O tempo é um aliado de Gabriela Duarte. Afinal, os eternos traços de menina e o jeito delicado sempre colocaram a atriz em papéis joviais e suaves
Sempre sob os holofotes por conta da eterna namoradinha, sua mãe Regina Duarte, Gabriela experimentou o anonimato quando morou nos EUA (Divulgação)
O tempo é um aliado de Gabriela Duarte. Afinal, os eternos traços de menina e o jeito delicado sempre colocaram a atriz em papéis joviais e suaves. Após um período de dois anos morando em Nova Iorque, ela volta ao Brasil e ao vídeo pronta para reverter esse estereótipo das mocinhas delicadas e mimadas. No ar em Orgulho & Paixão como a austera e amargurada Julieta, ela ganhou um filho adulto em cena e uma mecha branca no cabelo. O tipo a surpreendeu completamente. “Quando eu conheci a Julieta, fiquei encantada e grata pela oportunidade. É uma personagem totalmente diferente do que já fiz. O ator sempre fala que é um desafio, mas esse papel é realmente algo novo para mim. É uma mulher que não tem nada a ver comigo fisicamente. Ela tem uma alma pesada, a voz diferente, uma outra personalidade”, explica a atriz, que volta a trabalhar com o autor Marcos Bernstein e o diretor Fred Mayrink. “Adoro os dois. Não precisaria nem saber como era a Julieta para aceitar o convite”, completa. Natural de Campinas, São Paulo, Gabriela conheceu a carreira artística ainda dentro de casa. Filha da também atriz Regina Duarte, ela estreou na profissão no filme O Cangaceiro Trapalhão, de 1983. Na tevê, o seu primeiro papel foi na minissérie Colônia Cecília e, logo depois, esteve em Top Model. Mas a grande visibilidade profissional veio mesmo durante a dramática Por Amor, de Manoel Carlos. Apesar da presença esporádica no vídeo, ela já participou de produções, como Chiquinha Gonzaga, Esperança, Sete Pecados e Passione. “Eu cresci sendo uma pessoa conhecida. Tudo começou muito cedo para mim. Até quando eu não era atriz ainda, as pessoas já me reconheciam por conta da profissão da minha mãe. Vivi a fama através da carreira dela”, lembra. Outra rotina Durante o período em que esteve morando em Nova Iorque, Gabriela Duarte experimentou o inédito anonimato. Porém, apesar de estar bem longe do Brasil e da repercussão das novelas brasileiras, a atriz era constantemente reconhecida nas ruas por russos e dominicanos pelo trabalho em Por Amor, em que viveu a mimada Eduarda. “Era muito legal. Os russos eram basicamente por conta de Por Amor. Acho que a novela já passou umas 15 vezes lá. Mas os dominicanos iam bem além. Eles amam as novelas brasileiras”, explica. Acostumada a estar sob os holofotes desde cedo, a atriz garante que a mudança para os Estados Unidos não tinha a ver com uma busca por privacidade. O assédio nunca foi uma questão problemática para ela, que, inclusive, não deixou de fazer nada por conta da fama. “Ser fotografada na rua, por exemplo, nunca me incomodou. Independentemente de eu ser famosa, estar no ar ou não, nunca me privei de nada. Faz parte da minha ideologia. Não sou diferente de ninguém. Quero que as pessoas vejam o meu ofício, o meu trabalho”, afirma. Tal mãe, tal filha Ao longo dos seus anos de carreira, Gabriela Duarte se acostumou com as constantes comparações físicas e profissionais com a mãe. Driblando ao máximo que pôde as semelhanças, a atriz hoje acredita estar em um processo de maturidade interessante ao lado da mãe. “Muita gente diz que, com a idade, estamos ficando mais parecidas. Eu não consigo ver isso. Mas acho que estamos em um ponto de maturidade interessante e encontrando um equilíbrio. Ela está muito conservada e eu estou envelhecendo bem”, aponta. Antes de voltar ao ar com Orgulho & Paixão, Gabriela pôde conferir o trabalho de Regina Duarte em Tempo de Amar, antecessora do folhetim escrito por Marcos Bernstein. Quando começou a gravar a atual novela das seis, a atriz estava em constante contato com a mãe no Rio. “Foi uma espécie de passagem de bastão, mas não só meu e sim de todo mundo, como equipe, direção e elenco. Mas é uma coincidência familiar gostosa. Agora ela já voltou para São Paulo, onde mora também.” Na história, Julieta, que é considerada a Rainha do Café, é uma empresária de pulso forte e muito moderna para o tempo retratado. Apesar de ser tratar de uma novela de época, você acredita que a personagem tenha uma temática feminista? Sim. Acho importantíssimo esse contexto histórico e social. É uma novela que aborda assuntos densos e importantes para o crescimento da sociedade. Essa novela fala sobre a luta da mulher brigando por