Compositora já lançou 'Marítimo', em 1998; depois 'Maré', em 2008; e agora, 'Margem'
O fascínio pelo mar já inspirou grandes obras, sejam elas literárias, poéticas, visuais ou musicais. Na história da música brasileira, por exemplo, Dorival Caymmi talvez tenha sido o compositor que melhor traduziu essa relação/ligação do homem com o mar, com seu emblemático repertório de "canções praieiras" um cancioneiro que remete a esse universo de forma literal, imagética ou mesmo trágica. "É doce morrer no mar/ Nas ondas verdes do mar/ É doce morrer no mar/ Nas ondas verdes do mar", diz uma de suas canções mais famosas. Esse encantamento também arrebatou Adriana Calcanhotto. E não é de hoje. A ponto de dar origem a uma trilogia de álbuns sobre o mar, iniciada há 20 anos, com 'Marítimo', que foi lançado em 1998; depois 'Maré', em 2008; e agora, 'Margem', que acaba de chegar às plataformas digitais, e encerra a trilogia. É como se essa narrativa se impusesse à cantora, sem que fosse planejada. "Quando lancei o primeiro álbum, eu não tinha ideia de trilogia. Só quando eu tive vontade de fazer o segundo, foi que resolvi fazer esse terceiro", conta a compositora, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, por telefone, do Rio - cidade em que vive quando não está em Coimbra, em Portugal, onde ministra curso sobre como escrever canções. A relação da cantora e compositora vai muito além do simples gostar do mar. É mais profunda. "Tem várias camadas disso. Tem o mar físico, aquele barulho, uma coisa muito poderosa que sempre me impactou muito. E tem o mar literário, as citações, desde Odisseia, em que se cita os mistérios do mar, o mar como metáfora da condição humana. E agora também essa outra camada com que se lida o tempo todo, que é o que a gente está fazendo com o mar, o estado em que os oceanos se encontram. É uma ação do homem acabando com o próprio hábitat. Isso é uma coisa chocante, não dá para não tocar nesse assunto fazendo um disco sobre o mar agora", diz Adriana. A foto da capa do disco 'Margem', de autoria de Murilo Alvesso, inclusive, vem carregada de simbolismos. Esteticamente, é uma bela imagem. Mas ali é Adriana dentro d’água rodeada por garrafas de plástico. Uma referência ao lixo jogado nos nossos rios, mares, oceanos, poluindo-os, sufocando-os. "Eu não vou à praia, não é esse litoral, e não é só o litoral que me interessa Gosto de alto-mar, me sinto bem no mar, embarcada ou não." Mas a questão ambiental ganha um peso ainda maior para ela ao voltar ao tema. "É uma coisa que está mais na minha cabeça."