagonista. Depois de uma briga do irmão no povoado, este some; Frank e o pai são obrigados a desaparecer do lugar e viver num barco. Lá, Frank conhecerá uma garota e viverão uma linda história de amor adolescente.'A Montanha de Matterhornm', do holandês Diederik Ebbinge, surge como grata surpresa. Trata-se de uma comédia, porém, foge completamente ao estereótipo da comédia. Sim, há o absurdo, mas o registro é usado para compor a história, pois esta tem elementos bem mais complexos e sérios. Um viúvo sistemático, reservado e duro encontra um homem com problemas mentais. Como bom protestante, ele o acolhe. O homem vai mudar a vida do viúvo e desconstruir a rotina dele a ponto de ele romper com os princípios protestantes – ele fiel frequentador da igreja e fã de Bach. Aliás, a trilha é composta quase toda ela com as músicas do compositor alemão.O melhor, entretanto, até agora, vem do Cazaquistão: 'Lições de Harmonia', de Emir Baigazin, ganhador do Urso de Prata em Berlim, em fevereiro. O adolescente Aslan estuda em um vilarejo marcado pela violência. Um dos responsáveis o valente Bolat, que, a partir de determinado episódio, começa a troçar de Aslan – além de extorquir dinheiro dos colegas, entregue a alunos veteranos.Nesse universo de corrupção, violência e bullying, Aslan decide agir por conta própria e encarar Bolat. Só que ele é frágil, calado e vítima. Há um leve tom de humor na maneira como ele se prepara para enfrentar o inimigo, porém, o contexto do filme sugere violência e tensão. Rigoroso na narrativa e na linguagem, Baigazin consegue o envolvimento do espectador porque foge do hermetismo. Tudo está muito claro, ainda que a história soe bizarra. No fundo, o espectador segue um pouco a lógica de Aslan: diante da impotência, por que não remover os obstáculos à própria maneira?

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