Adriana Esteves não tem medo de "fantasmas". Logo que as primeiras chamadas de Segundo Sol foram exibidas, lembrar de Carminha, foi inevitável
Atriz encara o desafio de dar vida a mais uma vilã escrita por João Emanuel Carneiro e afirma que conhece várias como ela (Divulgação)
Adriana Esteves não tem medo de “fantasmas”. Logo que as primeiras chamadas de Segundo Sol foram exibidas, lembrar de Carminha, sua última personagem de grande repercussão na televisão, foi inevitável. Em um primeiro momento, as semelhanças com Laureta, papel interpretado pela atriz na atual trama das 21 horas, podem até saltar aos olhos. Afinal, são duas vilãs louras e espalhafatosas escritas por João Emanuel Carneiro. Mas nem de longe Adriana se deixa influenciar pela pressão de superar o êxito que alcançou em Avenida Brasil. “Não existe fórmula de sucesso. Se existisse, quem fez um sucesso faria vários. O que me move para aceitar um trabalho é a afinidade artística”, pontua. Desde que estreou na tevê, como apresentadora do programa Evidências, exibido pela Band em 1988, Adriana acumulou personagens de destaque. Entre eles, as protagonistas Marina de Pedra Sobre Pedra, Helena de A Indomada e Catarina de O Cravo e A Rosa. Ao longo das três décadas de trabalho, a atriz elege a Carminha de Avenida Brasil como um marco em sua trajetória. Mas não se prende ao passado e está sempre em busca de novas parcerias profissionais. “Fiz aliança com várias pessoas e me orgulho disso. Com o José Luiz Villamarim também aconteceu isso. Depois de um trabalho que fiz com ele, fiz vários outros”, lembra ela, que foi dirigida por Villamarim em Avenida Brasil e depois na série Justiça. Quando um personagem cai nas graças do público, as redes sociais logo “denunciam” o sucesso. Até mesmo quando a novela já terminou há tempos. É o caso da Carminha, de Avenida Brasil, exibida em 2012. Volta e meia, alguém posta fotos ou comentários sobre a vilã, que voltou a aparecer na internet com mais força com o teaser e as chamadas de Segundo Sol em que a atriz aparece. “O que bombou nesse teaser foi o texto certeiro do João. Ele sabe o texto que vai botar na boca de cada personagem. Mas não tenho medo de comparação nenhuma”, afirma. Adriana Esteves transita facilmente entre o humor e o drama. Ultimamente, no entanto, é o último gênero que tem sido mais frequente em seus trabalhos. Antes de Segundo Sol, a atriz esteve envolvida com as gravações de Assédio, nova série da Globo inspirada nos crimes do médico Roger Abdelmassih. Na história, ela será uma das vítimas de abuso do especialista em reprodução assistida. “Eu amo fazer comédia, novela e série, mas amo fazer um trabalho mais pesado também. E esse foi um trabalho difícil porque contamos uma história verídica”, avalia. A série, baseada no livro A Clínica — A Farsa e Os Crimes de Roger Abdelmassih e ainda sem data de estreia definida, marcou também o reencontro entre Adriana e a diretora Amora Mautner, com quem trabalhou em Avenida Brasil. Laureta é a grande vilã de Segundo Sol. Existem características da personagem que ajudam você a humanizá-la? Muita coisa. Laureta é uma mulher guerreira com um passado misterioso, que se emociona, tem suas dores e sofrimentos. Mulher nunca é simples. Toda a humanidade que procuro nessa personagem, e penso que está sendo escrita assim pelo João Emanuel Carneiro, está no fato de ser uma mulher com uma série de conflitos e questões. A minha preocupação não é fazer as vilanias de Laureta, mas sim contar a história dessa mulher e o que ela sente em relação a uma série de coisas que são abordadas na novela. Você se preocupa com possíveis comparações com a Carminha, que você interpretou em Avenida Brasil? Não. Acho que as pessoas podem comparar, mas eu não tenho de ter