espaço, igualdade e indo contra o patriarcado. É inspirador até porque são situações bastante atuais. A Julieta, por exemplo, é uma mulher independente, que vai em busca do que quer e que não precisa de um homem para ter sucesso nos negócios. Todo mundo pensa que ela é uma herdeira, mas, na verdade, ela pegou os negócios do falecido marido, saldou as dívidas e transformou em algo lucrativo. Ao longo da carreira, você teve alguns bons projetos cômicos, como a Jéssica de Passione e sua participação no humorístico Junto & Misturado. Você procura colocar um pouco de humor na Julieta? Sim, acho que há espaço para um lado mais irônico e mais sarcástico. A Julieta é uma mulher sem paciência para as coisas pequenas do dia a dia. O único grande obstáculo na vida dela é o amor. Esse sentimento pelo Aurélio (Marcelo Faria) é capaz de tirá-la do rumo. A Julieta conta com o auxílio da venenosa Susana (Alessandra Negrini) nos negócios. Como funciona a relação entre as personagens? Ela tem na Susana a grande aliada para executar seus planos. Ela é a cabeça dos planos e a Susana a executora. Uma dupla que não mede esforços para conseguir o que quer. No entanto, ela fecha os olhos e não quer saber como a Susana executa as ordens que ela dá. Você mora em São Paulo e grava no Rio de Janeiro. De que forma essa rotina de ponte aérea interfere no seu trabalho? É bem mais desgastante, né? É um ano totalmente sem rotina. Durante esse período, eu esqueço o significado da palavra rotina. Não tenho gravado todos os dias, mas isso depende muito. Novela é algo que muda muito. Uma semana você grava mais e outra menos. É necessário estar aberta para absorver o que vier. Mas também já estou acostumada. Sempre morei em São Paulo, tirando um período da adolescência e quando fazia Top Model. Como foi o seu período de construção da personagem? Precisei ir em busca de muitos caminhos para entender a Julieta porque ela tem uma personalidade totalmente diferente da minha. Me interesso muito por esse período de pesquisa e gosto de mergulhar na época e nos costumes. Sou muito estudiosa. Acho que a minha profissão me ajuda a entender aspectos da humanidade. Quando fiz Chiquinha Gonzaga, por exemplo, fui entender aquela época e aprender a tocar piano. Não que eu tenha virado uma pianista, mas fui entender os fundamentos, precisava ter familiaridade. Esse lado antropológico e essa capacidade de se transformar são pontos muito interessantes da profissão. É sempre um prazer fazer novela de época. Por quê? É um tipo de trabalho muito gostoso de se envolver. É um figurino lindo, mas pesado. Porém, não é tão divertido como o da Justine, de Esperança, que era uma prostituta. Mas gosto muito do contexto histórico, falar do que passou e entender um pouco da nossa história. O personagem do Ary Fontoura, por exemplo, é um dos mais interessantes. É um barão da época do café que foi condecorado pelo imperador. Tudo isso existiu realmente. Você morou por dois anos em Nova Iorque com seu marido e filhos. Durante o tempo em que esteve fora, não decidiu investir no mercado internacional? Não, porque ficar lá nunca foi uma opção. Quando saí daqui, sabia que seria uma experiência com começo, meio e fim. Foi um período bem tranquilo da minha vida e curti muito. Enquanto estava lá também não ficava pensando no que me prendia aqui. Não me senti longe de ninguém e voltava com certa frequência ao Brasil também. Ao longo dos anos, você sempre foi bastante comparada com a sua mãe no vídeo. Esse tipo de comparação chegou a incomodar de alguma forma? Ela sempre foi uma referência e me ensinou muito em vários aspectos, mas principalmente a ser pé no chão. Não importa quem você é, somos todos iguais. A vida é muito rápida. Às vezes, você está em um lugar e outra hora em outro. Esse senso de transição dá uma noção de simplicidade e evita pensamentos megalomaníacos. INSTANTÂNEAS Por duas vezes, Gabriela dividiu um papel com a mãe. Primeiro na minissérie Chiquinha Gonzaga e, 17 anos depois, na novela A Lei do Amor. Mesmo antes das redes sociais, a personagem de Gabriela em Por Amor já despertava a rejeição na internet. Durante a novela, foi criado o site “Eu Odeio a Eduarda”, no qual haters pediam a morte da personagem ao autor Manoel Carlos. No “remake” de Irmãos Coragem, que foi ao ar em 1995, a atriz interpretou Ritinha, a mesma personagem de sua mãe Regina Duarte, na primeira versão. Durante o período em que esteve morando nos Estados Unidos, Gabriela fez uma participação relâmpago na primeira fase de A Lei do Amor.