essa preocupação. Comparação é inevitável, mas ao mesmo tempo, para mim, Laureta é tão diferente porque é uma outra mulher, em uma outra época, com uma outra história. Eu não me preocupo em fazer tudo diferente porque ela é naturalmente diferente. Eu não posso trabalhar com medo. Eu tenho de trabalhar com coragem, com criatividade e com alegria. Estar aberta ao novo. São novos personagens e atores diferentes. Vamos fazer esse trabalho artesanalmente, aos poucos. Na história, Laureta é uma promoter que usa o trabalho como fachada para agenciar meninas. Você se inspirou em alguém para criar a personagem? Conheço muitas Lauretas. Só que nunca, nem que eu seja amarrada, vou contar quem são. Porque minhas inspirações são todas em segredo. Copio todas elas. Quanto mais louca, mais eu copio. Copio uma coisa de cada uma e vou fazendo meu mosaico. Laureta tem alguma ligação com a comédia? Tem, sim. Mas a minha personagem é tão parte da cultura brasileira que fica interativa. Ainda mais hoje em dia, com a internet. O rumo das personagens é dado pelo público. Aí então é que a gente vai ter de ver como ela fica. Em Segundo Sol, você volta a trabalhar com seu marido, Vladimir Brichta. Quais são as vantagens desse encontro profissional? Eu não sei o que é melhor, se é poder desfrutar do grande ator que ele é ou poder também desfrutar da companhia dele. Vamos estar muito mais juntos do que já ficamos. Vamos estar com as mesmas pessoas, nos encontrando nos mesmos lugares, fazendo as mesmas viagens. Isso é uma coisa muito especial para mim. Mas vocês costumam conversar sobre o trabalho em casa? Conversamos muito. Agora, então, fazendo a mesma novela, não tem como a gente não conversar. Tudo que vemos em casa serve de inspiração para a novela, assim como tudo o que lemos e os encontros que temos. Estou com o Vladimir há 14 anos e agora deu uma sensação muito gostosa por podermos ser criativos juntos. A criatividade de um alimenta a do outro. Aliás, sua personagem é baiana assim como o Vladimir. Ele ajudou você a encontrar o tom do sotaque em cena? Não só o marido é baiano, mas a família toda. Estou sempre com a minha sogra, que mora em Itacaré. Meus cunhados não moram na Bahia, mas são baianos. A personagem tem um sotaque que eu consegui ter, não é forte. A equipe também tem pessoas que são da Bahia. Mas, independentemente de qualquer coisa, isso é uma busca, para contar uma história, uma delicadeza a mais. O importante é mostrar a delícia do povo baiano, como o povo é solar, como é a dança. Não é preciso ser fiel a sotaque. João Emanuel Carneiro é o autor de uma das personagens mais marcantes de sua carreira, a Carminha de Avenida Brasil. Como você avalia esse reencontro com o texto dele em Segundo Sol? Fico muito feliz porque tenho admiração pelo João por como ele escreve novela. Eu tenho 30 anos de profissão e Avenida Brasil foi uma das coisas mais sensacionais da minha trajetória. Agora, o texto de Segundo Sol só reafirma o mestre que ele é. O João cria histórias de vilões muito inteligentes, por isso eu acho que ele cria grandes vilões. O desafio é corresponder à inteligência dele. Interpretar a vilã de uma novela do horário nobre da Globo significa ter uma rotina intensa de trabalho por cerca de um ano. Quais são seus cuidados com a saúde para dar conta do ritmo que a personagem exige? Eu sou muito cuidadosa. Quando estou trabalhando, cuido do meu corpo e me sinto uma atleta. Também cuido quando não estou trabalhando, claro. A gente tem de ter fôlego para trabalhar tantos dias, tantas horas e para decorar tanto texto. Eu tomo cuidado com meu sono, tomo conta da minha dieta e faço exercício físico. Meu corpo tem de estar preparado para a minha mente poder ter paz e corresponder ao volume de trabalho.